O Corpo Fala por Pierre Weil, Roland Tompakow - Versão HTML
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que concorda também.
Tudo positivo também aqui - nada destoa da intenção clara da
mensagem: aceitação, concordância.
CUIDADO, LEITOR!
Positivo - é bom lembrar - aqui não quer dizer "certo", nem negativo "errado"! Não há julgamento ético nisto! Lembre-se que marcamos positivo, de saída, o sinal óbvio, formal (poderia ser a palavra
"sim", pronunciada em voz alta), e negativo tudo que for contrário (o corpo dizendo não). Ou, alguém dizendo "não" em voz alta, isto seria o positivo, e o corpo, dizendo " sim", seria negativo (negando o que está sendo dito em voz alta).
Tudo entendido? Então vamos adiante:
CAPÍTULO 7
Origens Antigas dos Gestos de Hoje
Quando em grupo, nossa linguagem corporal anseia por afirmar o nosso eu. - Vamos juntar "palavras " - e a percepção delas será aprendizagem, ou melhor, reaprendizagem? - O valorfilogenético dos gestos antigos; ou aprova de como nosso vovô pré-histórico escapou de levar uma pedrada da eleita do seu coração por não esperar pela invenção da palavra falada.
O QUE HA DE COMUM ENTRE AS PESSOAS?
Examinamos quatro indivíduos. Podemos afirmar que todos têm
em comum precisamente isto: cada qual zela pela sua individualidade, pela personalidade que lhe é própria.
E demonstra sua ânsia de preservá-la!
Nem precisamos analisar longamente componentes de expressão
facial (de propósito, aquela abundância de óculos e cabelos). A
linguagem do corpo foi coerente, foi harmônica com o desejo de cada EU individual numa dada situação, tanto no nível consciente como nos outros componentes da "esfinge" (À única exceção aparente -o sorriso em a) - retornaremos mais adiante).
Cada um preservou o seu EU, na atitude mental (e corporal) desejada, conscientemente ou não!
Isto, num sentido muito real, é a própria sobrevivência do EU de cada um de nós, ao longo do eixo-tempo da nossa existência.
Mas os indivíduos estudados não estavam isolados em quatro
proverbiais ilhas desertas!
Formaram pares, estavam em grupo.
Ora, quem está num grupo, sempre influencia o comportamento
deste e, por sua vez, também é por ele influenciado. É o que
estudaremos a seguir porque analisar uma pessoa de cada vez e nada mais é como verificar as letras de uma só palavra. Falta ver a frase em que a palavra está!
VAMOS JUNTAR "PALAVRAS"
Há uma interação constante, quando formamos grupos humanos.
Voltemos ao nosso exemplo:
À esquerda o grupo a) - b), tal como o vimos. À direita, nós
dissolvemos o verniz da civilização do casal. Então a linguagem do corpo se tornou acentuada, passou do gesto à ação. O
comportamento interpessoal é inequívoco; é a agressão e defesa,
visíveis nos mesmos gestos, porém dinâmicos, desinibidos.
O grupo a) - b) é negativo (-), é discordante. Esses dois estão em DESACORDO!
Na escala de valores da vida, a autopreservação ocupa o
primeiro lugar - é sobrevivência antes do prazer. Queremos segurança para termos a tranqüila paz, precisamos de paz. para manter o amor e vice-versa; quando inseguros, ficamos ansiosos.
Em todo comportamento interpessoal encontramos atitudes físicas e mentais cuja finalidade é evitar a ansiedade de um "Não!" ao nosso EU, ou de obter a segurança de um "Sim!" concordando com o que somos. Existimos, afirmando nossa
identidade, nossa existência - e vivemos a vigiá-la
inconscientemente (ou, mesmo, conscientemente) ansiosos, quando
em grupo.
Assim, o homem b) anseia por impor o seu EU. Nem precisamos saber qual foi a conversa. Decerto é um desses sujeitos maçantes que só fala dele próprio, sem querer saber se o parceiro está interessado no assunto. Faz um papel de líder ditatorial e a mulher a) resiste, a olhos vistos, a essa negação da sua própria importância!
No nível consciente, transmite um sorriso educado, pois, também neste nível, anseia por afirmar-se (Pessoa educada, de classe, sabe fingir aprovação diante dos convivas).
Vejamos, agora, o grupo c) - d); vamos igualmente retirar-lhe o
verniz inibitório. Mudemos toda intenção -já subentendida na muda linguagem daqueles corpos - em ação desinibida:
Será preciso gastar palavras para concluir que o grupo c) - d) é positivo (+), é harmônico? Não se percebe logo que estão DE
ACORDO?
PERCEPÇÃO DO TODO X PARTES
E o piano? (leitor em atitude de cética e
impaciente expectativa: queixo apoiado na mão,
observando-nos com a cabeça lateralmente
desviada, sobrancelhas - mas não pálpebras - bem
levantadas, dedos dos pés "martelando na mesma
tecla" ...)•
Bem, não nos iríamos dar o trabalho de
arrastar um piano de concerto para dentro destas páginas, se fosse somente para introduzir a noção de harmonia. Quisemos, entre muitos exemplos possíveis, citar um bem claro. Mas o tema agora é sua
percepção!
Exemplo de emissão de mensagens (sonoras) simultâneas
(acordes) e que estejam mutuamente em conflito (discordância
sonora):
Isto seria o "Quê".
A parte importante é agora, o "Como":
É a recepção da mensagem como um todo mais a percepção da dissonância ou harmonia das suas partes por um dispositivo psicofisiológico!
Exemplo da recepção, sob o aspecto fisiológico: um ossinho chamado estribo; é um sólido transmitindo a um líquido (linfa) do caracol auditivo as vibrações de uma mistura de gases (ar).
Exemplo da percepção, sob o aspecto do EU: o maestro, regendo a emissão conjunta de sons de oitenta instrumentos sinfônicos e, simultaneamente, percebendo a diferença de meio tom entre dois violinos.
Os dispositivos são muitos
Ora, tais dispositivos de percepção abundam em nós -desde o
registro de ondas luminosas, vindas até de distâncias de anos-luz, até a percepção de contato cutâneo, mudanças na velocidade com que
nos deslocamos, odores, correnteza de ar...
