Aposta de Amor por Candace Camp - Versão HTML
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podiam fazer para melhorar sua vestimenta para a seguinte saída. De fato,
apenas as escutou durante o trajeto de volta a casa, porque seus próprios
pensamentos estavam muito longe da carruagem e de sua família. Tampouco
pensou no interesse que Lady Haughston pudesse ter nela, nem em se
verdadeiramente iria procurá-la no dia seguinte para ir às compras, embora em
circunstâncias normais, teria se feito muitas perguntas sobre tudo aquilo.
Entretanto, aquela noite, enquanto descia da carruagem e subia as
escadas para seu quarto na casa que seus tios haviam alugado, enquanto se
despia para pôr a camisola e escovava a espessa cabeleira, tinha a mente
posta nos olhos azuis e na risada de certo visconde, e a pergunta que não a
deixou conciliar o sono até muito depois de deitar-se foi se voltaria a vê-lo
alguma vez.
***
16Candace Camp
[As Casamenteiras 01]
Constance se vestiu com mais atenção do que normal na manhã seguinte.
Embora se tivesse negado a confiar muito em que Lady Haughston a visitasse
realmente, não ia desprezar a possibilidade por completo e a ter que sair com
a mulher, finalmente, com um de seus piores vestidos. Assim vestiu o melhor
traje de tarde que tinha, confeccionado em musselina de cor marrom
chocolate. Seu orgulho não lhe permitia ser vista sem nenhum estilo nem
graça em companhia da elegante Lady Haughston.
O relógio deu a uma em ponto e Lady Haughston não apareceu.
Constance tentou não sentir-se decepcionada. Depois de tudo, sempre tinha
sido consciente de que a apresentação da noite anterior tinha sido uma
casualidade. Possivelmente Lady Haughston teria pensado que ela era outra
pessoa, ou se teria tido piedade da moça a que ninguém tirava para dançar, e
naquela manhã não teria tido interesse em prosseguir com a relação.
Entretanto, para Constance foi difícil não sentir-se abatida.
Lady Haughston tinha agradado muito à Constance e, além disso, era
suficientemente sincera para admitir que havia sentido certo orgulho ao ter
chamado a atenção de uma das damas mais célebres da alta sociedade. E,
sobre tudo, conhecê-la tinha aliviado um pouco o aborrecimento que lhe
supunha a vida em Londres.
Durante o tempo que estavam ali, Constance se tinha dado conta de que
preferia a vida no campo a rutilante vida da cidade. Só ia às festas em
qualidade de acompanhante, e ninguém lhe prestava mais atenção que ao
mobiliário; não lhe pediam uma dança, nem a incluíam nas conversas que sua
tia e suas primas mantinham com outros convidados.
Durante o dia se aborrecia igualmente. A governanta que tinham
contratado em Londres levava a casa com eficiência, e Constance não tinha
muitas tarefas; tampouco tinha as relações sociais que lhe tinham ocupado
parte do tempo no passado: costumava fazer visitas de cumprimento aos
arrendatários de seu pai e às pessoas do povoado, como o pastor e sua
esposa, e ao advogado que dirigia os assuntos de seu pai. Também costumava
visitar seus amigos e conhecidos. Entretanto, em Londres não conhecia
ninguém além de sua família e, para falar a verdade, não encontrava muito
enriquecedora sua companhia.
Assim, em grande parte devido ao aborrecimento, Constance tinha
desejado aquela saída com Lady Haughston com mais ímpeto que teria querido
admitir. À medida que passavam os minutos, seu desânimo crescia.
Então, um pouco antes das duas, justo quando Constance estava
pensando em subir ao seu quarto para escapar de uma tola discussão de suas
primas, uma criada anunciou a chegada de Lady Haughston.
- Oh, Deus Santo! - exclamou a tia Blanche, sobressaltando-se como se
alguém a tivesse beliscado - Sim, sim, claro. Faça entrar à senhora - disse à
criada enquanto ajeitava o cabelo e alisava a saia do vestido - Recolha o
cabelo, Margaret. Em pé, meninas. Constance, aqui, tome meu trabalho.
Constance se aproximou de sua tia para tirar do chão o trabalho de
bordado que sua tia tinha derrubado ao saltar da cadeira, e depois o dobrou
cuidadosamente e o guardou na mesa de costura. Estava inclinada e
ligeiramente virada quando Lady Haughston entrou na sala. A tia Blanche se
apressou a recebê-la, tomando ansiosamente ambas as mãos.
- Minha senhora! Que honra! Por favor, sente-se. Posso lhe oferecer um
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[As Casamenteiras 01]
chá?
- Oh, não - respondeu Lady Haughston, que estava muito bela com um
vestido de passeio em seda verde. Com um sorriso, puxou as mãos
brandamente e assentiu para saudar georgiana e a Margaret - Não posso ficar.
Só vim um instante para pegar à senhorita Woodley. Onde está?
Olhou além da tia Blanche e viu Constance.
- Ah, aí está. Vamos? Não devo deixar os cavalos esperando durante muito
tempo, ou o cocheiro me repreenderá - disse, e sorriu ante o absurdo daquela
afirmação, com os olhos azuis muito brilhantes - Espero que não tenha
esquecido nossa saída de compras...
- Não, claro que não. Não estava certa... bom, de que o houvesse dito a
sério.
- E por que não? - perguntou Lady Haughston, com as sobrancelhas
arqueadas de assombro. - Se refere a minha demora? Bem, não deve se
preocupar. Todo mundo dirá que sempre chego assombrosamente tarde a
todas as partes. Não sei o motivo.
Então encolheu os ombros com tanta graça, que Constance deu por
assentado que muita gente não se incomodaria pela impontualidade de Lady
Haughston.
- Vão às compras? Com Constance? - perguntou, sem sair de seu
assombro, tia Blanche.
- Espero que não se importe - disse Lady Haughston - A senhorita Woodley
me prometeu que me ajudaria a escolher um chapéu hoje à tarde. Estou
indecisa entre os dois que selecionei.
- Oh! -murmurou a tia Blanche - Sim, bem, é claro.
