O julgamento de Gabriel por Sylvain Reynard - Versão HTML
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O JULGAMENTO
DE GABRIEL
O Arqueiro
Geraldo Jordão Pereira (1938-2008) começou sua carreira aos 17 anos, quando foi trabalhar com seu pai, o célebre editor José
Olympio, publicando obras marcantes como O menino do dedo verde, de Maurice Druon, e Minha vida, de Charles Chaplin.
Em 1976, fundou a Editora Salamandra com o propósito de formar uma nova geração de leitores e acabou criando um dos
catálogos infantis mais premiados do Brasil. Em 1992, fugindo de sua linha editorial, lançou Muitas vidas, muitos mestres, de Brian
Weiss, livro que deu origem à Editora Sextante.
Fã de histórias de suspense, Geraldo descobriu O Código Da Vinci antes mesmo de ele ser lançado nos Estados Unidos. A aposta
em cção, que não era o foco da Sextante, foi certeira: o título se transformou em um dos maiores fenômenos editoriais de todos
os tempos.
Mas não foi só aos livros que se dedicou. Com seu desejo de ajudar o próximo, Geraldo desenvolveu diversos projetos sociais
que se tornaram sua grande paixão.
Com a missão de publicar histórias empolgantes, tornar os livros cada vez mais acessíveis e despertar o amor pela leitura, a
Editora Arqueiro é uma homenagem a esta gura extraordinária, capaz de enxergar mais além, mirar nas coisas verdadeiramente
importantes e não perder o idealismo e a esperança diante dos desafios e contratempos da vida.
Aos meus leitores,
com gratidão.
Dante seguindo Virgílio montanha acima
Gravura de Gustave Doré, 1870
“E cantarei agora aquele segundo reino
No qual o espírito humano se purif ica
E torna-se digno de ascender ao Paraíso.”
– DANTE ALIGHIERI, Purgatório, Canto 1.004-006
PRÓLOGO
Florença, 1290
poeta deixou o bilhete cair no chão com a mão trêmula. Ficou alguns instantes sentado,
Oimóvel como uma estátua. Então, cerrando os dentes com força, levantou-se e atravessou sua
casa em alvoroço, ignorando mesas e objetos frágeis, desdenhando os demais moradores.
Desejava ver apenas uma pessoa.
Ele cruzou as ruas da cidade depressa, quase correndo, a caminho do rio. Parou à beira da ponte –
a ponte deles –, seus olhos umedecidos vasculhando avidamente a margem mais próxima, em busca
de qualquer vislumbre de sua amada.
Não havia nem sinal dela.
Ela jamais voltaria.
Sua amada Beatriz se fora.
CAPÍTULO UM
professor Gabriel Emerson estava sentado na cama, nu, lendo o jornal orentino La Nazione.
OHavia acordado cedo na cobertura Palazzo Vecchio do Gallery Hotel Art e pedira o serviço
de quarto, mas não conseguiu resistir à tentação de voltar para a cama e car observando a jovem
dormir. Ela estava deitada de lado, virada para ele, respirando de modo suave. Um diamante
brilhava em sua orelha, suas faces estavam rosadas por causa do calor. O sol entrava pelas janelas
panorâmicas, iluminando a cama.
As cobertas, deliciosamente amarrotadas, recendiam a sexo e sândalo. Seus olhos azuis brilharam,
explorando-a sem pressa, a pele exposta, os cabelos longos e negros. Quando tornou a voltar sua
atenção para o jornal, ela se mexeu um pouco e gemeu. Preocupado, ele atirou o jornal de lado.
Ela puxou os joelhos para junto do peito, enroscando-se na cama. Murmúrios escaparam de seus
lábios e Gabriel se inclinou para mais perto, tentando decifrar o que ela dizia. Mas não conseguiu.
De repente, seu corpo se contorceu e ela deu um grito de cortar o coração. Seus braços se
debateram, lutando com o lençol que a cobria.
– Julianne?
Ele pousou de leve a mão sobre seu ombro nu, mas ela se encolheu ao toque.
Começou a balbuciar o nome dele repetidamente, o tom de voz cada vez mais apavorado.
– Julia, estou aqui – disse ele, elevando a voz.
No instante em que tornou a estender a mão para tocá-la, ela se sentou na cama com as costas
eretas, ofegante.
– Você está bem?
Gabriel se aproximou, resistindo ao impulso de tocá-la. Ela respirava com di culdade e, sob o
olhar vigilante dele, cobriu os olhos com a mão trêmula.
– Julia?
Após um longo minuto de tensão, ela o encarou de olhos arregalados.
Ele fechou a cara.
– O que houve?
Ela engoliu em seco.
– Um pesadelo.
– Sobre o quê?
– Eu estava no bosque atrás da casa dos seus pais, em Selinsgrove.
As sobrancelhas de Gabriel se uniram atrás dos óculos de armação preta.
– Por que você sonharia com isso?
Ela respirou fundo, cobrindo os seios com o lençol e levando-o até o queixo. A coberta, volumosa
e branca, engoliu suas formas delicadas antes de ondular como uma nuvem por sobre o colchão.