Não resistimos a mais um exemplo: temos cerca de 1.500 "corpos lamelares" no peritônio, nas paredes das grandes artérias, nos revestimentos de músculos e principalmente na parte profunda da pele. Cada uma é um pacotinho de lâminas conjuntivas,
tendo ao centro um nervo. Deslocando-se o tecido, a linfa que se acha entre as lâminas tem a sua pressão modificada, o que é transmitido ao nervo. Assim a "águia" em nós sabe quando algo nos desloca a pele, e também o "boi" toma providências administrativas dentro de nós, de cuja natureza nem sequer nos damos conta!
Quer dizer, então, do nosso cérebro - especialmente dos milhões
de informações da nossa memória - não constitui ele o máximo entre os aparelhos biológicos de percepção e conseqüente reação em vários
níveis?
Percepções antigas e recentes
Há um número imenso de ações - reações programadas no nosso
sistema nervoso - que é, ele próprio, nosso sistema de percepção.
Muitas percepções são inconscientes, anteriores até à própria espécie, como, por exemplo, os que governam os nossos movimentos intestinais.
Outros são tão recentes como a sensibilização do leitor às
posturas dos corpos dos seus amigos, durante um coquetel, e que ainda estão na fase da aprendizagem.
Ou será reaprendizagem?
A FALA DOS GESTOS ANTIGOS
A mulher a) do nosso estudo
anterior usou o mesmo gesto
ansioso deste nosso antepassado
a), num capinzal situado a milhões
de anos antes da Torre de Babel
das línguas faladas. E,
certamente, nosso antepassado
b) percebeu muito bem o que a)
queria transmitir!
Mesmo porque, se assim não fosse, pelo menos um dos dois teria
deixado de ser nosso antepassado naquela mesma hora e, talvez, não estivéssemos aqui para contar a história!
E, sem a pedra na mão? Olhe a ansiedade de b), mostrando as
mãos sem armas, para conseguir sobreviver às relações interpessoais a)
- b)!
Será preciso dizer que, diante de um projétil engatilhado em
nossa direção, o símbolo pacífico de submissão é até hoje emitido e percebido da mesma forma?
VIVER É PERCEBER
Sob que forma percebemos nossa própria existência, o nosso EU?
Não é, porventura, como uma imensa soma de conhecimentos, isto é, de informações? De percepções? E o sobreviver? Não é o reagir em harmonia com o que for necessário para isso?
É o caso daquele nosso homem primitivo, lembrando-se de
experiências pessoais anteriores sob o título "vermelho": foge do incêndio do capinzal que reconhece não combinar com o seu bem-estar físico. Mas avança rumo à maçã, porque sabe que estará de acordo com as exigências do seu paladar. Fogo + pele = discórdia.
Maçã + boca = concordância, harmonia.
Essencial à própria filogenia, não nos faltam exemplos de
capacidade de discernimento até nas manifestações mais primitivas da vida. Todos sabem que, pondo-se um feijão para germinar numa
caixinha na qual fizemos um orifício lateral, a plantinha se estenderá sempre na direção daquela fresta de luz.
Treinando um verme de espécie planaria a reagir cada vez que
se acender certa luz, pode-se cortá-lo ao meio - as duas metades farão brotar, respectivamente, nova cauda e nova cabeça, e os dois vermes, guardando aquela informação, continuarão reagindo conforme aquele hábito anteriormente adquirido.
Talvez "Vida" e "Não-Vida" nem sejam definições absolutas; um vírus é "vivo" no sentido de sua capacidade de multiplicar-se e reproduzir a sua própria espécie e nada mais - o primeiro passo do estado inanimado ao animado. É partícula incrivelmente pequena de matéria (por exemplo: o vírus da febre aftosa tem apenas 0.000.000.8
cm de diâmetro; numa única célula de um centésimo de milímetro de diâmetro caberiam mais de 50 milhões de vírus de poliomielite).
Contudo, até o vírus sabe "distinguir" (mensagem química que seja, o que é antes classificação do que uma explicação) entre o
ambiente favorável ou desfavorável à sua ação reprodutora.
Reage,
inconscientemente que
seja, à informação
inconscientemente recebida. Mas a discerniu, de alguma forma!
Em resumo - tudo o que vive possui a característica de
discernimento e isto é essencial à sua própria existência.
Ora, o homem é um ser altamente perceptivo e, certamente,
percebe os seus semelhantes. Como não haveria de perceber-lhes a
diferença entre
a atitude favorável, neutra ou francamente desfavorável ao seu
EU? E de que maneira, senão pela percepção da linguagem do corpo -
antes que inventassem as gramáticas e os dicionários?
CAPÍTULO 8
Intermezzo 1
O homem é programado para discernir, mas o hábito de atentar
para as ferramentas-símbolos, chamadas palavras, afastou-o da percepção consciente total imediata do "aqui e agora ". - Simpatia e antipatia, uma possível capacidade residual deste tipo de percepção.
Aviso ao leitor: Este capítulo é curtinho para levá-lo em boa velocidade ao capítulo seguinte!
O HOMEM É PROGRAMADO PARA DISCERNIR
Não será lícito supor que um fenômeno constante tão antigo
como a própria vida tenha, tal qual o caracol auditivo ou os circuitos de memória do cérebro, também a sua programação psicofísica? Em
outras palavras, que o hábito de sobreviver tenha condicionado os reflexos que lhe são pertinentes?
E que não mais usamos conscientemente esta nossa faculdade,
simplesmente por termos adquirido o hábito do símbolo-palavra em vez da percepção direta?
O silvícola sobrevive na mata porque cheira de longe onde
encontrará o riacho para beber. Nós precisamos de um mapa, de
bússola, guia, seta indicadora, para não morrermos de sede na mesma floresta!