Voltou-se para Constance com uma mescla de confusão e irritação no
semblante, enquanto dizia:
- Foi muito amável de sua parte convidar a minha sobrinha.
Constance se sentiu um pouco culpada por não haver mencionado a sua
tia o convite de Lady Haughston; entretanto, não podia lhe explicar suas
dúvidas em presença da dama. Assim, disse somente:
- Sinto muito, tia Blanche. Me esqueci de dizer-lhe isso. Espero que não se
importe.
A tia Blanche não podia fazer outra coisa que permitir aquela expedição se
queria gozar do favor de Lady Haughston, e Constance esperava que se desse
conta. Do contrário, sua tia provavelmente se negaria por aborrecimento.
Entretanto, Lady Woodley foi suficientemente inteligente para assentir.
- Suponho que não, querida minha - disse a Constance, e depois se voltou
para Lady Haughston - Não sei o que faria sem a ajuda de Constance. É tão boa
que aceitou vir a Londres para me ajudar com as meninas e ser sua dama de
companhia - disse a tia Blanche, e olhou com carinho a suas filhas - É muito
difícil manter o ritmo de duas jovens tão animadas, e de tantas festas!
- Estou segura disso. Irão amanhã ao baile de Lady Simmington? Espero
que vê-los todos ali.
A tia Blanche seguiu com o sorriso nos lábios, embora ao ouvir as palavras
de Francesca deu a impressão de que engolia um inseto. Finalmente, disse:
- Eu... né... temo que perdi o convite.
- Oh, que desafortunado. Bem, se querem ir, darei-lhes meu convite. Eu
não gostaria de perder sua companhia amanhã.
- Minha senhora! - exclamou a tia Blanche, com o rosto rubro de
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felicidade. Lady Simmington era uma anfitriã de importância, e a tia Blanche
tinha passado grande parte da semana lamentando o fato de não ter recebido
seu convite.
- É muito generoso de sua parte. Oh, aha, é obvio que iremos.
Sua alegria foi tal que sorriu a sua sobrinha com verdadeira vontade ao
despedir-se delas. Constance colocou rapidamente o chapéu e as luvas e
seguiu a Lady Haughston antes que ocorresse à sua tia alguma desculpa para
enviar a suas primas com elas.
Entretanto, por muito contente que estivesse Constance por poder
escapar, finalmente, com Lady Haughston, não pôde evitar perguntar-se quais
eram as intenções da dama. Claramente, o fato de lhe dar de presente o
convite de um dos bailes mais exclusivos da temporada social a sua tia era um
detalhe muito generoso por parte de Francesca, embora a Lady Haughston
ninguém negaria a entrada em uma casa apesar de não levar esse convite.
Entretanto, por que o teria feito? Parecia uma pessoa amistosa e boa, mas isso
não explicava o estranho interesse que tinha demonstrado pela família de
Constance.
Não era verossímil que se houvesse sentido tão intrigada por Constance,
pela tia
Blanche ou por suas filhas para solicitar à anfitriã de um baile que as
apresentasse. E Constance mal tinha falado duas palavras com ela antes que a
aristocrata lhe pedisse que a acompanhasse para dar um passeio pelo salão de
baile. Depois, para rematar aquele fato tão surpreendente, tinha-lhe
perguntado se a acompanharia em uma tarde de compras. Estranhamente,
tinha cumprido com sua palavra e tinha ido em busca de Constance, e,
expertamente, colocou à tia Blanche no bolso ao lhe oferecer o convite para o
baile de Lady Simmington.
A que jogava Lady Haughston? E algo muito mais desconcertante ainda:
por quê?
Capítulo 3
As duas mulheres se sentaram na brilhante carruagem negra de Lady
Haughston, e quando o veículo começou a mover-se, Francesca se voltou para
Constance.
- Em realidade, é certo que vi dois preciosos chapéus na chapelaria
-disse-, mas temos tempo de sobra para nos deter em qualquer outro lugar.
Vamos a Oxford Street? O que você gostaria de comprar?
Constance sorriu.
- Conformo-me indo onde você queira, senhora. Não desejo comprar nada
em
particular.
- OH, mas não podemos descuidá-la - disse Francesca alegremente-.
Certamente, necessitará de laços, ou luvas, ou algo do gênero -comentou,
e olhou pensativamente a Constance-. um pouco de bordado para gola desse
vestido, por exemplo.
Surpreendida, Constance olhou o vestido marrom chocolate. Certamente,
seria muito mais bonito com um pouco de bordado na gola e nas mangas. Um
bordado cor champanha, por exemplo.
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Sacudiu a cabeça ao mesmo tempo que, sem dar-se conta, deixava
escapar um ligeiro suspiro.
- Temo que então não seria suficientemente simples.
- Simples? -perguntou Francesca com consternação-. Não será uma
qualquer, não é verdade?
Constance riu.
- Não, senhora. Não sou uma qualquer. Entretanto, não é apropriado que
uma dama de companhia chame a atenção.
- Dama de companhia! -exclamou Francesca-. Querida, do que está
falando?
É muito jovem e bonita para ser uma mera acompanhante.
- Minha tia necessita que a ajude. Tem duas filhas debutantes.
- Ajudá-la? A que? A olhar como as meninas dançam e conversam? Parece-
me que toma muito a sério este assunto. Estou certa de que ela não espera
que fique imóvel durante todos os bailes. Deve dançar amanhã, na festa de
Lady Simmington. Seus músicos sempre são excelentes. Eu falarei com sua tia.
Constance se ruborizou.
- Duvido que alguém me pedisse uma dança, senhora.
- Tolices... Claro que sim. Sobre tudo, quando tivermos animado um pouco
seu vestuário. Tenho um vestido de cetim azul que já pus muito, e receio que
devo me desprender dele. Entretanto, a você assentaria maravilhosamente.
Minha criada fará alguns acertos, mudá-lo um pouco para que ninguém o
reconheça. Deve vir a minha casa antes da festa e deixar que ela o arrume
para você.
- Minha senhora! Isso é muito amável de sua parte. Não posso aceitar um
presente tão generoso.
- Então, não será um presente. Poderá-me devolvê-lo quando terminar a
temporada. E, por favor, já chega de formalidades.