Aos olhos dele, ela parecia uma estátua ateniense.
Ele correu os dedos com carinho por sua pele.
– Julianne, fale comigo.
Ela se contorceu sob o seu olhar penetrante, mas ele se recusou a soltá-la.
– O sonho começou muito bonito. Nós zemos amor à luz das estrelas e eu adormeci em seus
braços. Mas, quando acordei, você tinha sumido.
– Está me dizendo que sonhou que z amor com você e depois a abandonei? – A voz dele cou
mais fria para disfarçar seu desconforto.
– Eu já acordei no pomar sem você antes – disse ela a meia voz, em tom de censura.
O fogo de Gabriel se apagou na mesma hora. Ele pensou naquela noite mágica seis anos antes,
quando eles se conheceram e apenas conversaram e caram abraçados. Ele havia acordado na
manhã seguinte e fora embora, deixando sozinha uma adolescente adormecida. A ansiedade dela era
compreensível e até comovente.
Um a um, Gabriel abriu e beijou os dedos cerrados dela, arrependido.
– Eu amo você, Beatriz. Não vou abandoná-la. Você sabe disso, não sabe?
– Doeria muito mais perder você agora.
Franzindo a testa, ele passou um braço em volta dela, pressionando seu rosto contra o peito. Uma
enxurrada de lembranças lhe invadiu a mente enquanto ele pensava nos acontecimentos da noite
anterior. Tinha visto Julia nua pela primeira vez e a iniciara nas intimidades do sexo. Ela
compartilhara sua inocência com ele, que acreditava tê-la feito feliz. Sem dúvida havia sido uma das
melhores noites da sua vida. Ele refletiu sobre isso por alguns instantes.
– Você se arrepende da noite passada? – perguntou.
– Não. Estou feliz que você tenha sido o primeiro. Foi o que eu sempre quis, desde que nos
conhecemos.
Ele pousou a mão no rosto dela, acariciando sua pele com o polegar.
– É uma honra ter sido o seu primeiro. – Ele se inclinou para a frente, seu olhar xo. – Mas
também quero ser o último.
Ela sorriu e levou os lábios ao encontro dos dele. Porém, antes que Gabriel pudesse abraçá-la, as
badaladas do Big Ben ecoaram pelo quarto.
– Deixe isso para lá – sussurrou ele, irritado, esticando o corpo sobre o dela e obrigando-a a se
deitar.
Ela lançou um olhar por sobre o ombro dele, em direção ao iPhone que tocava em cima da mesa.
– Achei que ela não fosse mais ligar para você.
– Não vou atender, então não tem importância. – Ele se ajoelhou entre as pernas dela e a
descobriu. – Na minha cama, só existimos nós dois.
Ela perscrutou os olhos dele enquanto Gabriel colava seu corpo nu ao dela.
Ele se inclinou para a frente a fim de beijá-la, mas ela virou a cabeça.
– Ainda não escovei os dentes.
– Não me importo.
Ele baixou os lábios até seu pescoço, beijando-o e sentindo sua pulsação acelerada.
– Prefiro fazer a toalete antes.
Ele bufou, frustrado, e se apoiou num dos cotovelos.
– Não deixe Paulina estragar as coisas entre nós.
– Não vou deixar.
Ela tentou rolar de baixo dele e levar o lençol, mas Gabriel o agarrou. Olhou para Julia por sobre
a armação dos óculos, os olhos faiscando de malícia.
– Preciso do lençol para fazer a cama.
Os olhos de Julia se desviaram do tecido branco preso entre os dedos dele e foram até seu rosto.
Gabriel parecia uma pantera prestes a atacar. Ela lançou um olhar para a pilha de roupas no chão.
Estavam fora do seu alcance.
– Qual o problema? – perguntou ele, contendo um sorriso.
Julia cou vermelha e segurou o lençol com mais força. Com uma risadinha, Gabriel o soltou e a
puxou para seus braços.
– Não precisa ser tímida. Você é linda. Se eu pudesse escolher, você nunca mais se vestiria.
Gabriel pressionou os lábios no lóbulo da orelha dela, roçando o brinco de diamante. Estava
seguro de que Grace, sua mãe adotiva, teria cado feliz em saber que Julia recebera seus brincos.
Com outro beijo suave, ele se virou, sentando-se na beirada da cama.
Ela correu para o banheiro, mas não antes de Gabriel conseguir ter um vislumbre de seu traseiro
encantador quando ela largou o lençol, imediatamente antes de cruzar a porta.
Enquanto escovava os dentes, ela pensou no que havia acontecido. Fazer amor com Gabriel tinha
sido uma experiência muito intensa, e seu coração ainda estava abalado. O que não era nenhuma
surpresa, levando-se em conta a história dos dois. Ela o desejava desde os 17 anos, quando haviam
passado uma noite inocente juntos num pomar, mas, ao acordar na manhã seguinte, ele tinha
desaparecido. Como estava bêbado e drogado quando tudo aconteceu, Gabriel havia se esquecido
dela. Julia só voltou a vê-lo depois de seis longos anos, mas ainda assim ele não se lembrou dela de
imediato.