SIMPATIA E ANTIPATIA
Não estará aí a explicação de parte das causas de simpatia e
antipatia que sentimos diante de novas relações humanas? Quando a linguagem do corpo de alguém nos transmite conflito com os nossos interesses, quem sabe o percebamos em nível inconsciente de forma negativa (-)? Isto, apesar das palavras com que nos procura agradar, ou o seu sorriso (+)? Sentimos a desarmonia (+ -)? Lembremo-nos do sorriso daquela gente ruim, da cena de faroeste que não nos agradou de saída!
Lembremo-nos que instintivamente desaprovamos gente que
sempre desvia seu olhar do nosso, durante um diálogo, ou que, de mão
inerte, não responde ao nosso aperto de mãos com igual aperto!
PRONTO PARA UMA CONCLUSÃO FINAL?
Obrigado, leitor, que nos acompanhou até aqui, carregando
piano, gente rejeitando bolo, gente da idade da pe-
dra, bichos e bandidos - agora está na hora de apanharmos o
prêmio dos nossos esforços!
Agora, juntos, podemos sucumbir à tentação de arriscarmos
esboçar uma teoria de Percepção Humana!
E isto com pleno conhecimento de causa! Ei-la, resumida em
apenas
4
princípios básicos:
CAPÍTULO 9
Quatro Princípios Básicos
Os quatro princípios que permitirão ao leitor um entendimento mais completo da linguagem do corpo humano. - Mais uma pausa para aprender como funcionam na prática.
- Um primeiro exemplo de dois canais de transmissão simultânea de quatro mensagens. - Outro exemplo, já com oito canais.
- Outro aviso ao leitor: O pior já passou; depois das primeiras páginas deste capítulo tudo vai ficando cada vez mais simples -aliás o leitor notará pessoalmente que perceber a linguagem do corpo é bem mais fácil do que escrever sobre ela!
PRINCÍPIOS DA TEORIA DE INFORMAÇÃO E PERCEPÇÃO CINÉSICA
DE P. WEIL E R. TOMPAKOW
Que tal você reler os quatro princípios?
Afinal, isso é feito álgebra. Muito certo, mas muito condensado e, portanto, indigesto.
E que tal mais uma pausa, dedicada a um breve exercício prático
com um amigo? Veja como esses Princípios ficam logo claros:
OLHE COMO É BASICAMENTE SIMPLES:
Você, o leitor, é a figura a).
A seta horizontal entre seu rosto e o rosto do seu amigo b) é a
comunicação consciente entre ambos:
1. COMUNICAÇÃO DE a), EMITIDA CONSCIENTEMENTE, ALCANÇA
b): Você acaba de contar a ele o que Você está estudando no nosso livro.
2. COMUNICAÇÃO DE b), EMITIDA CONSCIENTEMENTE, ALCANÇA a): Ele respondeu que isso deve ser formidável e também emitiu
conscientemente um sorriso (+) que você também percebeu.
3. MAIS UMA COMUNICAÇÃO CONSCIENTE DE a) ALCANÇA b): É
o seu olhar, que por um instante se fixa na posição dos braços de b) (seta inclinada).
4. AGORA, UMA COMUNICAÇÃO INCONSCIENTE PARTE DE b) E
ALCANÇA a): A mensagem da resistência à sua comunicação (-) é emitida pelos braços cruzados de b) e percebida por a). No caso de a) ser mesmo você, é claro que a percepção é consciente, embora a emissão não o seja, pois você já está sensibilizado à linguagem do corpo, enquanto seu amigo nem percebe que ele está emitindo
positivo (+) com as palavras e o sorriso, mas negativo (-) com os braços (e a posição de recuo do tórax - do "leão" - sentimento - expressando dúvida).
Na realidade - lembre-se - um ser humano isolado não pode,
obviamente, mostrar suas relações humanas completas.
E mais de um já é grupo; então há interação.
O diagrama acima já é mais real; a seta horizontal de cima
mostra o nível co-consciente que já estudamos, mas tem o co-
inconsciente (como quando o líder muda a posição dos braços e o
liderado o imita sem sentir) e mais as influências consciente-
inconsciente, quer mútuas (setas inclinadas), quer individuais (setas verticais; conforme Anne A. Schützenberger).
Outra coisa: Não existe um só nível inconsciente e, sim, vários, como todo psicólogo e psiquiatra sabem. Mas a gente faz uma força louca para manter um livro simples e prático. Então não vamos querer exibir cultura inutilmente.
O que interessa é sermos práticos. Fazer com que as pessoas se
entendam melhor, com mais clareza e sucesso. O mundo tem sede disso. Não vamos resolver a situação do mundo, mas podemos trazer o nosso modesto copo de água; não estamos absolutamente
subestimando o leitor, mas não queremos que se engasgue!
CAPÍTULO 10
A Energia no Corpo Humano
A vida é um fluxo constante de energia e a linguagem do corpo é a linguagem da vida; logo temos que conhecer a energia em nós. - Por isso vamos botar uma serpente numa FLECHA. - O consumo de energia de cada "animal" nosso. - Onde está o painel de controle da esfinge?
A ENERGIA EM NÓS
Se olharmos atentamente as inúmeras esfinges antigas,
percebemos em muitas a representação de um animal a mais. É a
SERPENTE!
Aparentemente insignificante, mais parece um ornamento usado
na testa, ou no máximo um pequeno distintivo, como no boné de um
policial fardado dos nossos dias. Assim, não desperta maior atenção ao leigo cuja percepção é
mais facilmente centrada nos elementos mais óbvios da esfinge.
Isto pode, aliás, ter sido intencional por parte dos antigos sacerdotes, por não quererem atrair a atenção - talvez desrespeitosa - dos fiéis para a SERPENTE URAEUS, que representaria a maior força do Universo: a ENERGIA!
Notou, na figura acima, a cobrinha na testa da cabeça humana?
A serpente é bem visível neste exemplo. Trata-se de uma esfinge hitita -
um povo da Ásia Menor, desaparecido há milênios.
É provável que o leitor estranhe o desenho. Estamos, afinal,
acostumados à padronização em nossa cultura de produção em
massa. No mundo inteiro, as características de nossas lâminas de
barbear, de nossas chapinhas de refrigerante ou das roscas de nossas lâmpadas elétricas são de uma tranqüila e confortadora igualdade
banal. E até mesmo aquela amável esfinge de cartunista à qual o leitor já se habituou nestas páginas também é uma espécie de padronização nossa - embora baseada em sérias médias estatísticas dos elementos identificados pela arqueologia.
