A disciplina de bioquímica para o curso de nutrição: uma proposta de desenvolvimento de currículo por Andre Amaral Gonçalves Bianco - Versão HTML
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1
SU
S
MÁRIO
I
SUMÁRIO ....................................................................................................................... 1
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 5
1.1. Ensino de Bioquímica - indicações das opiniões dos alunos .................................. 6
1.2. Delimitação do estudo - escolha do curso ............................................................... 7
1.3. Distribuição dos cursos de Nutrição pelo Estado de São Paulo .............................. 9
1.4. Inserção da Bioquímica na grade curricular do curso de Nutrição da Faculdade de
Saúde Pública da USP ........................................................................................... 12
1.5. Levantamentos preliminares.................................................................................. 13
1.5.1. Entrevistas com alunos ................................................................................... 14
1.5.2. Entrevistas com professores de disciplinas para as quais a Bioquímica é pré-
requisito .................................................................................................................... 19
1.5.3. Entrevistas com profissionais da Nutrição ..................................................... 21
1.6. Crescimento exponencial da informação............................................................... 25
1.7. Diretrizes para o Ensino Superior.......................................................................... 27
1.7.1. Diretrizes da UNESCO................................................................................... 27
1.7.2. Diretrizes do Ministério da Educação ............................................................ 28
1.8. Formação dos alunos do curso de Nutrição........................................................... 32
1.8.1. Desempenho dos ingressantes nas provas de Química, Biologia e Física da
FUVEST ................................................................................................................... 32
1.9. Escolha da seqüência do curso .............................................................................. 37
1.10. Linguagem adotada ............................................................................................. 40
1.11. Recursos tecnológicos ......................................................................................... 41
1.12. Método aplicado .................................................................................................. 42
1.13. Aprendizagem colaborativa................................................................................. 43
1.14. Aprendizagem significativa................................................................................. 45
1.15. Propedêutica ao trabalho científico ..................................................................... 50
1.16. Referencial teórico............................................................................................... 51
1.17. Vygotsky.............................................................................................................. 53
1.17.1. Principais idéias............................................................................................ 55
1.18. Excertos de Filosofia da Ciência ......................................................................... 60
1.18.1. Indutivismo................................................................................................... 62
1.18.2. Falsificacionismo.......................................................................................... 63
1.18.3. Programa de pesquisa de Lakatos................................................................. 65
1.18.4. Os paradigmas de Kuhn................................................................................ 66
1.18.5. Teoria anarquista do conhecimento de Feyerabend ..................................... 67
OBJETIVOS................................................................................................................. 69
2.1. Objetivos do currículo das disciplinas Química de Biomoléculas e Bioquímica:. 70
2.2. As atividades da propedêutica ao trabalho científico procuraram: ....................... 70
MÉTODOS .................................................................................................................... 72
3.1. Química de Biomoléculas e Bioquímica ............................................................... 73
3.1.1. Fase preparatória............................................................................................. 74
3.2. Estratégias aplicadas nas disciplinas do projeto .................................................... 75
2
3.3. Período de Estudos ................................................................................................ 76
3.4. Grupo de Discussão ............................................................................................... 79
3.5. Estrutura da disciplina Química de Biomoléculas................................................. 80
3.6. Estrutura da disciplina Bioquímica ....................................................................... 80
3.7. Estratégias adotadas para relacionar o conteúdo das aulas de Bioquímica à área de
interesse dos alunos: a Nutrição ............................................................................ 81
3.8. Propedêutica ao Trabalho Científico ..................................................................... 90
3.8.1. Análise de Trabalhos Científicos em Nutrição............................................... 90
3.8.1.1. Atividade 1 da Análise de Trabalhos Científicos em Nutrição ............... 90
3.8.1.2. Atividade 2 da Análise de Trabalhos Científicos em Nutrição ............... 94
3.8.2. Projetos de Pesquisa em Nutrição .................................................................. 95
3.8.2.1. Apresentação ........................................................................................... 96
3.8.2.2. Entrega e discussão do tema e das questões ............................................ 96
3.8.2.3. Revisão bibliográfica em sites especializados......................................... 97
3.8.2.4. Discussão da metodologia apresentada ................................................... 98
3.8.2.5. Agências de fomento ............................................................................... 98
3.8.2.6. Entrega do pré-projeto ............................................................................. 98
3.8.2.7. Apresentação oral do pré-projeto ............................................................ 98
3.8.2.8. Entrega do projeto ................................................................................... 99
3.9. Avaliação ............................................................................................................... 99
3.9.1. Avaliações da disciplina Química de Biomoléculas ...................................... 99
3.9.2. Avaliações da disciplina Bioquímica ........................................................... 101
3.10. Coleta de dados.................................................................................................. 103
3.10.1. Medida de atitudes - Técnica de Likert ...................................................... 103
3.10.1.1. O questionário ..................................................................................... 105
3.11. Pesquisa qualitativa ........................................................................................... 106
3.11.1. Tipos de entrevistas .................................................................................... 108
3.11.2. Entrevistas com alunos ............................................................................... 109
3.11.3. Conselhos dos alunos ................................................................................. 116
RESULTADOS......................................................................................................... 118
4.1. Desempenho dos alunos na disciplina Química de Biomoléculas, ano de 2003. 119
4.1.1. Matutino ....................................................................................................... 119
4.1.2 Noturno.......................................................................................................... 120
4.2. Avaliação da disciplina Química de Biomoléculas ............................................. 122
4.2.1. Matutino ....................................................................................................... 122
4.2.2. Noturno......................................................................................................... 126
4.3. Desempenho dos alunos na disciplina Química de Biomoléculas, ano 2004...... 130
4.3.1. Diurno........................................................................................................... 130
4.3.2. Noturno......................................................................................................... 131
4.4. Avaliação da disciplina Química de Biomoléculas ............................................. 133
4.4.1. Matutino ....................................................................................................... 133
4.4.2. Noturno......................................................................................................... 136
4.5. Avaliação institucional das disciplinas................................................................ 140
4.5.1. Matutino ....................................................................................................... 142
4.5.2. Noturno......................................................................................................... 143
4.6. Desempenho dos alunos na disciplina Química de Biomoléculas, ano de 2005. 146
4.6.1. Matutino ....................................................................................................... 146
3
4.7. Avaliação da disciplina Química de Biomoléculas ............................................. 147
4.8. Avaliação institucional da disciplina Química de Biomoléculas ........................ 150
4.9. Desempenho dos alunos na disciplina Bioquímica, ano de 2003........................ 152