Quando o reencontrou, no primeiro dia do curso que Gabriel ministrava na pós-graduação da
Universidade de Toronto, ele lhe pareceu atraente porém frio, como uma estrela distante. Na
época, não acreditava que pudessem se tornar amantes. Achava impossível que o professor
temperamental e arrogante correspondesse a seu afeto.
Havia muitas coisas que ela não sabia. O sexo era uma forma de conhecimento, e agora ela sentia
uma pontada de ciúme que nunca havia experimentado. A simples ideia de que Gabriel havia feito
com outra mulher (no caso dele, com muitas outras) o que zera com ela lhe dava um aperto no
peito.
Ela sabia que os encontros de Gabriel eram diferentes do que eles haviam compartilhado –
aventuras que nada tinham a ver com amor ou afeto. Mas ele despira aquelas mulheres, vira-as nuas
e as penetrara. Quantas delas não desejaram mais depois de terem estado com ele? Paulina havia
desejado. Ela e Gabriel tinham mantido contato ao longo dos anos, desde que perderam o bebê
deles.
A nova maneira de Julia encarar o sexo mudou sua compreensão do passado dele e a tornou mais
solidária com o drama de Paulina. E ainda mais precavida contra perder Gabriel para ela ou para
qualquer outra mulher.
Sentindo-se invadida por uma onda de insegurança, Julia se agarrou a uma das pias do banheiro.
Gabriel a amava, ela acreditava nisso. Mas também era um cavalheiro e por isso jamais revelaria que
a relação deles o deixara insatisfeito. E quanto ao seu próprio comportamento? Ela havia feito
perguntas e falado em momentos nos quais imaginava que a maioria das amantes teria ficado calada.
Tinha feito muito pouco para agradá-lo e, quando tentou, ele a impedira.
Julia voltou a ouvir as palavras do seu ex-namorado, girando em sua mente como gritos de
condenação:
Você é frígida. Vai ser péssima de cama.
Ela deu as costas para o espelho, re etindo sobre o que poderia acontecer se Gabriel estivesse
insatisfeito com ela. O espectro da traição mostrou sua cabeça malé ca, trazendo consigo visões de
quando ela encontrou Simon na cama com sua colega de quarto.
Ela empertigou os ombros. Estava confiante de que, se convencesse Gabriel a ser paciente e ensiná-
la, poderia dar prazer a ele. Gabriel a amava e lhe daria uma chance. Ela pertencia a ele, como se
seu nome estivesse gravado a ferro e fogo na pele dela.
Quando saiu do banheiro, ela o viu através da porta aberta do terraço. No caminho, se distraiu
com um belo vaso de ores roxo-escuras e lírios mais claros, matizados, em cima da mesa. Alguns
amantes teriam comprado rosas vermelhas de caules longos, mas Gabriel, não.
Ela abriu o cartão que estava aninhado entre as flores.
Minha querida Julianne,
Obrigado pelo seu inestimável presente.
A única coisa que tenho de valor é o meu coração.
Ele é seu,
Gabriel.
Julia releu o cartão duas vezes, seu coração in ando de amor e alívio. As palavras de Gabriel não
pareciam as de um homem insatisfeito ou frustrado. Quaisquer que fossem suas a ições, Gabriel
não parecia compartilhar delas.
Ele estava tomando sol no futon, sem os óculos, com o peito exposto. Com seu corpo musculoso,
de quase 1,90 metro de altura, era como se o próprio Apolo tivesse se dignado a lhe fazer uma
visita. Notando sua presença no terraço, ele abriu os olhos e deu um tapinha no próprio colo. Julia
se juntou a ele, que a abraçou e beijou apaixonadamente.
– Ora, ora. Olá – murmurou ele, afastando do rosto dela um cacho solto. Ele a analisou com
atenção. – Qual é o problema?
– Nada. Obrigada pelas flores. São lindas.
Ele roçou os lábios nos dela.
– Não tem de quê. Você parece preocupada. É por causa de Paulina?
– Estou chateada por ela ligar para você, mas não é isso. – O rosto de Julia se iluminou. –
Obrigada pelo cartão. Ele diz o que eu precisava desesperadamente ouvir.
– Fico feliz. – Ele a abraçou mais apertado. – O que está incomodando você?
Julia remexeu no cinto do roupão por alguns instantes, até que Gabriel pegou a mão dela. Ela o
encarou.
– A noite de ontem foi o que você esperava?
Gabriel expirou com força, surpreso com a pergunta.
– Por que isso?
– Sei que deveria ter sido diferente para você. Eu não fui muito... ativa.
– Ativa? Do que você está falando?
– Não fiz muita coisa para lhe dar prazer. – Ela ficou vermelha.
Ele acariciou sua pele de leve com a ponta de um dedo.
– Você me deu muito prazer. Sei que estava nervosa, mas desfrutei imensamente de tudo.
Pertencemos um ao outro agora, em todos os sentidos. O que mais a está perturbando?
– Exigi que trocássemos de posição quando você preferia que eu ficasse por cima.
