Fábulas de Esopo Ilustradas por Esopo - Versão HTML
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O Lobo e as Ovelhas
H1865
Havia uma guerra entre os Lobos e as Ovelhas; estas, embora
fossem mais fracas, como tinham a ajuda dos cães levavam
sempre a melhor. Os Lobos então pediram paz, com a condi-
ção de que dariam de penhor os seus filhos, se as Ovelhas
também lhes entregassem os cães.
As ovelhas aceitaram estas condições e foi feita a paz.
Contudo, os filhos dos Lobos, quando se viram na casa das
ovelhas, começaram a uivar muito alto. Acudiram logo os
pais, a pensar que isso significava que a paz havia sido que-
brada, e recomeçaram a guerra.
Bem quiseram defender-se as Ovelhas; mas como a sua
principal força consistia nos cães, que havia entregado aos
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Lobos, foram facilmente vencidas por eles e acabaram
degoladas.
Moral da história
Ensina esta Fábula que ninguém deve entregar as armas aos seus inimigos,
antes tenha a paz por suspeitosa. Também nos avisa quanto ao perigo de
meter em casa inimigos, ou filhos de inimigos, como fizeram as Ovelhas, que
querendo estar mais seguras por terem os filhos dos Lobos em casa, foram eles
a causa da sua destruição.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Fábula IV
O Rei dos Macacos e dois Homens
S1479
Dois companheiros que caminhavam juntos pela floresta,
acabaram por se perder. Depois de andarem muito, chega-
ram à terra dos Macacos. Foram logo levados ao rei, que,
mal os viu, lhes perguntou:
— Na vossa terra e nessas que atravessastes, o que se diz de
mim e do meu Reino?
Respondeu um dos homens:
— Dizem que sois um grande Rei de gente sábia e culta.
O outro, que gostava de dizer a verdade, respondeu:
— Toda a vossa gente são macacos irracionais, logo o rei
também é um macaco.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Ouvindo isto, o Rei ordenou que matassem este, e que ao
primeiro oferecessem presentes e o tratassem muito bem.
Moral da história
Verifica-se nesta Fábula o que diz Terêncio, que a verdade causa ódio e o
elogio ganha amigos. Com um Rei ignorante não há sábios nem virtuosos,
apenas chocarreiros e aduladores. Daqui resulta que frequentemente os bons
são rebaixados e obedecem aos maus, que o Rei Macaco tem ódio a quem o
desengana, e que o que mente, como aqui fez o primeiro companheiro, é fa-
vorecido.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Fábula V
A Andorinha e as outras Aves
H1865
Estavam os homens a semear linho, e, ao vê-los, disse a An-
dorinha aos outros pássaros:
— Para nosso mal fazem os homens esta seara, que desta
semente nascerá linho, e dele farão redes e laços para nos
prenderem. Melhor será destruirmos a linhaça e a erva que
dali nascer, para estarmos seguras.
As outras Aves riram-se muito deste conselho e não quiseram
segui-lo. Vendo isto, a Andorinha fez as pazes com os homens
e foi viver em suas casas. Algum tempo depois, os homens
fizeram redes e instrumentos de caça, com os quais apa-
nharam e prenderam todas as outras aves, poupando ape-
nas a Andorinha.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Moral da história
A Andorinha representa o homem prudente, que fica livre de dificuldades se
consegue antecipá-las. Os que querem viver a seu gosto, sem ouvirem con-
selhos nem preverem o mal que está para vir, são caçados e castigados devi-
do à sua ignorância.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Fábula VI
O Rato e a Rã
MW1919
Um Rato desejava atravessar um rio, mas tinha medo, pois
não sabia nadar. Pediu então ajuda a uma Rã, que se ofere-
ceu para o levar para o outro lado desde que se prendesse a
uma das suas patas.
O Rato concordou e, encontrando um pedaço de fio, pren-
deu uma das suas pernas à Rã. Mas, mal entraram no rio, a
Rã mergulhou, tentando afogar o Rato. Este, por sua vez, de-
batia-se com a Rã para se manter à superfície. Estavam os
dois nestes trabalhos e canseiras quando passou por cima um
Milhafre que, vendo o Rato sobre a água, baixou sobre ele e
levou-o nas garras juntamente com Rã. Ainda no ar, comeu-
os a ambos.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Moral da História
Nesta Rã, e na sua morte, se vê aquilo que ganham os maus quando
atraiçoam aqueles que neles confiam. Porque quase sempre recebem o mal
que para outros ordenam; e se o inocente morre, não escapam eles do cas-
tigo merecido; que mesmo que se livrem do castigo temporal, cairão depois
da morte num castigo ainda mais temível.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Fábula VII
O Ladrão e o Cão de Guarda
HW1867
Um ladrão, desejando entrar à noite numa casa para a rou-
bar, deparou-se com um cão que com os seus latidos o impe-
dia. O cauteloso ladrão, para apaziguar o Cão, lançou-lhe
um bocado de pão. Mas o Cão disse:
— Bem sei que me dás este pão para que eu me cale e te
deixe roubar a casa, não porque gostes de mim. Mas já que é
o dono da casa que me sustenta toda a vida, não vou deixar
de ladrar enquanto não te fores embora ou até que ele
acorde e te venha afugentar. Não quero que este bocado
de pão me custe morrer de fome o resto da vida.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Moral da História
Quem se fia em palavras lisonjeiras, acha-se no fim enganado. Mas quem
suspeita das ofertas e das palavras de lisonjeio, não se deixa enganar.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Fábula VIII
O Cão e a Ovelha
O1574
O Cão pediu à Ovelha certa quantidade de pão, que dizia
haver-lhe emprestado. A Ovelha negou ter recebido tal coi-
sa. O Cão apresentou então três testemunhas a seu favor, as
quais havia subornado: um Lobo, um Abutre e um Milhafre.