Mas os antigos não usavam linhas de montagem e os
componentes das esfinges egípcias, assírias, persas, hititas, fenícias, gregas etc, variavam muito. Assim, o leitor já percebeu que o escultor hitita do nosso exemplo pouca ou nenhuma importância deu ao boi,
mas caprichou tanto no leão que lhe concedeu até uma cabeça
particular! Vejam só que importância do "EU" na linguagem daquele corpo simbólico!
Esta variação de número e de destaque de elementos -
possivelmente relacionada com o que Piaget chamaria de "Centrações de Percepção" diferentes - pode também ter relação com fases evolutivas de conceitos cosmológicos e psicossomáticos através dos tempos e dos contextos culturais vigentes.
Mesmo assim, no modelo mais antigo conhecido - o egípcio -já a
serpente está presente a freqüentemente reaparece em grande
número de exemplares posteriores.
Como a serpente, a energia assume todas as formas possíveis.
Comparável àquele animal que se "transforma" ou "renova", ao mudar a pele (a sua forma externa), também a energia se transforma: qualquer gesto do corpo vivo, desde o levantar de um peso até o mero ato de raciocinar, gasta energia; o estudo bioquímico do
metabolismo mede-lhe a intensidade e o ritmo. Força, por
definição, é energia aplicada! E, como a ondulação da serpente,
também a energia pode ser representada como uma pulsação, um
ritmo ou vibração constante. Pois tanto faz considerarmos nosso
coração (100.000 batidas por dia), os raios gama (1020 a 2 x 1018
vibrações por segundo), os ciclos das estações do ano ou da corrente elétrica da bateria do nosso carro - tudo pode ser representado em gráficos que têm, como característica básica, uma linha ondulatória: Mas, embora a serpente se desloque ondulando, sua direção e
caminho percorridos podem ser indicados por uma seta convencional (Ocorrem-nos, logo, os exemplos do eletroencefalograma e do "eixo do X" cartesiano).
Temos, então, na união desses dois elementos, um símbolo a mais
que criamos para melhor estudar a linguagem do corpo. Vamos usá-la doravante - especialmente na segunda parte deste livro. Sem ele, o capítulo 15 (sobre o Amor e similares) teria sido impossível.
COMO FUNCIONA?
Tal como a eletricidade da bateria do seu carro, a energia do seu corpo é armazenada sob forma química.
Suas chaves da ignição estão ao alcance da mão - perdão, da
pata do boi e do leão e da garra da águia.
Uma grande parte da sua energia em potencial está guardada
como reserva na gordura, presente nos músculos e sob forma de gli-cogênio para uso dos mesmos no fígado.
Além deste, outras glândulas endócrinas (gônadas, supra-renais,
pâncreas, tireóide e pituitária) são verdadeiros armazéns de energia para fins específicos. A glândula-mestra é a pituitária; em ligação direta com o hipotálamo, por sua vez ligado ao córtex, ativa as demais
glândulas citadas por meio dos seus chamados hormônios trópicos.
A PARTE DO BOI
O boi é um grande consumidor de corrente, desde o trabalho
constante dos músculos que não estão sujeitos à vontade consciente até as demais operações puramente instintivas: respiração, digestão e distribuição dos próprios produtos energéticos da mesma,
funcionamento do sistema reprodutor da espécie desde a cópula até a amamentação (período em que, na fêmea, trabalha um só boi para
manter duas esfinges). E assim por diante.
A PARTE DO LEÃO
Esse cilindro de ar comprimido dá para quanto tempo de
mergulho? É a pergunta que sempre fazem quando a gente, nos fins de semana, dá uma de herói submarino. E a gente nunca pode dar uma
resposta exata!
Quem não está acostumado ao mergulho livre em pleno oceano
fica com medo mesmo, por mais que minta a si próprio ou aos ingênuos habitantes de terra firme a quem, depois, impinge as suas histórias de pescador. Tenso, nervoso, desperdiçando energia, respirando mais
depressa, gasta o ar todo em muito menos tempo do que o tranqüilo mergulhador veterano.
Assim, a emoção pode consumir uma "parte de leão" mesmo, contagiando boi e águia com sua preocupação.
É o que notamos na linguagem do corpo, quando a energia
começa a fluir com intensidade. Há desde a respiração e o pulso mais acelerados até as mudanças na
voz, no olhar, no tônus muscular e na direção tomada pelas
partes do corpo. Observemos sobretudo as extremidades dos membros que passam a expressar nitidamente o tipo de ação imediato desejado pelo leão.
A PARTE DA ÁGUIA
Não é muito grande; é o membro mais moço da família e os
outros bichos não costumam deixar sobrar muita energia para a águia obter informações verdadeiras e completas a respeito do seu mundo.
É muito comum, por exemplo, o leão tirar do seu arquivo a
imagem de, digamos, a águia materna, com seus ensinamentos do
tempo da infância: "Menino, não faça isto ou aquilo que mamãe bate em você!" E, pronto, temos a águia lá em cima, perturbada pelo inconsciente, talvez aprovando o que o homem fume um cigarro atrás do outro, num desafio totalmente inconsciente à querida falecida. E o boi que se arrume com a poluição pela nicotina!
Esta divisão da energia provavelmente explica por que, nos mais
diversos cultos, o jejum e a abstenção sexual são levados em tão alta conta. Desliguem-se as chaves de ignição do boi e do leão e a mente pode receber mais energia. Não apaga você as luzes do carro para
que, naquela madrugada escura e fria, a bateria tenha energia
bastante para o motor pegar logo?
O CONTROLE DA ENERGIA
Mas, e na esfinge humana? Onde estão as chaves de controle do
fluxo energético cujos efeitos percebemos na linguagem do corpo?
Estamos na fronteira do conhecimento atual, em área das mais
recentes pesquisas.