– Você não exigiu nada, você pediu. Para ser sincero, Julianne, eu gostaria de ouvi-la exigir coisas
de mim. Quero saber que você me deseja tão loucamente quanto eu a desejo. – A expressão de
Gabriel relaxou e ele desenhou círculos em volta dos seios dela. – Você sonhava que nossa primeira
vez fosse de uma determinada maneira. Eu quis lhe dar isso, mas estava preocupado. E se você se
sentisse desconfortável? E se eu não fosse cuidadoso o su ciente? A noite passada foi uma primeira
vez para mim também.
Ele a soltou, serviu café e leite vaporizado de duas jarras separadas numa xícara para preparar um
latte e pousou a bandeja de comida na banqueta entre os dois. Havia folhados e frutas, torradas e
Nutella, ovos cozidos e queijo, vários Baci Perugina que Gabriel havia subornado um funcionário do
hotel para que fosse comprar, além do extravagante buquê de lírios do Giardino dell’Iris.
Julia desembrulhou um dos Baci e o comeu, fechando os olhos de prazer.
– Você pediu um banquete – comentou.
– Acordei faminto hoje. Teria esperado você, mas... – Ele balançou a cabeça enquanto pegava uma
uva e a encarava com um olhar faiscante. – Abra a boca.
Julia obedeceu e ele pôs delicadamente a uva, correndo o dedo de forma tentadora por seu lábio
inferior.
– Você precisa beber isto, por favor.
Ele lhe entregou uma taça de suco de cranberry com água tônica.
Ela revirou os olhos.
– Você é superprotetor.
Ele balançou a cabeça.
– É assim que um homem se comporta quando está apaixonado e quer que sua amada que bem-
disposta para todo o sexo que planeja fazer com ela.
Ele lhe deu uma piscadela convencida.
– Não vou perguntar como você sabe sobre esse tipo de coisa. Dê isso aqui.
Ela pegou a taça da mão dele e bebeu o suco, os olhos fixos nos de Gabriel, que ria.
– Você é adorável.
Ela lhe mostrou a língua antes de montar um prato de café da manhã.
– Como está se sentindo hoje? – perguntou Gabriel com ar de preocupação.
Ela comeu um pedaço de queijo Fontina.
– Bem.
Ele apertou os lábios com força, como se a resposta dela o desagradasse.
– Fazer amor muda as coisas entre um homem e uma mulher – disse ele, instigando-a.
Ela perdeu a cor na mesma hora.
– Hum... você não está feliz com o que nós fizemos?
– É claro que estou. Quero descobrir se você está. E, pelo que me disse até o momento, estou
preocupado que não esteja.
Julia brincou com o tecido do seu roupão, evitando o olhar perscrutador de Gabriel.
– Quando eu estava na faculdade, as garotas que moravam no meu andar costumavam se juntar
para falar dos namorados. Uma noite, contaram histórias sobre a primeira vez delas. – Ela
mordiscou a ponta de um dos seus dedos. – Poucas tinham coisas boas a dizer. A maioria das
histórias era terrível. Uma tinha sofrido abuso sexual quando criança. Outras haviam sido forçadas
pelo namorado ou pelo cara com quem estavam saindo. Várias disseram que a primeira vez tinha
sido desastrosa e decepcionante: um namorado gemendo e terminando rápido demais. Eu pensava
que, se isso era o máximo que poderia esperar, seria melhor continuar virgem.
– Que coisa horrível.
Ela ficou olhando fixamente para a bandeja de café.
– Eu queria ser amada. Decidi que seria melhor ter uma relação casta, afetuosa e intelectual, por
meio de cartas, do que um relacionamento sexual. Tinha minhas dúvidas se algum dia encontraria
alguém capaz de me dar as duas coisas. Simon certamente não me amava. E, agora que estou numa
relação com um deus do sexo, não posso lhe oferecer nada parecido com o prazer que ele me dá.
Gabriel arqueou as sobrancelhas.
– Deus do sexo? Não é a primeira vez que você diz isso, mas, acredite, não sou...
Ela o interrompeu, olhando bem fundo nos seus olhos:
– Por favor, me ensine. Tenho certeza de que a noite de ontem não foi tão, hum... satisfatória
quanto costuma ser para você, mas prometo que, se tiver paciência comigo, irei melhorar.
Ele praguejou disfarçadamente.
– Venha cá.
Gabriel a puxou, fazendo-a contornar a bandeja, e tornou a sentá-la em seu colo, envolvendo-a
com os braços. Ficou calado por alguns instantes antes de suspirar com força.
– Você acha que as minhas relações anteriores foram totalmente satisfatórias, mas está enganada.
Você me deu algo que eu nunca tive: amor e sexo juntos. Foi minha única amante no verdadeiro
sentido da palavra.
Ele a beijou com carinho, como se confirmasse de forma solene o que dizia.
– A expectativa e os encantos de uma mulher são cruciais para a experiência. Posso dizer sem
medo que nunca tive nada parecido com os seus encantos e nunca experimentei tamanha
expectativa. Acrescente a isso a experiência de fazer amor pela primeira vez... Faltam-me palavras.
Ela assentiu, mas algo no seu gesto o inquietou.