4.10. Avaliação da disciplina Bioquímica .................................................................. 153
4.11. Avaliação da disciplina Bioquímica; Conselhos ............................................... 158
4.12. Desempenho dos alunos na disciplina Bioquímica, ano de 2004...................... 161
4.12.1. Primeira Avaliação Somativa da disciplina Bioquímica ............................ 161
4.12.2. Primeira Avaliação Somativa da disciplina Bioquímica, sala A ................ 161
4.12.3. Primeira avaliação somativa da disciplina Bioquímica, sala B .................. 162
4.12.4. Segunda avaliação somativa da disciplina Bioquímica.............................. 162
4.13. Desempenho médio dos alunos nas “provinhas” da disciplina Bioquímica...... 163
4.14. Avaliação somativa da atividade Projetos de Pesquisa em Nutrição ................ 163
4.15. Médias finais na disciplina Bioquímica ............................................................ 164
4.16. Avaliação da disciplina Bioquímica .................................................................. 164
4.17. Avaliação institucional da disciplina Bioquímica ............................................. 167
4.18. Desempenho dos alunos na disciplina Bioquímica, ano de 2005...................... 170
4.18.1. Matutino ..................................................................................................... 170
4.19. Avaliação da disciplina Bioquímica .................................................................. 172
4.20. Avaliação institucional da disciplina Bioquímica ............................................. 175
4.21. Propedêutica ao Trabalho Científico ................................................................. 177
4.21.1. Análise de artigos científicos em Nutrição................................................. 178
4.21.1.1. Atividade 1 .......................................................................................... 180
4.21.1.2. Atividade 2 .......................................................................................... 183
4.21.1.3. Atividade 3 .......................................................................................... 184
4.21.1.4. Atividade 4 .......................................................................................... 184
4.21.2. Projetos de pesquisa em Nutrição............................................................... 187
4.21.2.1. Entrega e discussão do tema e das questões ........................................ 188
4.21.2.2. Revisão bibliográfica em sites especializados..................................... 195
4.21.2.3. Discussão do método apresentado....................................................... 200
4.21.2.4. Agências de fomento ........................................................................... 205
4.21.2.5. Pré-projeto ........................................................................................... 208
4.21.2.6. Projeto.................................................................................................. 211
4.22. Análise de Artigos Científicos em Nutrição, ano 2003 ..................................... 212
4.22.1. Avaliação da atividade Análise de Artigos Científicos em Nutrição ......... 212
4.23. Análise das respostas da atividade Análise de Artigos Científicos em Nutrição
............................................................................................................................. 216
4.24. Análise de Artigos Científicos em Nutrição, ano 2004 ..................................... 218
4.24.1. Avaliação da atividade Análise de Trabalhos Científicos em Nutrição ..... 218
4.24.1.1. Matutino .............................................................................................. 218
4.24.1.2. Noturno................................................................................................ 220
4.25. Avaliação geral da atividade Análise de Artigos Científicos em Nutrição ....... 220
4.25.1. Matutino ..................................................................................................... 221
4.25.2. Noturno....................................................................................................... 221
4.26. Análise de artigos científicos em Nutrição, ano 2005 ....................................... 222
4.26.1. Avaliação da atividade Análise de Trabalhos Científicos em Nutrição ..... 222
4.27. Avaliação geral da atividade Análise de Artigos Científicos em Nutrição ....... 223
4
4.28. Avaliação da continuidade da atividade Análise de Artigos Científicos em
Nutrição ............................................................................................................... 224
4.29. Projetos de Pesquisa em Nutrição, ano 2004..................................................... 225
4.29.1. Avaliação geral da atividade Projetos de Pesquisa em Nutrição................ 225
4.30. Projetos Científicos em Nutrição, ano 2005...................................................... 226
4.30.1. Avaliação geral da atividade Projetos de Pesquisa em Nutrição................ 226
Discussão .............................................................................................................. 229
5.1. Atendimento às propostas preliminares............................................................... 230
5.2. Estudo de caso ..................................................................................................... 230
5.3. Ensino em pequenos grupos ................................................................................ 233
5.4. Problematização .................................................................................................. 236
5.5. Discussão dos resultados ..................................................................................... 237
5.6. Disciplinas do curso de Bioquímica .................................................................... 238
5.7. Avaliação ............................................................................................................. 242
5.7.1. Avaliação do desempenho nas atividades de Propedêutica ao Trabalho
Científico ................................................................................................................ 243
5.7.2. Avaliação das disciplinas do curso de Bioquímica e da atividade Propedêutica
ao Trabalho Científico ............................................................................................ 244
5.8. Química de Biomoléculas.................................................................................... 244
5.9. Bioquímica .......................................................................................................... 245
5.10. Propedêutica ao Trabalho Científico ................................................................. 246
5.10.1. Atuação dos monitores ............................................................................... 248
5.10.2. Apresentações orais dos artigos científicos ................................................ 251
5.10.3. Projetos de Pesquisa em Nutrição .............................................................. 252
Conclusões ......................................................................................................... 253
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 256
Anexos ...................................................................................................................... 277
ANEXO 1 ........................................................................................................................... 278
ANEXO 2 ........................................................................................................................... 280
ANEXO 3 ........................................................................................................................... 335
ANEXO 4 ........................................................................................................................... 342
ANEXO 5 ........................................................................................................................... 345
ANEXO 6 ........................................................................................................................... 348
ANEXO 7 ........................................................................................................................... 352
ANEXO 8 ........................................................................................................................... 361
ANEXO 9 ........................................................................................................................... 369
ANEXO 10 ......................................................................................................................... 388
ANEXO 11 ......................................................................................................................... 389
ANEXO 12 ......................................................................................................................... 403
ANEXO 13 ......................................................................................................................... 404
ANEXO 14 ......................................................................................................................... 405
ANEXO 15 ......................................................................................................................... 407
5
1
_________________________________________________________________________
INT
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ROD
O
U
D
Ç
U
Ã
Ç
O
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6
1.1. Ensino de Bioquímica - indicações das opiniões dos alunos
A Bioquímica desempenha um papel extremamente presente no mundo
contemporâneo. O primeiro vislumbre da Bioquímica Fundamental ocorreu em 1774 nos
experimentos de Priestley, que descobriu o oxigênio (FREY, 2002). Priestley concluiu
através de seus experimentos que o oxigênio podia ser produzido por plantas e era capaz de
sustentar a vida de um camundongo. Ele demonstrou que o oxigênio era essencial para a
vida dos animais (GEST, 2001). Três séculos depois a descoberta da estrutura molecular do
ácido desoxirribonucléico completa, em 2007, 54 anos. Essa data foi celebrada com o
lançamento do livro DNA: O Segredo da Vida (WATSON, 2005), de autoria de um dos
descobridores da sua estrutura.