Constance ficou olhando-a com um desconcerto total.
- Eu... não sei o que dizer.
- Bem, o que lhe parece algo como "obrigada pelo vestido, Francesca"? -
respondeu sua interlocutora com um sorriso.
- Agradeço-lhe por isso ... agradeço-lhe muito por isso, mas eu...
- O que? Não quer ser minha amiga?
- Não é isso! - respondeu apressadamente Constance - Eu gostaria muito
de ser sua amiga. Entretanto, é muito generosa.
- Estou segura de que há pessoas que lhe diriam que não sou generosa
absolutamente -replicou Francesca.
- Faz com que seja muito difícil dizer que não - disse Constance.
Francesca sorriu mostrando seus branquíssimos dentes.
- Sei. Estive muitos anos praticando. Ah, já chegamos à chapelaria. Agora,
deixe os protestos e me ajude a decidir entre esses dois chapéus.
Constance seguiu Lady Haughston ao interior do estabelecimento. A
empregada saudou-as com um sorriso e, momentos depois, uma mulher de
meia idade que, evidentemente, era a proprietária, saiu do fundo da loja para
atendê-las em pessoa.
Francesca provou os dois chapéus nos quais estava interessada. Um era
de veludo azul escuro, com uma aba estreita da qual pendia um delicado véu
de encaixe que cobria os olhos. O outro era um chapeuzinho de palha
rematado com seda azul e com um laço que se atava ao queixo. Ambos
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favoreciam muito os olhos azuis de Francesca, e Constance também se viu
incapaz de inclinar-se por algum.
- Prove-os você - sugeriu Francesca-. Deixe que veja como ficam.
Constance quis protestar, mas, em realidade, desejava ver como ficaria o
chapeuzinho de palha. Quando o provou, não pôde evitar sorrir ao ver-se no
espelho.
- Oh! - exclamou Lady Haughston, aplaudindo - Fica perfeitamente! Você é
quem deve ficar com ele. Eu levarei o de veludo azul.
Constance titubeou enquanto se olhava no espelho. O arremate e o forro
azul de seda favoreciam tanto a uns olhos cinzas como a uns azuis, pensou.
Era um chapéu lindo , e ela não comprara um desde há muito tempo.
Possivelmente pudesse gastar um pouco de dinheiro.
Entretanto, finalmente e com um suspiro, sacudiu a cabeça.
- Não, temo que deve ser muito caro.
- Oh, estou certa de que não. Acho que o preço está rebaixado, não é
assim, senhora Downing? -perguntou Francesca à proprietária da chapelaria,
voltando-se para ela.
A senhora Downing, que era consciente dos benefícios que significava ter
Lady Haughston como cliente, sorriu e assentiu.
- Pois sim. Têm razão, senhora. O preço é... né... um terço menor do que
indica a etiqueta -disse. Ao ver o sorriso de Francesca, assentiu novamente -
Isso é. Um terço menos. Uma verdadeira pechincha.
Constance olhou o preço e fez um rápido cálculo mental. Nunca tinha
gasto tanto dinheiro em um chapéu. Entretanto, tampouco nunca tinha visto
um chapéu tão bonito e elegante como aquele.
- Está bem - concordou, despedindo-se das economias daquele mês –
Levarei ele.
Francesca ficou encantada com a compra de Constance, e por sua vez
adquiriu o chapéu de veludo azul. Depois se empenhou em comprar um
ramalhete de capullitos de seda para que Constance adornasse o cabelo.
- Tolices - disse quando Constance começou a protestar - Ficarão perfeitos
com o vestido azul que vou lhe emprestar. É um presente. Não pode recusá-lo.
Uma vez realizada a compra, Constance e Francesca voltaram para
carruagem com as caixas dos chapéus e ocuparam seus assentos. Quando se
puseram em marcha, Constance se voltou para sua nova amiga.
- Senhora... Francesca, por que está fazendo isto?
Lady Haughston a olhou com uma expressão de suprema inocência.
- Fazendo o que, querida?
- Tudo isto - disse Constance, e fez um gesto vago a seu redor - me
Convidar a sair consigo esta tarde. me oferecer um vestido. Convidar a minha
família ao baile de Lady Simmington.
- Ah, porque me cai muito bem -respondeu Francesca - por que ia ter outro
motivo?
- Não sei - respondeu Constance sinceramente - Mas não posso acreditar
que nos visse minha tia, a minhas primas e a mim no baile e se sentisse tão
encantada conosco para fazer com que Lady Welcombe nos apresentasse.
Francesca olhou pensativamente a Constance e suspirou.
- Muito bem. Tem razão. Tinha uma razão para querer conhecê-la. Agrada-
me muito; é uma jovem encantadora e tem um olhar inteligente e de bom
humor. Eu gostaria de ser sua amiga. Mas não foi essa a razão pela qual me
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aproximei para conhecê-la. A verdade
é que... fiz uma aposta com alguém.
- Uma aposta? - repetiu Constance, desconcertada - A respeito de mim?
Que tipo de aposta?
- Estava fanfarroneando. Deveria aprender a conter a língua - admitiu
Francesca.
- Rochford me desafiou e... bom, apostei com ele que poderia lhe
encontrar um marido antes de que terminasse a temporada.
Constance ficou boquiaberta. Durante um instante não soube o que
pensar nem o que dizer.
- Sinto-o - disse Francesca ao mesmo tempo que apoiava uma mão, com
um gesto conciliador, sobre o braço de Constance-. Sei que não deveria havê-lo
feito, e o lamentei imediatamente. E tem todo o direito de se zangar comigo.
Entretanto, rogo que não o faça. Não queria lhe fazer mal, seriamente.
- Não queria me fazer mal! - exclamou Constance, zangada e ressentida. -
Não, claro que não. Por que ia importar-me que me pusesse em ridículo diante
de todo mundo?
- Em ridículo? - repetiu Lady Haughston, alarmada - por que pensa isso?
- E o que outra coisa vou pensar se me fez objeto de uma aposta pública?