– Juro que não estou bajulando você. – Ele fez uma pausa, como se ponderasse bem o que diria em
seguida. – Sob o risco de parecer um Neandertal, talvez eu deva lhe dizer que sua inocência é
extremamente erótica. A ideia de que eu possa ser o homem que irá lhe ensinar sobre sexo... de que
alguém tão recatada seja também tão passional... – Ele deixou a frase no ar, encarando-a com um
olhar intenso. – Você poderia se tornar mais habilidosa na arte do amor se aprendesse novos
truques e novas posições, mas não pode se tornar mais atraente ou mais sexualmente satisfatória.
Não para mim.
Julia se inclinou para a frente e o beijou.
– Obrigada por cuidar tão bem de mim ontem à noite – sussurrou ela, corando.
– Quanto a Paulina, deixe que eu me preocupe com ela. Por favor, esqueça que ela existe.
Julia voltou sua atenção para o seu café da manhã intocado, resistindo ao impulso de discutir com
ele.
– Não quer me contar sobre a sua primeira vez?
– Acho melhor não.
Ela se ocupou com um folhado enquanto tentava pensar num assunto mais seguro. As agruras
financeiras da Europa logo lhe vieram à mente.
Ele esfregou os olhos com as mãos, cobrindo-os por alguns instantes. Sabia que seria muito fácil
mentir, mas, depois de tudo o que Julia lhe dera, ela merecia conhecer seus segredos.
– Você se lembra de Jamie Roberts?
– Claro.
Gabriel baixou as mãos.
– Foi com ela que perdi a virgindade.
Julia arqueou as sobrancelhas. Jamais gostara de Jamie e de sua mãe controladora, que nunca
tinham sido muito simpáticas com ela. Nem imaginava que a agente Roberts, que tinha investigado
a agressão de Simon contra ela um mês antes, pudesse ter sido a primeira mulher de Gabriel.
– Não foi a melhor experiência do mundo – falou ele, baixinho. – Na verdade, diria que foi até
traumatizante. Eu não a amava. Havia certa atração, é claro, mas nenhum afeto verdadeiro. Nós
estudamos juntos no ensino médio. Um belo dia, ela se sentou do meu lado na aula de história. –
Gabriel deu de ombros. – Começamos a ertar e a dar uns amassos depois da escola e, com o passar
do tempo... – Gabriel fez uma pausa antes de prosseguir: – Jamie era virgem, mas mentiu sobre isso.
Não fui nada cuidadoso com ela. Fui egoísta e estúpido. – Ele praguejou. – Ela disse que não tinha
machucado muito, mas vi sangue depois. Fiquei me sentindo um animal e me arrependi para
sempre do que havia acontecido. – Gabriel se encolheu e Julia sentiu a culpa irradiar do seu corpo.
Sua descrição dos fatos quase lhe embrulhou o estômago, mas também explicava muita coisa.
– Que terrível. Sinto muito. – Ela apertou sua mão. – É por isso que estava tão preocupado ontem
à noite?
Ele assentiu.
– Ela enganou você – disse Julia.
– Meu comportamento foi indesculpável, mesmo depois. – Ele pigarreou. – Ela achou que
tivéssemos um relacionamento, mas eu não estava interessado. O que só piorou as coisas, é claro. Eu
evoluí de um simples animal para um animal babaca. Fazia anos que eu não falava com ela. Quando
a encontrei, no Dia de Ação de Graças, pedi que me perdoasse. Ela foi extremamente gentil. Sempre
me senti culpado por tê-la tratado mal. Mantive distância de virgens desde então. – Ele engoliu em
seco. – Até ontem à noite. Primeiras vezes deveriam ser doces, mas quase nunca são. Enquanto você
estava preocupada em me dar prazer, eu estava preocupado em lhe dar prazer também. Talvez tenha
sido cauteloso demais, superprotetor, mas nunca me perdoaria se machucasse você.
Julia deixou o café da manhã de lado e acariciou o rosto dele.
– Você foi muito gentil e generoso. Nunca senti tanta alegria na vida, e isso porque você me amou
não apenas com o seu corpo. Obrigada.
Como se quisesse provar que ela estava certa, Gabriel a beijou com intensidade. Julia gemeu
quando as mãos dele se emaranharam em seus cabelos. Ela passou os braços em volta do pescoço
dele. Gabriel deslizou as mãos entre seus corpos até a parte da frente do roupão dela, abrindo-o
com hesitação. Ele ergueu a cabeça, uma pergunta em seus olhos.
Ela assentiu.
Ele começou a beijar de leve seu pescoço e subiu para puxar o lóbulo da sua orelha com a boca.
– Como está se sentindo?
– Ótima – sussurrou ela enquanto os lábios de Gabriel deslizavam por seu pescoço.
Ele se moveu para que pudesse ver o rosto dela, deslizando uma das mãos até descansar sobre a
parte de baixo do seu abdome.
– Está doendo?
– Um pouco.
– Então é melhor esperarmos.
– Não!
Ele riu, seus lábios se abrindo no sorriso sedutor característico.
– Ontem à noite você estava falando sério quando disse que queria fazer amor aqui fora?