Se você estiver na Califórnia, talvez o Dr. Lawrence Pinneo, do
Stanford Research Institute, permita que você aperte um botão no
painel de um computador, já programado para emitir um determinado fluxo de energia sob a forma de impulsos elétricos. Estes alcançam minúsculas eletrossondas, por sua vez enfiadas no cérebro do macaco
"Bruno" que tem o braço direito normalmente imóvel, aleijado.
Mas basta apertar o botão; naquele ponto do cérebro do
macaco a ordem é recebida, "entendida" (descodificada) e passada adiante, pelos nervos do braço.
E a linguagem do corpo torna a adquirir vida; o braço se levanta!
Este é um dos mais de duzentos pontos de controle já
experimentalmente verificados por pesquisadores como Pinneo,
Delgado, Brinley, Heath, Hess e outros, controlando emoções e
movimentos tanto em animais como em seres humanos. Em tempo: o
cérebro não sente dor; a fina sonda metálica é, em si, imperceptível e já se começa a substituir os cabos por uma pequena antena costurada sob o couro cabeludo, recebendo o sinal emitido pelo computador por meio de ondas curtas.
Solução para casos patalógicos, ensino programado ou 1984 de
Orwell? Uma só cibernética sob duas formas externas - o computador, irmão mais moço do homem?
Vejamos. Nosso desenho mostra três pontos onde, por meio de
sondas elétricas, pesquisadores mexeram com o Boi e o Leão:
Bastou ligar ou desligar o fluxo de energia para que o corpo do
paciente respondesse imediatamente, manifestando ou eliminando a
atitude psicofisiológica correspondente.
Além disso, parece haver duas "chaves gerais" nessa área que o pesquisador suíço Hess chama de sistema ergotrópico (incitando à atividade) e trofotrópico (incitando à passividade).
Mas chega de neurofisiologia! Vamos passar ao capítulo seguinte
que prometemos simples. Não contém hititas, macacos teleguiados ou pruridos filosóficos.
Terá apenas as instruções de uso do "vocabulário", no qual você encontrará uma série de atitudes corporais e o seu significado.
CAPÍTULO 11
INTERMEZZO 2
Vamos aplicar em cheio o que já aprendemos. - Regras para uso do vocabulário a seguir e porque nós, com a mais séria das intenções, fizemos as caricaturas que você terá que analisar nele.
VAMOS APLICAR O QUE APRENDEMOS?
Você encontrará, nas páginas seguintes, uma porção de
exemplos de atitudes corporais, acompanhados dos seus significados.
Parece um dicionário ou, antes, um desses pequenos
vocabulários básicos para turistas, com as expressões mais usadas numa língua que lhe é pouco familiar. Mas, será mesmo? Que regras teremos que seguir para usá-lo corretamente?
Lembre-se sempre que
• sua simples presença, como observador, já modificará a
linguagem do observado;
• na situação real um leão urra, sacode a juba, é amarelo, tem
cheiro de leão. No papel impresso você já viu que não tem nada disso.
Caberá a você, leitor, traduzir a lição simplificada em plenitude da vida;
• toda a situação deve ser vista no seu contexto. Por despir-se em público, você pode ser ou condenado, ou elogiado (se o fez para,
atirando-se de um cais, salvar alguém de afogamento)!
Isso tudo vamos explicar logo a seguir, antes de você começar a
usar o vocabulário, pois do contrário a sua eficiência diminuirá na prática.
Outras noções surgirão, tais como a percepção consciente
• da direção e intensidade do fluxo da energia, e da tensão
causada pelos seus bloqueios;
• do número de pontos de contato energético internos e externos
(sete pontos, no máximo, para um copo de cerveja e trinta para o
mais sublime amor!);
• das distâncias, no espaço, entre as pessoas, ligadas à noção de território;
• da necessidade de levar em conta o fator cultural das atitudes
observadas. Cumprimentos amistosos em público têm que ser
aprendidos, enquanto que baixar a cabeça entre os ombros antes de atacar furiosamente é mais antigo que a invenção da palavra falada -
já os bois pré-históricos entendiam isso. Daí a atitude corporal daqueles
cumprimentos, em Tóquio, não ter a menor semelhança com as do Rio de Janeiro, embora ambos tenham valor de sobrevivência, pois
preservam o EU na sociedade.
Tais noções, amigo leitor, surgirão e serão tratadas na SEGUNDA
PARTE, capítulos 14 e 15, depois do vocabulário. Por enquanto, o que citamos já será suficiente para seu rápido progresso.
ANTES, PORÉM, ESTE AVISO
CUIDADO! CARICATURAS!
A reprodução pictórica convencional (fotos, desenhos "
acadêmicos") é como o sol:
Torna TUDO claro. Então a gente vê tudo. Vê demais. Mas todos nós percebemos muito menos do que vemos; a mensagem fica diluída.
É o caso deste desenho (decalcado de um flagrante fotográfico):
Tem mensagens visuais demais, competindo entre si, a clamar
pela nossa atenção.
Vemos tudo, mas só registramos conscientemente o que nos
interessa: o amável leitor "enxerga" pelo menos esse parágrafo inteiro de uma só vez. Então por que será que seus olhos acompanham, aos saltos que seja, linha por linha deste texto? Precisamente por isso: está interessado na seqüência de nossas idéias, uma após outra, palavra por palavra, ou pelo menos assim esperamos!
Já, se não se interessar mais pela leitura, digamos, nesse instante (atenção Sr. nosso editor, não leia isso!), então Não PERCEBERÁ o
sentido do parágrafo seguinte, embora já o tenha "visto" antes, ao "ver"
a página inteira, depois de virar a folha anterior. E fechará o livro!
Assim, o leitor apreciador de anatomia feminina a observará
melhor do que o estampado das roupas (mas que serão olhadas com
atenção por um leitor que as costure) e nenhum dos dois olhará com tanto interesse os canudos de refresco como um leitor fabricante dos mesmos.
Já a caricatura é como uma lente:
pode focalizar a luz num só ponto de cada vez ganhando em
intensidade o que perde em extensão.