- Oh, não, não. Não foi pública absolutamente. Foi algo entre o Rochford e
eu, unicamente. Ninguém mais sabe, asseguro-lhe - assegurou Francesca com
sinceridade-. E prometo-lhe que ele não contará a ninguém. Nunca conheci a
um homem mais hermético -disse com certa exasperação.
- E se supõe que com isso se arruma tudo? - perguntou Constance.
Francesca lhe tinha agradado muito desde o começo, e depois de saber
aquilo, sentia-se traída. Embora tivesse umas dúvidas razoáveis sobre a
atitude da dama, Constance achava humilhante que Lady Haughston não
tivesse procurado sua amizade mas sim só a estivesse usando como prova de
suas habilidades como casamenteira.
- Por que fui eu a escolhida? Acaso era a mulher com menos possibilidades
de encontrar marido de todo o baile?
- Não, por favor, não deve pensar isso! -exclamou Francesca, angustiada-.
Oh, estraguei tudo. A verdade é que fizemos a aposta e depois Rochford
escolheu à mulher. Quando escolheu a você eu me senti muito aliviada, porque
pensei que ia selecionar a uma de suas primas, e então a tarefa seria
formidável. Não sei por que escolheu a você, além de estar claramente
relegada a um segundo plano por sua tia e suas primas. Rochford deve ter
pensado que, por parte de sua família, eu não obteria nenhuma ajuda.
- Isso é muito certo - disse Constance, sem poder dissimular sua
amargura.
- Minha querida Constance - Francesca tomou uma mão e a estreitou
brandamente - Eu soube, imediatamente, que ele tinha cometido uma tolice ao
escolhê-la, porque convertê-la em uma das belezas da temporada seria muito
fácil para mim. É muito difícil dar a uma pessoa engenho ou beleza quando não
tem nenhuma das duas coisas. Entretanto, estar a falta de uma fortuna não é
algo difícil de superar, ao menos quando se tem estilo, inteligência e uma boa
figura, além de beleza.
- Não vai conseguir me enganar com adulações - lhe advertiu Constance.
Entretanto estava sendo difícil continuar zangada com Lady Haughston.
Aquela mulher era muito honesta, e tinha um sorriso difícil de resistir.
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- Não estou tentando enganá-la - assegurou Francesca.
- Então, o que pretende?
- Só sugiro que você e eu unamos forças. Que trabalhemos juntas para lhe
encontrar um marido.
- Quer que a ajude a ganhar a aposta? - perguntou Constance com
incredulidade.
- Não. Quero dizer, sim, claro que quero, mas esse não é o motivo pelo
qual você desejaria me ajudar.
- Eu não desejo ajudá-la - afirmou Constance.
- Ah, mas deveria. Possivelmente eu só ganhe uma aposta, mas os
benefícios para você são muito maiores.
Constance a olhou com cepticismo.
- Não esperará que acredite que vou conseguir um marido com tudo isto.
- E por que não?
Constance enrugou o nariz.
- Eu não gosto muito de enumerar minhas desvantagens, embora saiba
que são evidentes. Não tenho fortuna. Já passei da idade para me casar, e não
sou nenhuma beleza. Só estou em Londres para ajudar que minhas primas se
casem. Sou sua acompanhante, não uma mocinha em sua estréia.
- A falta de fortuna é um obstáculo - admitiu Francesca -, mas não é
impossível de superar. Quanto a seu aspecto, bem, se pentear-se
adequadamente e buscar algo que exiba seu físico atraente, em vez de
escondê-lo, seria uma mulher muito atraente. E tampouco pareceria muito
mais velha que suas primas. me diga uma coisa, quem decidiu que sempre se
vista de marrom e de cinza?
- A minha tia parece mais apropriado para uma solteira, embora não me
obrigue a vestir assim.
- Mas você, é claro, sente certas obrigações para com ela, porque vive sob
seu teto.
- Sim, mas... não só é isso. Tampouco quero parecer uma idiota.
- Uma idiota? por que?
Constance encolheu os ombros.
- Estou acostumada viver no campo. Não tenho nenhuma sofisticação. De
fato, nunca tinha estado em Londres. Não tenho vontade de dar tropeções ante
toda a alta sociedade. Não quero fazer o ridículo me vestindo de uma maneira
pouco apropriada para uma mulher de minha idade.
- Querida Constance, se vestir-se de acordo com meus conselhos,
asseguro que ninguém pensará que sua aparência é pouco apropriada.
Constance não pôde conter uma suave gargalhada.
- Estou certa de que não, Francesca, mas a verdade é que abandonei
qualquer esperança de me casar.
- Quer passar o resto da vida vivendo com seus tios? Estou segura de que
está muito agradecida a eles, mas não acredito que seja muito... feliz com eles.
Constance lhe lançou um olhar de remorso.
- É tão evidente?
- As diferenças que há entre vocês são muito claras - disse Francesca sem
rodeios-. Não se pode ser feliz vivendo com gente com a que se tem tão pouco
em comum. Além disso, eu não penso que seus tios andaram bem consigo.
Ontem à noite me disse que não te apresentou em sociedade porque seu pai
ficou doente. Você foi uma filha boa e carinhosa. Mas, quando seu pai faleceu e
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[As Casamenteiras 01]
foi viver com seus tios, quantos anos tinha?
- Vinte e dois. Muito tarde para minha estréia.
- Não era muito tarde para participar de sua primeira temporada social –
replicou Francesca - Se tivessem querido comportar-se bem com você, eles
teriam procurado que tivesse essa oportunidade. Sei que não deveria falar mal
de seus parentes, mas tenho que lhe dizer que me parece que seus tios foram
egoístas. economizaram-se o gasto de uma temporada e a mantiveram em sua
casa para que estivesse a sua inteira disposição, cuidando de suas filhas e
fazendo os recados. E agora, em vez de deixar que desfrute nas festas, sua tia
a obrigou a ser a dama de companhia de suas primas, assegurando-se de que
levasse roupa escura e o cabelo sem arrumar - disse. Depois olhou a
Constance com perspicácia e acrescentou - Claro que quer que esteja o mais
insípida possível. Já faz sombra a suas filhas desta maneira.
Constance se moveu com desconforto no assento. A descrição que Lady
Haughston fazia de sua vida com a tia Blanche era muito acertada.