Estes juraram ter visto a Ovelha receber o pão que o Cão re-
clamava. Perante isso, o Juiz condenou a Ovelha a pagar,
mas não tendo ela meios de o fazer, foi forçada a ser tosqui-
ada antes de tempo para que a lã fosse vendida como pa-
gamento ao Cão. Pagou então a Ovelha pelo que não co-
mera e ainda ficou nua, padecendo as neves e frios do
inverno.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Moral da história
Parece que já no tempo em que Esopo escreveu esta Fábula se adivinhava o
que hoje passa em muitos lugares, onde roubam aos pobres e fracos as honras
e fazendas, com falsos testemunhos de homens desalmados, conjurados para
roubarem o alheio. Que em nenhum lugar, contra bons homens e ovelhas, fal-
tam Lobos e Milhafres que os dispam e lhes chupem o sangue.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Fábula IX
O Cão e a Carne
H1865
Um Cão levava na boca um pedaço de carne, e, ao atra-
vessar um rio, vendo a carne refletida na água, pareceu-lhe
esta maior e soltou a que levava nos dentes para apanhar a
que via dentro de água. Porém, como a corrente do rio ar-
rastou a carne verdadeira, com ela foi também o seu reflexo,
e ficou o Cão sem uma e sem outro.
Moral da história
Este Cão significa a cobiça daqueles que, muitas vezes, por terem maiores in-
teresses, arriscam o que possuem e perdem tudo; como diz bem o provérbio:
mais vale um pássaro na mão do que dois a voar.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Fábula X
A Mosca em cima do carro
O1574
Sobre uma carroça carregada puxada por uma Mula pousou
uma Mosca. Achou-se tão importante por ir no alto, que co-
meçou a falar com arrogância contra a Mula, dizendo que
andasse depressa senão que a castigaria, picando-a onde
lhe doesse. A Mula virou a o rosto dizendo:
— Cala-te, desavergonhada, que não tenho medo de ti, nem
me podes fazer nada, só temo o carroceiro que leva na mão
o açoite. Quanto a ti, só com importunações podes cansar-
me, sem me fazer outro mal.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Moral da história
Esta Fábula mostra a natureza de alguns, que só têm língua, e com ela por-
fiando e contradizendo, cansam e importunam toda a gente, querendo mos-
trar-se muito importantes.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Fábula XI
O Cão e a Máscara
RH1894
Procurando comida, um Cão encontrou a máscara de um
homem muito bem-feita de papelão com cores vivas. Che-
gou-se então a ela e começou a cheirá-la para ver se era um
homem que dormia. Depois empurrou-a com o focinho e viu
que rebolava, e como não quisesse ficar quieta nem tomar
assento, disse o Cão:
— Decerto que a cabeça é linda, mas não tem miolo.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Moral da história
A máscara representa o homem ou mulher que só se preocupa com o aspeto
exterior e não procura cultivar a alma, que é muito mais preciosa. Notam-se
nesta Fábula as pessoas que têm todo o cuidado com enfeites e cores supér-
fluas, formosas por fora, mas a cuja cabeça falta miolo.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Fábula XII
O Leão, a Vaca, a Cabra e a Ovelha
G1870
Um Leão, uma Vaca, uma Cabra e uma Ovelha combinaram
caçar juntos e repartirem o ganho. Acharam então um Vea-
do, e depois de terem andado e trabalhado muito, consegui-
ram matá-lo.
Chegaram todos cansados e, cobiçosos da presa, dividiram-
na em quatro partes iguais. O Leão tomou uma, e disse:
— Esta parte é minha conforme o combinado.
A seguir pegou noutra e acrescentou:
— Esta pertence-me por ser o mais valente de todos.
Pegou numa terceira e disse:
— Esta também é para mim pois sou o rei de todos os animais,
e quem na quarta mexer, considere-se por mim desafiado.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Assim levou todas as partes, e os companheiros acharam-se
enganados e afrontados; mas sujeitaram-se por não terem
tanta força como o Leão.
Moral da história
Parceria e amizade quer-se entre iguais, e o casamento também; conforme
dizia o filósofo, que o mandou aprender aos meninos: cada um com seu igual;
porque quem trava amizade com maior, torna-se seu escravo e tem de lhe
obedecer ou perder pelo menos a amizade, na qual o trabalho é sempre do
mais fraco, e a honra e proveito do mais poderoso.
Carlos Pinheiro
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Fábulas de Esopo
Fábula XIII