Vamos mostrar a mesma cena anterior, mas em caricatura:
Ficaram só as mensagens claras do corpo: a pessoa da direita
fazendo bagunça e a outra dizendo com o rosto: "Gostei!", mas com o tronco inclinado e a mão afastando o seu copo de refresco: "Não compartilho desse abuso; sou uma pessoa educada que quer estar
longe dessa violação das boas maneiras à mesa!" Procure, no desenho da página anterior, estas mensagens! Estão lá, "escondidas" pelas outras.
Por isso, o vocabulário é em caricaturas.
Você compreenderá melhor e mais depressa o que está sendo
transmitido.
E se treinará afocalizar o essencial nas atitudes corporais ao seu redor, na vida real!
Você vai ficar surpreso com a rapidez com que sua "percepção cinésica" vai crescer!
TRÊS REGRAS PARA USO DO VOCABULÁRIO
Temos três fatores a levar em conta:
1. Nossa própria presença
Repare no desenho: o "turista" invadiu o "território" alheio. Emitiu, ele próprio, a mensagem: "sou um intruso, um voyeur grosseiro!" Um grupo de duas pessoas mais um observador é um grupo de três pessoas com todas as modificações de comportamento interpessoal daí
resultantes.
2. Não podemos reduzir gente viva a estruturas mortas sem perder algo de essencial, que é a própria vida!
Namorado contemplado durante um minuto a foto da sua eleita;
retrato que considera "igualzinho a ela"... Acontece que o olho humano pisca normalmente 10 vezes
por minuto. O do retrato, evidentemente, nem uma só vez; não
tem vida.
Ora, nossos desenhos e fotos nem piscam, não é? São registros
simplificados; retratos verdadeiros sim, mas é preciso descontar essa diferença, ao comparar o "retrato da namorada" com a própria!
O desenho esta parado, a pessoa mexe!
Seu movimento é rápido ou lento, hesitante ou dominante? Por
que fez aquele gesto? Está alegre ou triste? Isto nos leva diretamente ao item mais importante que é o
3. Contexto da situação a decodificar
Vamos explicar isso com uma história em quatro quadrinhos:
Eis alguém (A) cruzando defensivamente os braços. Por quê? O
seu oponente (B) está querendo convencê-lo de uma novidade
qualquer; você sabe disso porque você próprio é a figura da esquerda do desenho (ou, pelo menos, está presente à conversa). E você, pelas respostas verbais dele, pela expressão do rosto e inclinação para trás do corpo, sabe que ele não está de acordo com o que está sendo dito.
Eis que eleja concorda parcialmente; não está mais tenso.
E os braços cruzados? Não são defesa do EU? Não são "do
contra"?
Sim, mas agora é defesa necessária para o isolamento
deliberativo. Para a liberdade de decidir. E o júri que se retira, após ouvir os fatos, e tranca a porta para deliberar em particular.
Tem hora que a Esfinge de todos nós precisa ter vida privada,
precisa de um biombo, para que a águia, leão e boi entrem em
conferência particular. Como meditar em paz se o oponente continua a nos bombardear com argumentos? A águia educada e ávida de
novas informações pode sorrir, mas o sincero leão, guardião das
informações antigas, não baixa a defesa!
Agora, nosso oponente já está praticamente convencido. Falta-
lhe, somente, a experiência pessoal da novidade, por isso o leão ainda cruza os braços, mas sem tensão; as mãos frouxas, dedos esticados e entreabertos, em repouso.
Reparem o espaço ocupado. Entrou, submisso, no "território" do líder, avançando no espaço da mesa rumo ao outro! Está ficando "do nosso lado"!
Alguns dias depois: "A" ficou decididamente do lado de " B" (Então procura também sentar ao lado do seu líder). Claro que nesse intervalo descruzou os braços.
Eis os dois, unidos; " B" agora vai tentar convencer " C". E "A" está outra vez de braços cruzados!
Mas agora (pela sua posição, quer no espaço, quer na inclinação
do tronco em direção ao líder do grupo) os seus novos sentimentos estão sendo defendidos! (Não vai ser difícil; reparem os pés de "A" e "C"
numa concordância co-inconsciente.)
Cremos que com esse exemplo tornamos claro que não basta
dizer:
1. BRAÇOS CRUZADOS = LEÃO DIZ "NÃO".
2. O CORPO SÓ FALA A VERDADE.
3. LOGO A VERDADE É "NÃO"!
Isto estaria errado. Seria igualar a fotografia (que nem pisca) com a pessoa viva que, sistema aberto que é, "recebe contínuas
informações do meio exterior e de dentro de si mesmo, compara-as, delibera e reage".
A cada instante que passa somos alguém já um pouco
diferente...
Consideremos sempre o contexto da situação.
Não basta o "que", há de se ver o "como", o "quando", o "onde", o
"porquê"...
Segunda Parte:
APLICAÇÕES PRÁTICAS
CAPITULO 12
Vocabulário Prático
Agora lhe damos a oportunidade de afinar ainda mais a sua
percepção. — Poderá saber também de que maneira o corpo expressa algumas das principais emoções humanas. -Ou, ao contrário, o que significa, em separado, grande número de: "energemas " componentes dos "semantemas".
FALAM AS PARTES
Nos desenhos grandes que você encontrará daqui em diante,
usamos uma técnica de "balões", tal como nas histórias em quadrinhos.
Só que a "fala" não sai das bocas dos personagens.
É o pé, a mão, a sobrancelha que "diz" alguma coisa.
Cada parte do corpo humano fala exatamente isso - a sua parte (Cada "significante" diz o seu "significado" - como diria Saussure).
FALA O TODO
O título geral, no alto de cada desenho, é simplesmente o sentido geral do conjunto de "opiniões individuais" de cada parte do corpo.
TERNURA
Temos aqui duas partes que emitem seus " balões-legenda", embora não tenham boca para falar.
São os ROSTOS e as MÃOS.
Os rostos expressam sentimentos que podemos chamar de
enlevo, contentamento, beatitude, tranqüilidade amorosa, encanto, etc. Como ambos ostentam emoção idêntica, o sentimento é mútuo.
Assim, DIZEM: gosto! E como olham um para o outro, ambos dizem a mesma coisa.