- Não pode passar a vida vivendo com eles - prosseguiu Francesca,
aproveitando a oportunidade do silêncio de Constance - Além disso, me parece
que é uma mulher independente e com opiniões próprias. Não deseja ter sua
própria casa, sua própria vida? Um marido e filhos?
Constance recordou aquele breve tempo, anos atrás, com Gareth, quando
ela tinha acreditado que aquela vida podia ser a sua.
- Nunca quis me casar só para alcançar uma posição na vida - lhe disse
Constance silenciosamente - Possivelmente acreditará que sou tola, mas eu
gostaria de me casar por amor.
Constance não conseguiu decifrar o significado do olhar de Lady
Haughston enquanto a contemplava.
- Espero que encontre o amor - lhe disse a dama gravemente -, mas se
ame ou não se ame, o casamento proporciona independência a uma mulher.
Terá um lugar na vida, um status que não se pode encontrar nem sequer na
mais feliz das situações, com pais carinhosos e ricos. E não há comparação, é
obvio, com o fato de viver sob o suposto amparo de parentes exigentes e
egoístas.
- Sei - respondeu Constance em voz baixa - Mas não posso me atar a um
homem sem o querer para toda a vida.
Francesca afastou o olhar. Finalmente, depois de um longo instante, disse:
- Em realidade, não há razão para pensar que não se pode encontrar a um
marido a quem queira durante a temporada social. Ninguém a obrigará a se
casar com o primeiro que lhe peça isso. Mas, não quereria ter a oportunidade
de buscá-lo? Não acha que é justo que experimente aquilo que perdeu?
Aquilo tocou uma fibra sensível a Constance. Ela tinha ficado com seu pai
durante seus anos de enfermidade, e tinha tentado por todos os meios não
sentir melancolia por como poderiam ter sido as coisas. Entretanto, não podia
negar que, em certos momentos, perguntou-se como teriam sido as coisas se
tivesse podido apresentar - se em sociedade em Londres. Não tinha podido
evitar o desejo de experimentar algo daquele glamour.
Francesca, ao notar a vacilação de Constance, seguiu expondo seus
argumentos.
-Você não gostaria de desfrutar de uma temporada, de ter vestidos
bonitos e paquerar com seus pretendentes? Você não gostaria de dançar com
os melhores partidos de toda a Inglaterra?
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[As Casamenteiras 01]
Constance pensou no visconde Leighton. Como seria paquerar com ele?
Dançar com ele? Desejava com todas suas forças vê-lo de novo, levando roupa
bonita e o cabelo caindo ao redor do rosto em caracois.
- Mas, como vou ter eu uma temporada social? - perguntou a Francesca -
vim a Londres em qualidade de acompanhante de minhas primas. E minha
roupa...
- Me deixe isso . Eu me assegurarei de que receba convites para as festas
adequadas. E estarei ali para guiá-la por entre as águas perigosas da alta
sociedade. Convertê-la-ei na mulher mais solicitada de Londres.
Constance riu.
- Não acredito que pudesse me converter nessa criatura, por muito que
você se esforçasse.
Francesca lhe lançou um olhar de altivez.
- Acaso duvida de minha habilidade?
Constance supôs que se alguém podia conseguir o que Francesca lhe
havia dito, seria a própria Francesca. E de qualquer modo, embora não a
convertesse na mulher mais solicitada de Londres, podia ajudá-la a
experimentar vivencias muito mais interessantes da temporada social que as
que estava experimentando com sua família. É obvio, a tia Blanche se
incomodaria. Aquela idéia produziu a Constance uma ligeira e perversa
satisfação.
- Eu me encarregarei de sua tia - continuou Francesca, como se tivesse
lido o pensamento de Constance-. Acredito que ela não se queixará, porque
sua família, ao fim e ao cabo, receberá os mesmos convites que você. E ela
não quererá me contrariar. Se a escolher como amiga, não acredito que se
oponha. Quanto à roupa, pode ser que não acredite, mas sou muito boa
economizando. Repassaremos seu guarda-roupa e veremos como podemos
conseguir que seus vestidos sejam mais atraentes. Por exemplo, o vestido que
levava ontem à noite, com um decote ligeiramente mais baixo e um pouco de
bordado por aqui e por lá, parecerá outra coisa. Minha criada Maisie é uma
maravilha com a agulha. Ela saberá o que fazer. Amanhã enviarei a minha
carruagem para buscá-la e trará seus melhores vestidos a minha casa.Veremos
o que podemos fazer com suas coisas e veremos que vestidos meus podemos
usar.
Constance sentiu entusiasmo. Pensou em suas economias. Podia usar algo
daquele dinheiro para comprar um ou dois vestidos bonitos. Algo que pudesse
fazer que um homem, por exemplo, Lorde Leighton, aproximasse-se dela do
outro extremo do salão de baile. Embora isso significasse que tinha que viver
uns meses mais com seus tios, ou possivelmente uns anos mais, ao menos
teria um maravilhoso verão que recordar. Uma temporada cheia de diversão e
emoção, lembranças que durariam toda a vida. Constance se voltou para
Francesca.
- E faria tudo isto para ganhar a aposta?
Francesca sorriu.
- Isto é algo mais que uma simples aposta. É algo a respeito de um
cavalheiro a quem quero demonstrar que está equivocado. Além disso, será
divertido. Então, quer fazê-lo?
Constance titubeou durante um momento e depois respirou
profundamente.
- Sim. Sim, quero ter uma temporada de verdade.
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Francesca sorriu novamente.
- Maravilhoso. Então, comecemos já.
Constance passou o resto do dia em uma orgia de compras. Para surpresa
de Constance, Lady Haughston era uma perita adquirindo pechinchas. Só
foram necessárias umas palavras e um sorriso para sua costureira favorita e a
mulher reduziu grandemente o preço do vestido que interessava mais a
Constance. Além disso, a senhorita do Plessis também tirou um vestido de
festa que lhe tinham encarregado mas que não tinham pago nem recolhido, e
que aceitou a vender a Constance por uma pequena fração de seu preço
original.