Ela estremeceu diante da maneira como a voz dele a incendiava, mas retribuiu o sorriso,
enroscando os dedos pelos seus cabelos e puxando-o para mais perto. Gabriel abriu o roupão dela e
começou a explorar suas curvas com as duas mãos antes de descer a boca para beijar seus seios.
– Você cou tímida comigo hoje de manhã. – Ele plantou um beijo reverente na altura do coração
dela. – O que mudou?
Julia esfregou o rosto na pequena covinha no queixo dele.
– Acho que sempre vou car um pouco encabulada por estar nua. Mas quero você. Quero que olhe
nos meus olhos e diga que me ama enquanto se move dentro de mim. Vou me lembrar disso até o
dia em que eu morrer.
– Eu não vou deixá-la esquecer – sussurrou ele.
Ele a despiu e a deitou de costas.
– Está com frio?
– Não nos seus braços – sussurrou ela, sorrindo. – Não prefere que eu que em cima? Gostaria de
experimentar.
Ele arrancou seu próprio roupão e a cueca samba-canção e cobriu o corpo de Julia com o seu,
pousando as mãos em suas faces.
– Alguém lá fora poderia ver você, querida. E isso seria inaceitável. Só eu posso ver este corpo
lindo. Embora os vizinhos e passantes talvez consigam ouvi-la... pela próxima hora, mais ou menos...
– Ele deu uma risadinha, enquanto ela respirava fundo, um tremor de prazer descendo até os dedos
dos seus pés.
Ele a beijou, afastando os cabelos do seu rosto.
– Meu objetivo é ver quantas vezes consigo satisfazê-la antes de não poder mais me conter.
Ela sorriu.
– Isso me parece muito bom.
– Também acho. Então, deixe-me ouvir você.
O céu azul ruborizou-se diante de tamanha paixão, enquanto, lá no alto, o sol orentino sorria,
aquecendo os amantes apesar da brisa suave. Ao lado deles, o café com leite de Julia cou frio e
aborrecido por ter sido tratado com tamanho desdém.
Após um breve cochilo, Julia pegou o MacBook de Gabriel emprestado a m de enviar um e-mail
para o pai. Havia duas mensagens importantes na sua caixa de entrada. A primeira era de Rachel.
Jules!
Tudo bem? Meu irmão está se comportando? Você já dormiu com ele? Sim, essa é uma pergunta TOTALMENTE indiscreta, mas a
verdade é que, se estivesse saindo com qualquer outra pessoa, você me contaria.
Não vou lhe dar nenhum conselho. Estou tentando não pensar muito no assunto. Só me diga que está f eliz e que ele a trata bem.
Aaron está mandando um abraço.
Bjs,
Rachel.
P.S.: Scott está de namorada nova. Ele tem f eito muito segredo, então não sei há quanto tempo eles estão juntos. Vivo
enchendo o saco dele para me apresentar a garota, mas ele se recusa.
Talvez ela seja prof essora.
Julia deu uma risadinha, feliz por Gabriel estar no banho e não lendo por cima de seu ombro. Ele
caria incomodado ao ver a irmã fazendo perguntas tão pessoais. Ela pensou por alguns instantes
antes de começar a digitar a resposta.
Oi, Rachel.
O hotel é lindo. Gabriel tem sido um doce. Ele me deu os brincos de diamantes da sua mãe. Você sabia disso?
Estou me sentindo culpada, então, se isso incomodar você de alguma f orma, por f avor, me avise.
Quanto à sua outra pergunta, sim. Gabriel me trata muito bem e estou MUITO f eliz .
Dê um abraço em Aaron por mim. Espero ansiosamente pelo Natal.
Bjs,
Julia.
P.S.: Espero que a namorada de Scott seja mesmo prof essora. Gabriel vai encher o saco dele.
O segundo e-mail era de Paul. Dava para ver que ele estava sofrendo por Julia, mas também se
sentia grato pelo fato de os dois continuarem amigos. Ele preferiria guardar seus sentimentos a
perdê-la por completo. E tinha que admitir que, desde que começara a namorar esse tal de Owen,
sua pele estava incrível.
(Não que ele fosse comentar isso, claro.)
Oi, Julia.
Desculpe não ter conseguido me despedir antes de você ir para casa. Espero que tenha um bom Natal. Tenho um presente para
você. Pode me dar seu endereço na Pensilvânia para eu enviá-lo?
Estou de volta à f az enda, tentando encontrar tempo para trabalhar na minha tese em meio a reuniões cheias de parentes e às
taref as para ajudar meu pai, que me obrigam a acordar muito cedo. Digo apenas que a minha rotina diária envolve bastante
esterco...
Posso levar algo de Vermont para você?
Uma Holstein, talvez ?
Feliz Natal,
Paul.
P.S.: Soube que Emerson aceitou a proposta de tese de Christa Peterson?
Parece que o Natal é mesmo uma época de milagres.
Julia cou olhando para a tela do computador, lendo e relendo o P.S. de Paul. Não sabia bem
como interpretá-lo. Talvez, pensou, Gabriel tivesse aceitado a proposta de Christa porque ela o
ameaçou.