As duas mãos dela e a esquerda dele, pelo fato de percorrerem o
corpo do parceiro - assim tomando conhecimento da sua presença -
mutuamente aprovam o que percebem. Detalhe: a mão esquerda dele toma parte nisso -é a "mão do sentimento". A mão direita dele - a "mão da ação" -já fala em agir, sugerindo que ela se aproxime mais.
Contudo, a ausência de contato entre as duas regiões
abdominais mostra que o "boi" não está "falando" em sexo: é emoção-"
leão" aliada ao apreço-" águia".
Diz Freud que a ternura é um resultado de sublimação da energia;
no exemplo da esfinge, é a "serpente" que sobe no nível do coração.
RESISTÊNCIA PASSIVA, TEIMOSIA
(EXPECTATIVA DE CONTINUIDADE DA INSATISFAÇÃO PRESENTE)
A inclinação do corpo fala sempre. No caso, é contrária a quem
quer que esteja diante dos nossos dois personagens; logo, temos uma clara REJEIÇÃO em linguagem do corpo.
Habitue-se, leitor, a perceber a inclinação do corpo das pessoas
com quem conversa. Se está inclinado para trás, veja o contexto: pode estar simplesmente relaxando, confortavelmente descansado.
Pode estar "digerindo" o que o leitor está procurando inculcar nele. Mas se está de músculos tensos, temos resistência, rejeição.
Braços protegendo o "Leão" (identidade emotiva), objetos defendendo o "boi" (sobrevivência), já é claro para o leitor.
Novidade é o pé ancorado; procure observá-lo quando alguém teima em manter o seu ponto de vista numa discussão.
Ser um ser humano está interessado em alguém ou algo, a inclinação do seu corpo tende a mostrar naturalmente esta sua
inclinação emocional.
Mas, se a "águia" avisa que tal ação a descoberto não é conveniente em dadas circunstâncias, o homem tenta reprimir a
linguagem do corpo. Tenta, mas o seu interesse reaparece na direção do olhar.
Você precisa estar alerta para perceber esses olhares - podem
durar apenas uma fração de segundo.
DESINTERESSE
A inclinação do corpo agora é contrária, mas o homem
desinteressado está "à vontade"; seus músculos não apresentam tensão.
"BOI" dormitando, ruminando, sem se preocupar com emoção alguma.
Retraimento da " serpente".
Compare os dois exemplos de desinteresse com os demais
personagens. Sem exceção, demonstram, nos seus corpos mais tensos, nas suas mãos e rostos, um mundo de emoções. Tente compreender o
que dizem, por exemplo,1 as mãos. A moça, embaixo à esquerda,
receosa de ver sangue de faquir, mostra regressão momentânea a um estado infantil - seu dedo na boca diz: "eu consolo você à falta do seio materno!"
AVIDEZ
(ORIGEM: FRUSTRAÇÃO ORAL)
A boca é sensível ao prazer, à satisfação, pois o seio materno - ou a mamadeira - satisfaz os anseios de todo ser humano em sua fase de lactente.
Foi o que o leitor já percebeu, ao examinar atentamente o
desenho anterior, no caso da pessoa que, diante de uma angústia,
regressa inconscientemente a um estado infantil.
Quando uma das mãos, perto da boca, "diz": PRECISO SATISFAZER
O "EU", procure perceber o que dizem as outras extremidades do corpo, mais o peito encolhido ou estufado; sempre há uma mensagem que
mostra a relação do gesto com o contexto. Como o da outra mão,
dizendo: PRECISO DO COLAR AQUI!
As pessoas que sentem a compulsão de gastar a sua energia em
atividades orais (reais ou simbólicas) mostram que sua "serpente" ficou fixada no nível do "boi", pois a boca, sendo a extremidade superior do aparelho digestivo, preservador do "pão de cada dia" da sobrevivência física, é um "representante do boi" na cabeça humana.
EXPECTATIVA
(DE CONFIRMAÇÃO DA SATISFAÇÃO ESPERADA)
No início deste " vocabulário", sob o título ATENÇÃO, INTERESSE, já vimos a inclinação do corpo e direção do olhar que aqui reaparece. E
no capítulo 4 da primeira parte deste livro, observamos naquela cena de faroeste o homem do "sorriso mau" com o queixo apoiado nas mãos, em atitude de expectativa. Torne o leitor a examinar o desenho acima: todos os participantes da reunião mostram aquela inclinação para a frente, e, na figura do meio, o apoio das duas mãos ao queixo é bem evidente.
Todos os rostos estão sorridentes - esperam manter-se satisfeitos (ao contrário dos rostos em RESISTÊNCIA PASSIVA, esperando manter-se naquele contexto pessoalmente insatisfatório).
Como o homem do centro, o da esquerda no desenho também
expressa " aguardo" pelo apoio dos cotovelos à mesa. Mas a mão esquerda ("do sentimento") está na boca, no gesto receoso que é muito encontrado em pessoas pouco seguras de si e em cuja primeira infância
encontramos pais excessivamente severos. O peito (o EU) a descoberto (homem à direita) mostra total receptividade.
O "EU"
O "EU" é expresso pelo posicionamento do tórax, conforme já vimos anteriormente. No instante em que alguém dá muita importância a si próprio, a "Serpente" da Energia está no nível do "EU-LEÃO".
Convém lembrar que estas atitudes, quando mais ou menos
permanentes, são fáceis de observar.
Mas o corpo fala sempre no Indicativo Presente, no "aqui e
agora", e o que diz pode durar apenas um breve instante.
Compare o que vimos no desenho anterior com estes dois
personagens.
O contexto é outro, mas a estrutura das mensagens é
basicamente a mesma. Onde a dama aristocrática estava solidamente apoiada na poltrona, o cavalheiro convidado mantém os pés em
atitude de sólido apoio. Cabeça, tronco, membros seguem paralelos similares; tanto faz, por exemplo, a mão da pessoa que domina o encontro "dizer":
"Decido aceitar a homenagem do teu beijo formal" ou Decido aceitar um "Hors-d'oeuvre".
Este comportamento de superioridade foi identificado pelos
psicólogos como sendo um fator bipolar de " ascendência-submissão".
No caso presente é ÁGUIA-LEÃO" dominando o "BOI".