Depois, Francesca e Constance se dirigiram a lojas mais baratas onde
encontrar complementos para seu guarda-roupa. Sua seguinte parada foi
Grafton House, onde compraram bordados, laços, passamanarias, botões e
todo o necessário para animar os vestidos de Constance, além de luvas e um
par de leques.
Quando terminaram as compras, aquela tarde, Constance estava exausta,
mas quase embriagada de emoções. Estava impaciente por chegar a casa e
repassar tudo o que tinha adquirido.
- Sinto-me decadente - disse a Francesca, sorrindo, enquanto saíam da
última loja e se dirigiam à carruagem-. Nunca tinha esbanjado tanto.
- Deveria fazê-lo mais freqüentemente. me parece que esbanjar é um bom
estimulante para a alma. Asseguro-me de fazê-lo freqüentemente.
O cocheiro tomou as bolsas de Constance e de Francesca e as colocou na
boléia, junto a seu assento, pois o porta-malas e parte dos assentos interiores
já estavam cheios. Francesca tomou a mão que lhe oferecia o criado para subir
à carruagem quando ouviu uma voz masculina que a chamava.
- Francesca!
Lady Haughston se deteve e se voltou para o homem. Seu rosto se
iluminou e lhe dedicou um sorriso esplêndido.
- Dominic!
- Francesca, querida. De compras outra vez?
Constance se virou também para o homem que caminhava para elas
tirando o chapéu. Tomou a mão a Francesca e a sorriu com uma calidez e um
afeto evidentes.
Constance ficou olhando-o, surpreendida. Quer a ela, pensou, com uma
profunda consternação.
- Parece que essa é a única forma em que posso vê-lo - disse Francesca,
rindo. - Nunca vai ver-me. É o homem mais separado do mundo.
Ele riu também.
- Sei que sou incorrigível. Detesto fazer visitas.
- Olhe, quero apresentá-lo a alguém - disse Francesca, voltando-se para
Constance.
O homem seguiu seu olhar e abriu os olhos de par em par.
- Senhorita Woodley!
- Lorde Leighton.
Capítulo 4
- Conhecem-se? - perguntou Francesca, assombrada.
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Candace Camp
[As Casamenteiras 01]
- Conhecemo-nos ontem à noite - respondeu Constance, com a esperança
de que seu tom de voz soasse natural.
Era algo absurdo que se sentisse tão abatida pelo fato de que o visconde
Leighton e Lady Haughston tivessem uma relação, evidentemente, tão
próxima. Em realidade, não tinha pensado nunca que tivesse oportunidade de
lhe parecer atraente. E de qualquer modo, aquele homem era claramente um
libertino, porque ia por aí roubando beijos a mulheres à quem mal conhecia.
- A senhorita Woodley é muito modesta -disse Leighton, com os olhos
azuis iluminados pela diversão - Me salvou a vida ontem à noite no rout de
Lady Welcombe.
- Isso é um exagero - murmurou Constance.
- Claro que sim -insistiu ele, voltando-se para Francesca-. Lady Taffington
me estava perseguindo ontem à noite, e a senhorita Woodley foi muito amável
e a desviou de meu rastro.
Francesca riu.
- Então sou duplamente amiga tua, Constance. Temo que meu irmão
necessita freqüentemente esse tipo de ajuda. É muito bom e não pode
suportar ser mal educado. Deveria tomar exemplo do Rochford, Dom. Ele é um
perito extinguindo pretensões. Constance não ouviu a resposta de Lorde
Leighton à brincadeira de Francesca. O visconde era o irmão de Lady
Haughston! Constance se disse, rapidamente, que era absurdo permitir-se
sentir alívio ao conhecer a relação que havia entre eles. Para ela não
significava nenhuma diferença que o afeto que existia entre Lorde Leighton e
Francesca proviesse dos laços familiares e não de uma atração romântica.
- Venha conosco -disse Francesca a seu irmão-. terminamos com as
compras, assim não tem que temer que o arrastemos a alguma loja.
- Nesse caso, aceito sua amável oferta -disse Lorde Leighton, e ofereceu a
mão a sua irmã para ajudá-la a subir à carruagem.
Depois se voltou para Constance e ofereceu a mesma ajuda. Deu-lhe a
mão, sentindo perfeitamente seu contato, apesar de ser muito breve e ambos
levassem luvas. Olhou-o no rosto ao subir à carruagem, e não pôde evitar
recordar aquele momento no qual ele a tinha beijado na biblioteca, e, por seu
olhar, soube que ele também o estava recordando. Constance se ruborizou e
afastou o olhar. Entrou rapidamente na carruagem e se sentou junto a
Francesca. Leighton subiu também e ocupou o assento que havia frente a elas,
rindo enquanto afastava a profusão de caixas.
- Já vejo que teve uma tarde muito frutífera - lhes disse - Espero que tudo
isto não lhe pertença, Francesca.
- Não, claro que não. A senhorita Woodley é proprietária de uma boa
parte. Temos intenção de deixar assombrado a todo mundo no baile de Lady
Simmington de amanhã.
- Estou seguro de que as duas o conseguirão -respondeu Dominic
galantemente.
- Vai ao baile? -perguntou-lhe Francesca-. Deveria nos acompanhar.
Constance vai vir a minha casa antes para que nos preparemos, e depois
iremos juntas.
- Essa será uma tarefa muito agradável -respondeu ele-. Será uma honra
acompanhá-las.
-Protegeremos você das mães casamenteiras - prometeu Francesca em
tom de brincadeira.
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Candace Camp
[As Casamenteiras 01]
Leighton respondeu no mesmo tom ligeiro, e sua conversa continuou
enquanto a carruagem seguia avançando pelas ruas de Londres. Constance
contribuiu pouco à conversa. Conhecia muito pouco da gente de quem
estavam falando e, de qualquer modo, ela se conformava escutando e
observando.
Tinha pensado que talvez recordasse o visconde mais bonito do que era,
mas vendo-o naquele momento, pensou que a realidade superava todas suas
lembranças. À luz do dia, seu queixo era marcado e limpo, seus olhos de um
azul assombroso e seu cabelo loiro e brilhante sob o sol. Era um homem alto e
largo de ombros, e sua presença masculina enchia a carruagem.