Atualmente somos testemunhas do mapeamento do genoma humano, do
desenvolvimento de organismos geneticamente modificados, alimentos transgênicos e
pesquisas com células-tronco. Esses conhecimentos e a aplicação das técnicas criadas
levaram o Homem ao alcance de fronteiras que trouxeram, entre outras, promessas de
novas terapias médicas e aumento da produção de alimentos. Ao mesmo tempo, o avanço
da Bioquímica exigiu a revisão de questões jurídicas e éticas, modificou padrões, conceitos
e valores estabelecidos na nossa sociedade.
Frente a esse momento que estamos vivendo, foi surpreendente que durante os meus
anos de graduação, tenha ouvido relatos informais de alunos de diversos cursos da
Universidade de São Paulo declarando não possuírem o meu entusiasmo e valorização às
disciplinas de Bioquímica dos currículos de suas faculdades.
7
De tão freqüentes e unânimes, esses comentários despertaram meu interesse para a
verificação, de modo mais sistemático, das razões dessas afirmações e da possibilidade de
intervenção que pudesse modificar o quadro estabelecido.
1.2. Delimitação do estudo - escolha do curso
O Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da USP é responsável pelo
oferecimento das disciplinas de Bioquímica a 18 cursos (Tabela 1.1) da Universidade que
contêm em seus programas essas disciplinas. A investigação e intervenção na totalidade dos
cursos seriam inviáveis por intermédio exclusivo desse projeto, portanto partiu-se à escolha
de um curso para concentrar o foco da pesquisa.
8
Código
Disciplina
Créditos
Curso
Ciências
Moleculares
CCM0111
Bioquímica
8
(40D)
QBQ0101
Bioquímica e Biologia Molecular
8
Enfermagem (80D)
Fisioterapia
(60D),
Terapia
Ocupacional
QBQ0102
Bioquímica e Biologia Molecular
4
(60D), Educação Física
e Esporte (130D)
Bioquímica: Estrutura de Biomoléculas e
Medicina
Veterinária
QBQ0116
8
Metabolismo
(80D)
Medicina
Veterinária
QBQ0126
Biologia Molecular
6
(100D)
Odontologia (83D e
QBQ0204
Bioquímica e Biologia Molecular
4
50N)
Bioquímica: Estrutura de Biomoléculas e
QBQ0211
8
Medicina (180D)
Metabolismo
QBQ0212
Bioquímica Molecular
6
Medicina (180D)
QBQ0213
Química de Biomoléculas
4
Nutrição (40D e 40N)
Bioquímica: Metabolismo e Biologia
QBQ0214
8
Nutrição (40D e 40N)
Molecular
Bioquímica: Estrutura de Biomoléculas e
Farmácia e Bioquímica
QBQ0215
12
Metabolismo
(75D e 75N)
Farmácia e Bioquímica
QBQ0216
Bioquímica Experimental
8
(75D e 75N)
Farmácia e Bioquímica
QBQ0217
Bioquímica Molecular
8
(75D e 75N)
Bioquímica: Estrutura de Biomoléculas e
Ciências
Biológicas
QBQ0220
12
Metabolismo
(60D e 60N)
Farmácia e Bioquímica
QBQ0316
Bioquímica Experimental
4
(75D e 75N)
Farmácia e Bioquímica
QBQ0317
Biologia Molecular
6
(75D e 75N)
QBQ2454
Bioquímica
8
Química (60D)
QBQ2456
Biologia Molecular
4
Química (60D)
QBQ3400
Bioquímica
6
Química (60N)
QBQ3401
Biologia Molecular
4
Química (60N)
Tabela 1.1: Disciplinas de Bioquímica oferecidas pelo Departamento de Bioquímica do Instituto de Química
da USP em 2005. Entre parênteses encontra-se o número máximo de alunos por turma e período; Diurno (D)
e/ou Noturno (N).
9
Escolheu-se um curso com um número reduzido de alunos, uma vez que a razão
aluno/professor é fator importante ao sucesso do aprendizado (GOUVÊA, 2000); na qual a
Bioquímica fosse realmente importante ao exercício da profissão, e, portanto esse tipo de
intervenção seria valioso ao aprendizado dos alunos.
Dentre os cursos disponíveis, e que atendessem à demanda citada, além de um
interesse pessoal pelo tema, foi escolhido o curso de Nutrição da Faculdade de Saúde
Pública da USP (FSP).
O curso de Nutrição da FSP é composto por uma turma no período matutino e outra
no noturno. A cada uma dessas turmas são abertas 40 vagas (FUVEST, 2006) por ano,
através do vestibular da FUVEST.