Repare o leitor como o corpo fala de forma nitidamente
diferente, quando, acusando, mostra um sentimento ESTÁTICO (um PONTO de vista; PONTO é local de PARADA), ou então, ameaçando, um sentimento DINÂMICO (uma LINHA de ação; LINHA é algo a SEGUIR!]
No primeiro caso, a atitude é parada (dedo acusador parado, mão esquerda "do sentimento" chegando a APOIAR a atitude física (mão na mesa). Este último pormenor está de acordo com o princípio de Greene que estudaremos mais adiante neste capítulo.
No outro caso, repare no dinamismo do dedo estendido!
RECEIO
Nesta emoção que chamamos de Receio, o fluxo energético
("SERPENTE") começa a se dividir em direções opostas.
Nos exemplos acima, uma parte MÍNIMA do corpo é
conscientemente exposta ao perigo para "espionar o inimigo", enquanto o "grosso da tropa" está pronto para uma retirada.
Tornamos a lembrar: isto é caricatura didática! É interessante
observar estes pormenores quando alguém está diante de um dilema, de uma escolha de compromissos pessoal que envolva riscos, mesmo
durante comunicação verbal aparentemente amena!
Na escala progressiva receio-medo-pavor, a divisão energética em direções opostas vai se acentuando até o medo intenso; há um
curto-circuito da "Serpente": a energia é gasta ao mesmo tempo em movimentos de querer (avanço) e não poder (recuo). No pavor, os três inconscientes apavorados agem concatenados por mero reflexo.
O corpo fala o que a mente contém. Nos casos acima, a maioria
dos leitores decerto reconhece agora que, mesmo antes de estudar
nosso livro, já percebia de alguma forma (menos consciente que fosse) o significado contido nas atitudes do desenho. É o rosto do nosso oponente mostrando contentamento enquanto nos encara com
firmeza: mostra interesse amável em nós.
Pelo raciocínio algébrico, mais com mais dá mais; então
troquemos os sinais: menos com menos tem que dar menos! O olhar que nos evita, o sorriso que não chega a firmar-se: não tem interesse amável em nós!
Quanto à mão temerosa, mole, que não responde a nosso aperto
- é preciso dizer mais?
SENSUALIDADE
Na moça ao alto, de mão estendida palma para cima (atitude
pedinte), o desejo sensual pode ser ou não consciente. Na maioria das atitudes que o leitor observará na prática, será decerto inconsciente mesmo.
O acariciar de pêlos é outra fala inconsciente do "boi". Por isso, quando as pessoas acariciam distraidamente um gatinho ou a pelúcia dê um sofá, demonstram seu desejo inconsciente de contato sensual.
A fala inconsciente do corpo da moça dormindo foi observada
em pessoas sexualmente reprimidas.
INVEJA
O desejo inconsciente de contato sensual, visto no desenho
anterior, aqui aparece na figura da direita, no último plano.
As duas reações bipolarmente opostas, causadas pelo sentimento
de inveja, aparecem na posição do tórax: enquanto o homem à
esquerda no desenho se diminui ao comparar-se com o dono da lancha, a senhora do centro engrandece o seu EU.
DESCONFIANÇA
(REJEIÇÃO INTRANQÜILA DE CONTATO HUMANO)
Repare o leitor na figura do psicótico diante da enfermeira. Seus braços e pernas formam uma GRADE protetora que diz: Ninguém entra (e eu não posso ou não quero sair)!
MUTISMO
Muitas vezes acontece que, numa conversa, não podemos ou
não queremos externar nossos sentimentos. Isto também é expresso pelo nosso corpo.
PERSUASÃO
(ESFORÇO DE...)
Um estudo detalhado do desenho decerto dispensa maiores
comentários.
SAIR
(DE UMA DADA STTUAÇÃO)
Será interessante para o leitor estudar também, em separado,
somente as posições dos pés neste desenho. Direção do pé indica direção da intenção de locomover-se, de chegar-se ao que interessa naquele momento.
PROTEÇÃO
Observou os pés do casal sentado?
Apontam-se mutuamente! A mão esquerda da moça (mão "do
sentimento") prende a dele! Com a direita, ela puxa o braço direito dele
"dizendo" ao "outro": quero ser protegida pelo MEU parceiro!
Procure notar como é comum um homem fazer um gesto
inconsciente de proteção qualquer à sua companheira, quando algum possível rival se aproxima, e, sobretudo, procure notar esse gesto de proteção no SEU caso, quando em circunstâncias idênticas!
DESAFIO
O desafio é uma constante no nosso presente contexto cultural.
Temos que "passar à frente"; é preciso "colocar os outros nos seus lugares"! Jouer des coúdes em francês, Ellenbogenraum em alemão, elbowroom em inglês (tudo isso, literalmente, se refere ao espaço para cotovelos), é a atitude física correspondente que alcançou foros de linguagem verbal!
REGRESSÃO
(A UM ESTADO INFANTIL)
Todos nós temos momentos de regressão na vida. Carnaval,
futebol, brincadeiras de salão, são exemplos mais corriqueiros.
Os psicanalistas e os cientistas do comportamento nos apontam,
no entanto, exemplos mais inesperados: Dormir, voltando à posição fetal; aninhar-se como uma criança pequena no colo da pessoa
amada e, numa das reações à frustração, fazer "manha" (bater o pé, xingar etc).
LINGUAGEM DOS OBJETOS
(ESCOLHA DE...)
OBJETO TAMBÉM FALA!
Todo e qualquer objeto relacionado com pessoas adquire uma
linguagem própria.
Exibir uma Mercedes fala!
Empunhar uma garrafa de uísque escocês legítimo ou vestir farda de corpo de bombeiros fala!
Veja, nas figuras das moças acima, o que "dizem" suas atitudes relacionadas com os objetos que preferem manusear!
CULPA
(SENTIMENTO DE...)
É o superego de Freud, localizado no nível da Águia, que faz com
que a circulação da energia esteja inibida em relação a tudo que tem relação com a linguagem; é o modo inconsciente da punição muito freqüente em pessoas que foram muito castigadas na infância.