Para Constance não era difícil entender por que as mães casamenteiras e
suas filhas o perseguiam. Era um homem muito bonito, e além disso tinha um
título importante.
Se recordava corretamente as coisas que sua tia havia dito sobre Lady
Haughston, seu pai era conde, e visconde era o título que se outorgava
normalmente ao herdeiro de um condado. Por aquele título, tão somente, ele
seria muito solicitado. E o fato de ser tão bonito e tão encantador, além disso,
assegurava que muitas mulheres quisessem lhe dar caça.
É obvio, aquilo fazia muito mais impensável que Constance pudesse ter
alguma oportunidade com ele. Embora Francesca tivesse razão em seu
encargo otimista de que Constance podia encontrar um marido aquela
temporada, ela sabia que sem dúvida aspirava a algo menos elevado que um
título para ela. E o beijo de Lorde Leighton, por muito maravilhoso que tivesse
sido para Constance, não era algo sobre o que fundar esperanças; ela estava
segura de que para ele não tinha significado nada. No melhor dos casos, tinha-
lhe demonstrado que se sentia atraído por ela. No pior, que tinha o costume de
beijar a qualquer moça a que se encontrasse a sós. Não significava que ele
tivesse interesse nela; talvez justamente o contrário. Depois de tudo, um
homem cavalheiresco não tomava aquelas liberdades com uma mulher com
quem não estivesse pensando em casar-se, mas só com a que pretendesse ter
uma aventura.
É obvio, Constance não tinha intenção de manter uma aventura com ele.
Entretanto, um pouco de paquera... isso era diferente.
Constance olhou pela janela para ocultar um pequeno sorriso. Estava
desejando que chegasse o baile do dia seguinte. Seria muito agradável o fato
de que Lorde Leighton a visse em seu melhor momento.
A carruagem se deteve frente a uma espaçosa casa de tijolo vermelho, e
Leighton olhou por sua janela.
- Ah, já chegamos - disse. Abriu a porta e desceu à rua - Obrigado por este
trajeto tão agradável - disse, e depois fez uma reverência geral para elas -
Estou desejando vê-las de novo amanhã - acrescentou, e depois olhando a
Constance - Me alegro muito de tê-la encontrado outra vez, senhorita Woodley.
Deve me prometer que dançara comigo a primeira valsa.
Constance lhe devolveu o sorriso.
- Farei isso.
- Então, me despeço - disse Lorde Leighton. Fechou a porta e se afastou
da carruagem, que se pôs outra vez em marcha.
- Seu irmão é uma pessoa muito agradável - disse Constance a Francesca
depois de um momento.
- Sim - respondeu Francesca, sorrindo com uma expressão de afeto - É
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[As Casamenteiras 01]
muito fácil ter simpatia por Dominic. Mas há muito mais do que se acredita. Ele
lutou na Península.
- Seriamente? - Constance olhou a Francesca com surpresa - Estava no
exército? - perguntou. Aquilo lhe era estranho porque era muito pouco comum
que o primogênito e herdeiro de uma família com fortuna e título fosse à
guerra.
Francesca assentiu.
- Sim. Com os hussardos. De fato, foi ferido, mas felizmente sobreviveu. E
depois, claro, quando Terence morreu, Dom teve que voltar para casa. Acredito
que sente falta do exército.
Constance assentiu, entendendo-o tudo. Sim era comum que os filhos
mais novos fizessem a carreira militar, ou entrassem no corpo diplomático, ou
na igreja; entretanto, se o primogênito morresse, o segundo devia ocupar seu
lugar como herdeiro, e seu futuro mudava. Um dia, ele herdaria toda a riqueza
e as responsabilidades do patrimônio familiar, e a carreira que tinha estado
desenvolvendo passava a um segundo plano.
- E agora que é herdeiro, converteu-se no alvo de todas as moças
casadouras.
Francesca riu.
- Sim, pobrezinho. Ele não o passa bem, asseguro. Suponho que há
homens que desfrutariam muito com esse tipo de popularidade, mas Dom não.
É obvio, um dia terá que casar-se, mas suspeito que vai adiar esse dia tanto
como lhe seja possível. Acredito que gosta um pouco de flertar.
Constance se perguntou se Francesca estava lhe fazendo uma ligeira
advertência sobre seu irmão, dizendo a Constance, em resumo, que não
pusesse suas esperanças nele. Constance a olhou fixamente, mas não
encontrou no semblante de Francesca indicação alguma de que estivesse
pensando algo semelhante. Entretanto, Constance não necessitava de
advertências. Sabia muito bem que um homem da posição de Lorde Leighton
não se casaria com alguém como ela.
Desde que mantivesse aquilo em mente, não obstante, e não lhe
entregasse seu coração, não teria nada de mau paquerar um pouco com
aquele homem. Podia dançar com ele, rir com ele, divertir-se um pouco. E
depois de tudo, aquilo era o que podia esperar da temporada, pensando-o
bem.
Quando chegaram a casa de seus tios, Lady Haughston entrou com
Constance. A tia Blanche olhou com os olhos exagerados todas as bolsas e
pacotes que o cocheiro levou a vestíbulo, seguido por Constance e pela mesma
Lady Haughston.
- Minha senhora! Oh, Meu deus. Annie, vêem aqui e toma essas bolsas. O
que...?
Tia Blanche ficou petrificada, olhando a sua sobrinha e a aristocrata com
total desconcerto.
- Não compramos todas as lojas, Lady Woodley - lhe assegurou Francesca
alegremente - Entretanto, acredito que sua sobrinha e eu deixamos um bom
buraco nos armazéns de Oxford Street.
- Constance? - perguntou a tia Blanche - comprou tudo isto?
- Sim - respondeu Constance - Lady Haughston me assegurou que meu
guarda-roupa era muito reduzido.
- Constance! - exclamou Francesca, rindo-se. - Eu nunca disse semelhante
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coisa. Sua tia vai pensar que sou uma mal educada. Eu só sugeri que
acrescentasse umas quantas coisas por aqui e por lá.
Francesca se voltou para Lady Woodley.