A importância da Bioquímica para a Nutrição é revelada pela ocorrência de
programas contendo a disciplina nos diversos cursos em nível superior de Nutrição do
Estado de São Paulo. A grade curricular do curso de Nutrição da FSP e entrevistas com
alunos e professores do curso de Nutrição da FSP, assim como de profissionais da área,
enfatizam essa conclusão.
1.3. Distribuição dos cursos de Nutrição pelo Estado de São Paulo
Existem 267 cursos em nível superior de Nutrição no Brasil (CFN, 2006): 159 estão
na região Sudeste, perfazendo aproximadamente 60% do total, e 82 só no Estado de São
Paulo (31% do total do país e 52% dos cursos da região Sudeste). Na Figura 1.1 encontra-se
a distribuição dos cursos de Nutrição no Estado de São Paulo.
10
A cidade de São Paulo é a grande detentora dos cursos de Nutrição do Estado (42%).
Outras grandes cidades como Santos e Campinas possuem 5% dos cursos cada uma.
Associadas a elas, as cidades de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, perfazem 60% dos
cursos (Figura 1.1).
Um levantamento feito por meio de consultas aos registros do Conselho Federal de
Nutrição e telefonemas às Instituições de Ensino Superior detectou que 100% dos 82 cursos
de Nutrição do Estado possuíam a disciplina Bioquímica em sua grade curricular.
Esses dados, quando comparados com outro curso, no qual a importância da
Bioquímica para a formação profissional também é fundamental, são bastante eloqüentes.
Apenas 22% dos 45 cursos de Educação Física do Estado de São Paulo contêm a disciplina
Bioquímica em sua grade curricular (Costa, 2000).
11
Adamantina
Distribuição dos cursos
Americana
Araçatuba
superiores de Nutrição no Estado de São Araraquara
Paulo
Assis
Bauru
Botucatu
Bragança Paulista
Campinas
Fernandópolis
Campinas(5%)
Franca
Itapegica
Itu
Jaguariúna
Jundiaí
Limeira
Lins
Marília
Mogi das Cruzes
Piracicaba
São Paulo(42%)
Ribeirão
Presidente Prudente
Preto(4%)
São José do Rio
Registro
Preto(4%)
Santos(5%)
Ribeirão Preto
Santos
São Carlos
São José do Rio
Pardo
São José do Rio
Preto
São José dos
Campos
São Paulo
Sorocaba
Taquaritinga
Taubaté
Votuporanga
Figura 1.1: Representação de cada uma das cidades do Estado de São Paulo que possuem algum curso
superior em Nutrição. Em azul escuro estão as cidades que contam, com 1% dos cursos, as cidades que
contam com 2% dos cursos estão em azul claro e em branco as cidades que contêm as maiores porcentagens
de cursos do Estado.
12
1.4. Inserção da Bioquímica na grade curricular do curso de Nutrição da
Faculdade de Saúde Pública da USP
Foi traçada a inserção da Bioquímica na grade curricular do curso de Nutrição. O
esquema representado procura mostrar as relações diretas e indiretas da disciplina
Bioquímica como pré-requisito para as demais disciplinas do curso (Figura 1.2). Em
vermelho encontram-se as disciplinas Química de Biomoléculas e Bioquímica. A seguir
procura-se demonstrar, por um gradiente de cores, as disciplinas que se baseiam
diretamente na Bioquímica, tendo-a como pré-requisito e aquelas que indiretamente
dependem dela. Em cinza encontram-se as disciplinas que independem da Bioquímica.
Como se vê na Figura 1.2, 19,5% das disciplinas da grade curricular do curso de
Nutrição dependem diretamente das disciplinas de Bioquímica, 22% dependem
indiretamente e apenas 53,5% são independentes.
13
Figura 1.2: Estrutura curricular do curso de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São
Paulo.
1.5. Levantamentos preliminares
Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas (Anexo 1) com alunos do curso de
Nutrição (cinco do segundo ano, dois do terceiro ano, um do quarto ano), uma aluna do
primeiro ano da pós-graduação, seis professores do curso da Nutrição e três Nutricionistas,
para contrapor aos dados não sistematizados colhidos através dos depoimentos voluntários
14
de alunos que já haviam cursado alguma disciplina de Bioquímica e revelados seu
descontentamento/desinteresse pelo curso.
1.5.1. Entrevistas com alunos
Fica claro, através das entrevistas, que os alunos têm consciência de que as disciplinas
de Bioquímica são importantes para o curso de Nutrição e para a atuação profissional.
As críticas mais freqüentes foram:
Em que pontos da sua profissão você considera que o curso de Bioquímica será
útil?
Aluno 1: Ah, em tudo. Na área clínica, Fisiologia Humana, Esporte...
Aluno 2: Todos, tirando administração acho que vou usar Bioquímica em tudo.
Aluno 4: Para entender o funcionamento do corpo humano. Por exemplo, se o
paciente tem uma deficiência de um aminoácido, você tem que saber explica o que é.
Aluno 6: Muitos. Vias metabólicas, para esclarecer dúvidas dos pacientes,
prescrição de dietas, patologias...
Aluno 9: Em muita coisa. Clínica, Estudo Experimental, até em Marketing. (...) a
disciplina é muito importante (...)
15
Aluno 10: Tudo. Para entender a base da Nutrição tem que saber Bioquímica. (...)
Fui em alguns congressos de Nutrição e vi que aquilo lá era Bioquímica pura.
Os alunos ainda destacaram a importância do planejamento do curso para dar
seqüência lógica aos conteúdos da disciplina e fizeram sugestões de conteúdo, como
relacionar a Bioquímica com a Nutrição e Esporte.
A realização de aulas práticas e estudos de casos parece, pela fala dos alunos,
despertar maior interesse pela disciplina. Sem estas estratégias, o desinteresse se instala e,
como os próprios alunos declaram, eles “estudam pra passar”.