Julia não queria trazer à tona um assunto tão desagradável durante as férias deles, mas aquela
notícia a perturbou. Ela escreveu uma breve resposta para Paul, dando-lhe seu endereço. Em
seguida mandou um e-mail para o pai, dizendo-lhe que Gabriel a estava tratando como se fosse uma
princesa. Depois fechou o laptop e suspirou.
Ouviu a voz de Gabriel atrás de si:
– Isso não me parece uma Julianne feliz.
– Acho que vou ignorar minha caixa de e-mails até o fim da viagem.
– Boa ideia.
Julia se virou e o viu parado diante dela, ainda molhado, com o cabelo despenteado e uma toalha
branca enrolada nos quadris.
– Você é lindo – disse ela sem pensar.
Gabriel riu e a puxou, fazendo com que ela se levantasse, para abraçá-la.
– Você tem uma queda por homens de toalha, Srta. Mitchell?
– Talvez por um homem em especial.
– Você está bem? – Ele ergueu as sobrancelhas, ansioso, com uma expressão voraz no rosto.
– Estou sentindo um pouco de desconforto, mas valeu a pena.
Ele estreitou os olhos.
– Precisa me avisar quando eu estiver machucando você, Julianne. Não esconda as coisas de mim.
Ela revirou os olhos.
– Gabriel, você não me machucou. É só um pequeno desconforto. Nem notei durante, porque tinha
outras coisas na cabeça: várias coisas. Você me distraiu, e muito.
Ele sorriu e beijou ruidosamente seu pescoço.
– Você precisa começar a me deixar distrair você no chuveiro. Estou cansado de tomar banho
sozinho.
– Parece uma ótima ideia. E você, como está?
Ele fingiu pensar na pergunta.
– Deixe-me ver, sexo quente e barulhento com minha amada entre quatro paredes e ao ar livre... É,
eu diria que estou ótimo.
Gabriel lhe deu um abraço apertado e o tecido de algodão da blusa de Julia absorveu algumas das
gotas na pele dele.
– Prometo que não vai ser sempre desconfortável. Com o tempo, seu corpo vai passar a me
reconhecer.
– Ele já reconhece. E sente sua falta – sussurrou ela.
Gabriel afastou a parte de cima do roupão dela e beijou seu ombro. Depois de abraçá-la com
carinho, ele foi até a cama, pegou um frasco de ibuprofeno e o entregou a ela.
– Tenho que ir até a Galleria degli U zi para uma reunião, depois vou buscar meu terno novo no
alfaiate. – Ele pareceu preocupado. – Você se importa de comprar seu vestido sozinha? Eu iria com
você, mas, por causa dessa reunião, não terei muito tempo livre...
– Nem um pouco.
– Se conseguir se arrumar em meia hora, podemos sair juntos.
Julia seguiu Gabriel até o banheiro. Já havia esquecido qualquer pensamento sobre Christa e Paul.
Depois do banho, ela parou para secar os cabelos diante de uma das pias do banheiro, enquanto
Gabriel se barbeava na outra. Ela se surpreendeu olhando para ele, observando-o fazer seus
preparativos para se barbear com uma precisão militar. Por m, desistiu de passar batom e apenas
ficou recostada na pia, assistindo.
Ele continuava nu até a cintura, a toalha bem baixa nos quadris. Seus olhos azuis brilhantes, muito
concentrados, se estreitavam por trás dos óculos de armação preta e seu cabelo úmido estava
penteado de forma impecável.
Julia conteve uma risada diante de sua obsessão pela perfeição. Gabriel usou um pincel com cabo
de madeira preto para misturar a espuma de barbear. Depois de espalhar a espuma no rosto, ele
usou um barbeador de metal.
(Para certos professores, aparelhos de barbear descartáveis não são bons o suficiente.)
– O que foi? – Ele se virou, notando que Julia o devorava com os olhos.
– Eu te amo.
A expressão no rosto dele ficou mais suave.
– Também te amo, querida.
– Você é a única pessoa que usa a palavra querida com tanta frequência.
– Isso não é verdade.
– Não?
– Richard chamava Grace assim – disse Gabriel, lançando-lhe um olhar triste.
– Richard é antiquado, no melhor sentido da palavra. – Ela sorriu. – Adoro o fato de você também
ser.
Gabriel bufou e voltou a se barbear.
– Se eu fosse tão antiquado, não teria feito amor com você ao ar livre. E não estaria fantasiando
em apresentá-la a algumas das minhas posições favoritas do Kama sutra. – Ele lhe deu uma
piscadela. – Mas sou um pretensioso de uma ga e tenho um temperamento dos diabos. Você vai ter
que me amansar.
– E como devo fazer isso, professor Emerson?
– Nunca me deixe. – Ele baixou o tom de voz e se virou para encará-la.
– Estou mais preocupada em perder você.
Gabriel se inclinou na direção de Julia e beijou sua testa.
– Não tem por que se preocupar.