- Parece-me que as garotas raramente se dão conta de todos os
complementos que se necessitam para uma temporada, não lhe parece?
Tal como era de esperar, Lady Woodley assentiu, sem atrever-se a
mostrar desacordo com uma das damas mais importantes da alta sociedade.
- Sim, mas eu... bom, Constance, isto é um pouco inesperado.
- Sim, sei. Mas estou segura de que tenho lugar no armário para tudo. E
Lady Haughston aceitou amavelmente me ajudar a decidir o que devo fazer
com meus vestidos.
Ao saber que aquela mulher elegante e aristocrática ia subir ao pequeno
quarto de sua sobrinha e a olhar os poucos vestidos que tinha, Lady Woodley
ficou entre o êxtase e a vergonha.
- Mas, senhora, certamente... quero dizer, que Constance não deveria lhe
ter pedido algo assim - disse finalmente, engasgando-se com as perguntas.
- Oh, ela não me pediu - disse Francesca - Eu me ofereci voluntariamente.
Não há nada que eu goste mais do que animar um guarda-roupa. É todo um
desafio, não acha?
Começou a subir as escadas atrás de Constance, com Lady Woodley atrás,
balbuciando oferecimentos de chá e doces, intercalados com advertências a
Constance para que não abusasse de Lady Haughston.
Na porta do quarto de Constance, a tia Blanche titubeou. Era um
dormitório muito pequeno, e tudo estava cheio de bolsas e caixas. Mal havia
lugar para as três, mas claramente Lady Woodley não gostava absolutamente
de afastar-se de Lady Haughston. assim, ficou na entrada, com aspecto de
encontrar-se desconfortável mas sem deixar de tagarelar, enquanto Francesca
e Constance tiravam os vestidos de Constance e os estendiam sobre a cama.
- Que poucos vestidos, meu amor - disse a tia Blanche a sua sobrinha -
Disse que devia trazer mais à cidade. Mas claro, uma moça nunca prevê todos
os vestidos que vai precisar - acrescentou, e olhou a Francesca procurando sua
cumplicidade - E, é obvio, Constance é só a dama de companhia das meninas.
- Isso é desatinado - disse Lady Haughston com energia - Constance é
muito jovem para desempenhar esse papel... como, sem dúvida, você dirá isso
freqüentemente.
- Oh, é obvio! - exclamou a tia Blanche - Mas, o que se pode fazer?
Constance é por natureza muito introvertida, e, depois de tudo, já tem muita
idade para apresentar-se em sociedade.
Francesca emitiu um ruído de desdém.
- Faltam muitos anos para que Constance alcance esse ponto. Só terá que
olhá-la para dar-se conta do ridículo que é lhe pôr uma data arbitrária à estréia
de uma moça.
Algumas mulheres são muito mais belas a esta idade que quando saíram
da escola. Você mesma o terá notado, estou certa.
- Bom - disse a tia Blanche com incerteza.
Não podia mostrar desacordo com as afirmações de Lady Haughston,
sobre tudo, tendo em conta a facilidade com a que vinculava seus
pensamentos com os da tia de Constance.
Blanche Woodley observou como Francesca e Constance emparelhavam
laços com vestidos e descartavam outros para os vestidos de dia, e escutou
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como falavam de descer decotes e acrescentar sobre-saias e caudas, ou de
substituir mangas com outras de uma cor que contrastasse com o corpo dos
vestidos.
Constance também havia sentido certa vergonha ao expor seu pobre
armário a Lady Haughston, mas Francesca não foi outra coisa que objetiva e
prática. Tinha muito bom olho para a cor, o que não surpreendeu a Constance,
dada a elegância com a que se vestia.
Mas Constance achava estranho que alguém como Lady Haughston
soubesse tantas maneiras de modificar, de pôr ao dia e de melhorar o guarda-
roupa de alguém.
Era tão estranho como o fato de que conhecesse os lugares onde comprar
laços, encaixe e acessórios ao melhor preço. Constance não pôde deixar de
perguntar-se se a própria Lady Haughston não estaria também em uma
situação econômica difícil. Ela não tinha ouvido nenhum rumor, mas
claramente Francesca era uma perita ocultando-o, ao menos quanto à
vestimenta.
Depois de pouco tempo, Georgiana e sua irmã apareceram pelo corredor e
ficaram junto a sua mãe, contemplando com assombro como Francesca se
movia pelo pequeno dormitório.
Quando, finalmente, a dama partiu, recordando a Constance que devia ir a
sua casa no dia seguinte, à tarde, antes do baile, as duas garotas se voltaram
para sua mãe e começaram a queixar-se.
- Por que vai ela a casa de Lady Haughston? - perguntou-lhe Georgiana
com um olhar depreciativo para Constance - por que não podemos ir nós
também?
- Eu vou porque Lady Haughston me pediu isso.
- Isso já sei - replicou Georgiana - Mas, por que? por que quer que você
vá? E por que a levou às compras hoje com ela?
Constance encolheu os ombros. Não estava disposta a contar a suas
parentes os planos que Francesca tinha para ela.
- E como comprou todas estas coisas? - perguntou-lhe Margaret, olhando
os vestidos e os adornos que tinha espalhados pela cama.
- Com o dinheiro que estive economizando.
- Sim, bom, se tiver tanto dinheiro, poderia ter pensado em nos ajudar um
pouco - disse a tia Blanche com expressão ofendida-. Nós lhe demos teto e
comida durante estes seis últimos anos.
- Tia Blanche! Sabe que lhe dou dinheiro todos os meses! - protestou
Constance.
- E sempre pago minhas coisas.
Sua tia encolheu os ombros, como se o argumento de Constance não
tivesse nada que ver com o que ela havia dito.
- Não entendo por que Lady Haughston tem preferência por você. É
inexplicável. Por que não saiu com Georgiana?
- E eu? - perguntou Margaret com indignação.
- Eu sou a mais velha - disse Georgiana a sua irmã com altivez.
As duas garotas começaram a discutir. Então, Constance deu a volta e
começou a dobrar e guardar as coisas que tinha sobre a cama. depois de uns
minutos, sua tia e suas primas se afastaram de seu quarto e continuaram