Seguem-se excertos de algumas entrevistas que ilustram os itens analisados:
O que você achou do seu curso de Bioquímica?
Aluno 1: Bom, eu repeti da primeira vez. Na segunda vez que eu fiz o curso... eu
achei que se ele fosse bem dado seria importante. Eu não lembro dos conteúdos de
Bioquímica, mas o curso foi dado em módulos e não teve uma seqüência lógica. Eu acho
que isso prejudicou o curso...Faltou entender a matéria, só decorei tudo.
Aluno 2: Não tem aula com professor que entenda de Nutrição. Achei que os
professores não possuíam conhecimentos específicos em Nutrição. Ruim.
Aluno 3: Muito ruim. Foi muito mal dado.
16
Aluno 4: Mal estruturado. Os professores não tiveram muita comunicação entre
eles, deixaram lacunas no curso e em Química de Biomoléculas subestimaram os alunos
com o fraco nível das avaliações.
Quais foram as maiores dificuldades que você encontrou nesse curso?
Aluno 1: Faltou aprofundamento. O livro base, Lehninger, era muito detalhado. O
professor usava transparências nas aulas e eu acho que isso atrapalha.
Aluno 2: Estudar para a prova. Eu acho que não aprendi nada no curso.
Aluno 3: Os ciclos, conciliar a prática com a teoria....
Aluno 4: As explicações. Os monitores eram impacientes em resolver os exercícios.
Eles só traziam as respostas da lista de exercícios na véspera da prova.
Aluno 5: As explicações em sala de aula eram ruins e havia muita matéria. Só
tiveram três provas e a matéria acumulava demais.
Aluno 7: O relacionamento com o professor. Eu não gostei do professor e não havia
diálogo, eu sentava na cadeira e assistia à aula.
17
Quais conteúdos você acrescentaria?
Aluno 1: Mais Metabolismo Humano, Nutrição voltada para o Esporte. Eu fiz um
curso na Educação Física e me interessei muito quando eles falaram em hidratação porque
a gente não tem nada disso aqui na Nutrição e eu acho que seria legal se falassem isso no
curso de Bioquímica.
Aluno 2: Aulas práticas direcionadas e estudo de casos.
Aluno 3: Eu acho que deveria aproximar mais à Nutrição.
Aluno 5: Bioquímica do esporte, maiores conhecimentos sobre DNA recombinante e
transgênicos.
Aluno 7: Aulas práticas, Bioquímica do esporte, Bioquímica com Nutrição.
• Falta de associação entre a disciplina e a atividade profissional.
(...) eu acrescentaria à Bioquímica, conteúdos práticos e
aplicados, de maior interesse.
Eu eliminaria as aulas de laboratório do meu curso, porque eu
acho que nunca vou fazer um negócio daqueles na minha vida
profissional e [a disciplina] Química de Biomoléculas.
18
Gostaria que fosse relacionada a Bioquímica com a Nutrição;
que fosse dado algo sobre Bioquímica do esporte e mais atualidades.
Acho que deveriam ser dados mais assuntos de interesse do
aluno.
• Precário entendimento do conteúdo (levando ao recurso da memorização).
Era muita matéria. Foi difícil entender os ciclos e ligar os
conteúdos. A gente acabava decorando tudo pra prova.
Achei que as exposições dos professores não eram claras e foi
dada muita matéria. As vias metabólicas eu tinha que decorar tudo.
• Problemas metodológicos no desenvolvimento da disciplina.
(...) eu sentava na cadeira e assistia à aula. (...) Eu senti falta de
uma maior interação entre a disciplina e os alunos e o professor. Eu
gostaria que fosse repensada a maneira como a Bioquímica é dada.
O curso foi mal estruturado (...) os professores não tiveram
muita comunicação entre eles, deixaram lacunas no curso e em
Química de Biomoléculas subestimaram os alunos com o fraco nível
das avaliações.
19
Minha maior dificuldade foi procurar material para estudar. Eu
não sabia aonde procurar a matéria que o professor dava. Eu
também não sabia direito o que eu devia estudar, o que era mais
importante.
Devia melhorar os laboratórios, explicar melhor o que vamos
fazer no Laboratório e qual a finalidade da atividade.
• Falta de conhecimentos básicos para o bom desempenho na disciplina.
Eu cheguei no curso sem saber o básico de Química e não tive
explicações nesse sentido pra que eu pudesse acompanhar o curso.
Faltou base, de minha parte, para acompanhar o curso.
1.5.2. Entrevistas com professores de disciplinas para as quais a Bioquímica é pré-
requisito
As entrevistas com os professores de disciplinas subseqüentes à Bioquímica não
foram esclarecedoras. A maior parte das respostas repetiu os conteúdos tradicionais
presentes na disciplina (estrutura e metabolismo de carboidratos, lipídios e proteína), sem
apontar conteúdos específicos cujas ausências poderiam dificultar o andamento de suas
disciplinas. Em alguns casos foram feitas sugestões pontuais (polifenóis oxidases).
20
A transcrição de parte das entrevistas evidencia o comentado. Cada comentário é
precedido pelo nome da disciplina cujo professor foi entrevistado.
Quais conhecimentos de Bioquímica são necessários para o entendimento da sua
disciplina?
Nutrição Normal: Conhecer a estrutura das biomoléculas, suas propriedades e vias
metabólicas.
É importante que o aluno conheça todos os nutrientes (proteínas, carboidratos,
lipídios, sais minerais e metais).
Composição dos Alimentos: O aluno deve ter muito claros os macronutrientes, sua
funcionalidade e importância.
Farmacologia Básica para Nutrição: Enzimologia (conhecimentos clássicos);
Metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas; Proteínas de membranas; Lipídios,
colesterol e triglicerídeos, proteínas de transportes; Vitaminas e oligoelementos.
Fisiologia e Biofísica: Bioquímica Básica, com uma noção muito boa de
mecanismos de sinalização celular (fundamental para todo fisiologista).
Farmacologia: Os conhecimentos em Química e Bioquímica de Alimentos estão
relacionados com os conhecimentos dos componentes básicos dos alimentos como água,
lípides, minerais, proteínas e fibra alimentar. Processo de degradação dos alimentos. Ação
das enzimas nos alimentos. Escurecimento enzimático (Ex: ação das polifenoloxidases) e
não enzimático dos alimentos (Ex: reação de Maillard e caramelização). Atividade da
21
água (Aw). Oxidação lipídica. Formação de radicais livres. Substâncias tóxicas em
alimentos.
Parasitologia Aplicada à Nutrição: Conhecimentos básicos. O aluno deve conhecer
os grupos alimentares, como fazer um melhor aproveitamento dos alimentos, e, para a
minha disciplina especificamente, ficar atento às parasitoses que têm na subnutrição o seu
quadro agravado como, por exemplo, a deficiência de algumas substâncias pode ser
irrelevante a organismos saudáveis, mas muito maléfica para indivíduos que tenham
contraído algum parasita.
1.5.3. Entrevistas com profissionais da Nutrição
Como se pretendia verificar os conhecimentos necessários ao profissional de
Nutrição, entrevistamos profissionais da área para colher esses dados.
Os depoimentos desses nutricionistas esclarecem a preocupação dos profissionais em
eliminar lacunas deixadas pelo curso de graduação. Para eles, a Bioquímica é necessária
para a compreensão dos mecanismos da Nutrição Humana, produção de energia e demais
questões metabólicas. A Bioquímica também se torna útil na classificação de compostos
estudados pela Nutrição e que são de difícil compreensão para os nutricionistas.
Adicionalmente, surgiu na entrevista a preocupação da abordagem de temas novos -
suplementos alimentares, especificamente. Os nutricionistas parecem não ter desenvolvido
a autonomia que lhes permitiria tratar de assuntos que não foram explorados em seus cursos
de graduação.
22
Portanto, ficou clara a preocupação dos nutricionistas em alterar a maneira tradicional
de se lecionar Bioquímica, para que as deficiências que esses profissionais têm possam ser
sanadas.
Seguem trechos das entrevistas que podem ilustrar esses conteúdos:
Como vocês vêem a Bioquímica, agora, como Nutricionistas? Vocês acham que é
importante ou que não é? Que papel que tem a Bioquímica na profissão de vocês?
Nutricionista 1: Eu acho fundamental, principalmente porque hoje nós estamos
vivendo os alimentos funcionais e é tudo muito ligado à Bioquímica, e muitas vezes eu sinto
que o meu conhecimento... eu gostaria de ter mais conhecimentos de Bioquímica, pra
poder até entender melhor as ações realmente dos funcionais, né? Vamos falar dos
alimentos, não só funcionais, mas como um todo.
Nutricionista 2: Pra mim, o mais importante, quando o André até comentou, é em
relação ao alimento, atividade física ou seja, entender todos esses processos de produção
de energia a partir que ... pra nós é a base que é o alimento, então eu vejo muitas pessoas
que entendem de Bioquímica, traduzindo melhor isso na hora em que vai escrever a tese,
na hora em que vai dar uma aula ou uma palestra e essa facilidade ... fica algo que você
começa a explicar e aí você consegue desenvolver o tema; isso eu sinto dificuldade, por
essa parte que você mesmo comentou, então eu acho que (a Bioquímica) vai ser muito útil
pra o profissional da Nutrição.
Nutricionista 3: Bom, eu acho também bastante importante ... às vezes a gente
aprende na faculdade, de uma forma assim muito...às vezes até foi bem explicado, mas é
aquela história, você não consegue conectar ... depois com a sua atuação profissional, né?
23
... até esse trabalho relacionado com controle de qualidade ... que influência a temperatura
tem na conservação e, se você tem conhecimentos de Bioquímica ou de Química ... você às
vezes consegue entender porque, por exemplo, o alimento se deteriora mais fácil ... existem
reações químicas ali.... Como você aprendeu aquilo de uma forma que você não conseguiu
associar, você acaba só falando “ah, esse alimento sofreu oxidação”.
Nutricionista 1: (...) o Nutricionista é visto muito como o superficial, ele fala mas
não entende as coisas, então eu acho que um dos fatores disso é a Bioquímica, que a gente
não consegue ir tão a fundo (...)
Nutricionista 2: Outros profissionais, não só da área de Nutrição estão ganhando
aí ... indo a fundo ... nos processos Bioquímicos e acabam falando de uma maneira muito
melhor do que uma Nutricionista ... Ou seja, nós Nutricionistas, ele precisa entender de
alimentos, ele precisa saber de todo o processo que envolve...a Bioquímica estando aí a
gente precisa também entender.
Nutricionista 1: Tanto que eu ainda falei: se tivesse um curso, fosse aonde fosse o
curso, eu iria fazer um curso de Bioquímica, se desse pra aprender, né?
Nutricionista 3 – É que eu acho que a alimentação ela envolve dois fatores
principais: o fator comportamental e o fator fisiológico, e esse fator fisiológico, eu acho
que está extremamente relacionado à Bioquímica, a reações...e eu acho que se você não
conhece isso né ... mesmo a nutrição clínica ela fica limitada ... conforme você vai
estudando vai ficando complicado.
24
Nutricionista 2 – (...) ainda mais agora com a questão dos suplementos
nutricionais, né? ... é algo que tá no mercado faz tempo e as pessoas vão te questionar e eu
acho que pra combater você vai ter que ter argumentos mesmo (...)
25
1.6. Crescimento exponencial da informação
Para a elaboração do currículo aos problemas apresentados nas entrevistas com
alunos, profissionais e professores, soma-se o aumento exponencial das informações, como
um complicador à elaboração da ementa das disciplinas. Novas informações aparecem
numa razão exponencial e velhas informações estão continuamente sendo acessadas
(WOOD, 1990). O gráfico abaixo (Figura 1.3) é representativo desse fenômeno, com base
no número de artigos publicados no Chemical Abstracts, durante o século XX.
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1980
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Figura 1.3: Número acumulado de resumos publicados anualmente no Chemical Abstracts (1907-2004). Fonte:
CAS, 2004.
Poder-se-ia utilizar outras fontes de referência ao crescimento das novas informações.
Atualmente os alunos realizam diversas buscas na Internet e devemos lembrar que essa é
26
uma fonte de dados, como qualquer outra, com o agravante de que não são todas as
informações circulantes nesse veículo que possuirão respaldo científico ou mesmo verídico.
A Internet não ensina a pensar, ela apenas contém uma quantidade fantástica de
informações que obriga cada vez mais os indivíduos a selecionar e avaliar esse conteúdo. O
problema hoje parece ser o de qualidade, não de quantidade.
De forma similar, uma das dificuldades encontradas no ensino do Metabolismo é o
extenso volume de informação (TORRES, 1993). Esse problema não é exclusivo ao ensino
da Bioquímica e adequações são necessárias para que as disciplinas consigam, com a carga
horária disponível, instruir adequadamente seus alunos.
Também é preciso lembrar que as atividades exigidas dos alunos nem sempre são
exatamente como aquelas que eles eventualmente irão defrontar-se no desempenho das suas
carreiras (WOOD, 1990). Muitos cursos supervalorizam a memorização das informações e
a sua reprodução com precisão, como estratégias de ensino. Entretanto, no exercício
profissional, as habilidades exigidas são saber onde encontrar as informações, trabalhar em
grupos e com tempo limitado.
As estratégias adotadas no curso de Bioquímica para a Nutrição, propostas nessa tese,
foram a seleção dos conteúdos e adoção de um método de ensino que permita desenvolver
no aluno habilidades exigidas na vida profissional. A essas duas prerrogativas, ainda, foi
adicionada a necessidade de suprir os alunos dos conhecimentos necessários às demais
disciplinas do curso de Nutrição, que têm no corpo de conhecimentos da Bioquímica, pré-
requisitos para o acompanhamento das suas aulas.
27
1.7. Diretrizes para o Ensino Superior
1.7.1. Diretrizes da UNESCO
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO,
1998), traz na sua Declaração Mundial sobre a Educação Superior para o Século XXI,
recomendações para o avanço do ensino superior. No artigo nono, estão descritas
abordagens para inovações educacionais, visando um pensamento crítico e criativo.
Destacam-se excertos dos itens desse artigo:
a) Instituições de ensino superior devem educar seus alunos para (...)
pensar criticamente, analisar problemas da sociedade, procurar
soluções para os problemas da sociedade, aplica-los e aceitar
responsabilidades sociais.
b) Para alcançar essas metas, se faz necessária uma mudança curricular,
usando novos e apropriados métodos (...) novas abordagens
pedagógicas e didáticas (...) facilitar a aquisição de habilidades e
competências para a comunicação.
c) (...) promover não apenas a memorização, mas também a compreensão.
Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre educação para o século
XXI
Em relatório apresentado à UNESCO, Delors (1998) dá a sua definição para o papel
do professor:
28
(...) O trabalho do professor não consiste simplesmente em transmitir informações ou
conhecimentos, mas em apresentá-los sob a forma de problemas a resolver, situando-os
num contexto e colocando-os em perspectiva de modo que o aluno possa estabelecer a
ligação entre a sua solução e outras interrogações mais abrangentes.
(...) O trabalho e diálogo com o professor ajudam a desenvolver o senso crítico do
aluno.
(...) Para ser eficaz [o professor] terá de recorrer a competências pedagógicas muito
diversas e a qualidades humanas como a autoridade, empatia, paciência e humildade.
1.7.2. Diretrizes do Ministério da Educação
O Ministério da Educação (MEC) preconiza a adoção de Diretrizes Curriculares
Nacionais do Curso de Nutrição (DCNCN, 2001) que podem ser utilizadas, entre outros,
para nortear a formação do aluno de Nutrição e a solução dos problemas mencionados
nessa introdução. As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de Graduação em
Nutrição definem os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de
nutricionistas, estabelecidas pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de
Educação, para aplicação em âmbito nacional na organização, desenvolvimento e avaliação
dos projetos pedagógicos dos Cursos de Graduação em Nutrição das Instituições do
Sistema de Ensino Superior (Resolução CNE/CES Nº 5, 2001).
Dentre as diretrizes presentes na resolução, destacam-se alguns excertos
representativos para esse trabalho:
Art. 3º (...) perfil do formando egresso/profissional:
29
I - Nutricionista, com formação generalista, humanista e crítica, (...) com reflexão sobre a
realidade econômica, política, social e cultural;
Art. 4º (...) dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das
seguintes competências e habilidades gerais:
I - Atenção à saúde: (...) pensar criticamente, analisar os problemas da sociedade e
procurar soluções para os mesmos;
II - Tomada de decisões: (...) avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas,
baseadas em evidências científicas;
III - Comunicação: A comunicação envolve comunicação verbal, não-verbal e habilidades
de escrita e leitura (...);
IV - Liderança: no trabalho em equipe multiprofissional, (...) A liderança envolve (...)
habilidade para tomada de decisões, comunicação e gerenciamento (...);
VI - Educação permanente: os profissionais devem ser capazes de aprender
continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática (...);
Art. 5º (...) dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das
seguintes competências e habilidades específicas:
I - aplicar conhecimentos sobre a composição, propriedades e transformações dos
alimentos e seu aproveitamento pelo organismo humano, na atenção dietética;
III - desenvolver e aplicar métodos e técnicas de ensino em sua área de atuação;
VII - avaliar, diagnosticar e acompanhar o estado nutricional; planejar, prescrever,
analisar, supervisionar e avaliar dietas e suplementos dietéticos para indivíduos sadios e
enfermos;
XVI - integrar grupos de pesquisa na área de alimentação e nutrição;
Art. 6º Os conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Nutrição(...):
30
I - Ciências Biológicas e da Saúde – (...) conteúdos (teóricos e práticos) de bases
moleculares e celulares dos processos normais e alterados, da estrutura e função dos
tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos;
III - Ciências da Alimentação e Nutrição –(...):
a) compreensão e domínio de nutrição humana, a dietética e de terapia (...) indicar a dieta
adequada para indivíduos e coletividades (...);
b) conhecimento dos processos fisiológicos e nutricionais dos seres humanos (...)
atividades físicas e desportivas(...);
IV - Ciências dos Alimentos – (...) composição, propriedades e transformações dos
alimentos (...).
§ 2º (...) promover no aluno e no nutricionista a capacidade de desenvolvimento intelectual
e profissional autônomo e permanente.
Art. 9º O Curso de Graduação em Nutrição deve ter um projeto pedagógico, (...) centrado
no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e
mediador do processo ensino-aprendizagem. Este projeto pedagógico deverá buscar (...)
uma articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência.
Art. 10. § 1º (...) inovação e a qualidade do projeto pedagógico do curso.
Art. 14. I - articulação entre o ensino, pesquisa e extensão/assistência, garantindo um
ensino crítico, reflexivo e criativo, (...) estimulando a realização de experimentos e/ou de
projetos de pesquisa; socializando o conhecimento produzido (...);
II - as atividades teóricas e práticas (...) de forma integrada e interdisciplinar;
VII - o estímulo às dinâmicas de trabalho em grupos, por favorecerem a discussão coletiva
e as relações interpessoais;
31
Art. 15. A implantação e desenvolvimento das diretrizes curriculares devem (...) ser
acompanhadas e permanentemente avaliadas, a fim de permitir os ajustes que se fizerem
necessários ao seu aperfeiçoamento.
Os professores encontrarão muitas dificuldades em ensinar se os alunos estiverem
desconectados. Eles acreditam que possuem um conteúdo interessante e relevante para
ensinar, mas os alunos podem ser menos entusiasmados por causa das dificuldades que eles
enfrentam (WOOD, 1990). O problema para professores conscientes é atrair e manter o
interesse dos seus alunos e permitir-lhes a obtenção da educação necessária ao desempenho
na área escolhida (MEHLER, 1983).
Os professores devem dar ênfase às habilidades de resolução de problemas. Isso
significa trabalhar e usar a informação que eles se lembrem. Isso pode ser alcançado através
de grupos de discussão e enfatizando a solução de problemas, no lugar da memorização.
A elaboração de um currículo que atenda a todas essas necessidades e possibilite um
aprendizado significativo não é uma tarefa fácil e não contém uma solução apenas. As
respostas irão variar de acordo com a instituição envolvida, corpo discente e corpo docente,
proposta pedagógica e outros. São apontadas as sugestões e experiências desenvolvidas
para o presente projeto:
1. Análise da formação dos alunos;
2. Escolha da seqüência do curso;
3. Linguagem adotada;
4. Recursos tecnológicos;
5. Método aplicado;
6. Referencial teórico.
32
1.8. Formação dos alunos do curso de Nutrição
Bioquímica e Biologia Molecular contêm um corpo muito grande de conhecimentos.
O profissional de Bioquímica deve ter uma relação consolidada com uma grande parte das
Ciências modernas, da Física para a Química, Biologia e Medicina (WOOD, 1990). Para o
profissional de Bioquímica esse conhecimento é necessário para que possa atuar em sua
área; por exemplo: em Física/Matemática - cristalografia de raios-X, laser, fotoquímica;
Química - compostos químicos, reações de síntese e degradação, cinética de reações;
Biologia - embriologia, uma variedade de organismos (vírus, bactérias, drosófilas, ratos) e
genética, e Medicina - células, tecidos, órgãos, anatomia e fisiologia, câncer, doenças
congênitas do metabolismo.
Para os estudantes de diversas áreas da saúde, entretanto, todo esse conteúdo
representa material a ser aprendido, ou decisões do que aprender e o que não aprender.
Essas decisões necessitam que os objetivos do curso sejam conhecidos. Deve-se questionar
para que os alunos devem aprender Bioquímica. Eles estão sendo treinados para tornarem-
se experientes bioquímicos ou as informações do curso serão necessárias para a
compreensão e resolução de problemas pertinentes à profissão que tenham escolhido?
1.8.1. Desempenho dos ingressantes nas provas de Química, Biologia e Física da
FUVEST
Muitos professores de cursos da Nutrição - USP relataram grandes dificuldades no
andamento de suas disciplinas por trabalharem com grupos de alunos com baixo
33
conhecimento de Bioquímica. Da mesma maneira, profissionais de Nutrição confessaram
que suas más formações em Bioquímica afetam de maneira decisiva suas vidas
profissionais (seção 1.5.3).
É relatado na literatura especializada que para alunos da área de saúde, uma boa
formação em Química se faz necessária ao acompanhamento de um curso de Bioquímica, e
que a solução encontrada para minimizar falhas na formação dos alunos ingressantes no
ensino superior, foi a criação de cursos preliminares de Química, ministrados por membros
de departamentos de bioquímica (MEHLER, 1983)
A fim de inferir quais pré-requisitos de Química, Biologia e Física os alunos de
Nutrição possuem, analisou-se a nota das provas da segunda fase da FUVEST, nessas
disciplinas, dos candidatos aprovados para a primeira chamada do curso. O resultado
mostra que, de fato, o desempenho dos ingressantes, nessas provas, é inferior à média dos
alunos ingressantes na USP em 2001 (Figura 1.4, 1.5 e 1.6). Esses resultados são
importantes para justificar o estabelecimento de uma disciplina introdutória para o curso de
Bioquímica; trata-se da disciplina Química de Biomoléculas, que historicamente foi
inserida no currículo do curso de Nutrição, visando reparar falhas na formação dos alunos
do curso de Bioquímica.
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