CAPÍTULO DOIS
o sair do quarto, Julia sentia-se nervosa. Gabriel havia providenciado tudo para que ela zesse
Acompras em sua conta na loja Prada mais próxima. O vestido que escolhera era de tafetá de
seda azul Santorini, com gola V e sem mangas. O modelo em A tinha saia plissada e lembrava o tipo
de vestido que Grace Kelly usava na década de 1950. Ficava perfeito em Julia.
A gerente da loja havia sugerido alguns acessórios para modernizar o visual e Julia escolheu uma
elegante clutch de couro e um par de sapatos de verniz de salto agulha e cor de tangerina que achou
perigosamente altos. Uma pashmina preta completava o conjunto.
Hesitante, ela parou na sala de estar; seu cabelo cacheado estava solto; os olhos, cintilantes,
reluzentes. Ela usava os brincos de diamantes e o colar de pérolas que tinham sido de Grace.
Gabriel estava sentado no sofá, fazendo mudanças de última hora em suas anotações para a
palestra. Quando a viu, tirou os óculos e se levantou.
– Você está deslumbrante. – Ele beijou seu rosto e a girou para admirá-la. – Gostou do vestido?
– Adorei. Obrigada, Gabriel. Sei que custou uma fortuna.
Ele baixou os olhos para os sapatos de Julia.
– Algum problema? – perguntou ela.
Gabriel pigarreou, mantendo o olhar fixo nos pés dela.
– Hum... seus sapatos... eles são, ah...
– Bonitos. Não são? – Ela deu uma risadinha.
– São muito mais que bonitos. – A voz dele ficou embargada.
– Bem, professor Emerson, se eu gostar da sua palestra, talvez continue a usá-los mais tarde...
Gabriel ajeitou a gravata e abriu um sorriso convencido.
– Ah, vou garantir que você goste, Srta. Mitchell. Mesmo que precise repeti-la para você a sós, sob
as cobertas.
Ela ficou vermelha e Gabriel a tomou nos braços.
– Temos que ir – falou, dando um beijo em seus cabelos.
– Espere. Tenho um presente para você. – Ela foi ao quarto e voltou com uma pequena caixa com a
marca Prada estampada.
Ele pareceu surpreso.
– Não precisava.
– Mas eu quis.
Gabriel sorriu e abriu a tampa com cuidado. Ao afastar o papel de embrulho, encontrou uma
gravata de seda azul Santorini com uma estampa discreta.
– Adorei. Obrigado. – Ele deu um beijo no rosto de Julia.
– Combina com o meu vestido.
– Agora todos saberão que pertencemos um ao outro.
Na mesma hora ele tirou a gravata verde, jogou-a na mesinha de centro e começou a amarrar o
presente de Julia em volta do pescoço.
O terno era novo, feito sob encomenda pelo seu alfaiate preferido na Itália. Era preto, com uma
única leira de botões e fendas laterais. Julia cou muito admirada com o terno, porém mais ainda
com a figura atraente que o vestia.
Não há nada mais sexy do que ver um homem colocar uma gravata, pensou.
– Posso? – ofereceu-se, ao notar que Gabriel se atrapalhava por não estar diante de um espelho.
Ele assentiu e se inclinou para a frente, colocando as mãos em volta da sua cintura. Julia
endireitou a gravata e ajeitou o colarinho da camisa, correndo as mãos pela manga do paletó até
pousá-las sobre as abotoaduras em seus punhos.
Ele a encarou com um olhar curioso.
– Você ajeitou minha gravata no carro quando a levei para jantar no Antonio’s.
– Eu me lembro.
– Não há nada mais sexy do que ver a mulher que você ama ajeitando sua gravata. – Ele pegou as
mãos dela. – Nós passamos por muitas coisas desde aquela primeira noite.
Ela ficou na ponta dos pés para beijá-lo, tomando o cuidado de não borrá-lo com o batom.
Gabriel levou os lábios à orelha dela.
– Não sei como vou manter os homens longe de você esta noite. Fique perto de mim o tempo
todo.
Julia deu um gritinho quando ele a envolveu com os braços, erguendo-a para lhe dar um beijo de
verdade. Isso a obrigou a retocar o batom e, antes de sair, os dois tiveram que conferir a aparência
no espelho.
Gabriel segurou a mão de Julia durante a breve caminhada até a Galleria degli U zi e enquanto
eram conduzidos ao segundo piso por um senhor um tanto atarracado, que usava uma gravata-
borboleta de lã escocesa. Ele se apresentou como Lorenzo, assistente pessoal do dottore Vitali.
– Professore, sinto muito, mas preciso que o senhor me acompanhe. – Lorenzo correu os olhos de
Gabriel para Julia, detendo-se em suas mãos entrelaçadas.
Gabriel a apertou mais.
– É por causa do, como se diz?... na tela? PowerPoint? – explicou Lorenzo, gesticulando para o
salão atrás deles, onde os convidados já se reuniam.
– A Srta. Mitchell tem um lugar reservado – disse Gabriel em tom incisivo, irritado por Lorenzo a
estar ignorando.
– Sim, professore. Eu acompanharei a sua fidanzata pessoalmente. – Lorenzo fez um gesto
respeitoso com a cabeça na direção de Julia.
Ela abriu a boca para corrigir Lorenzo quanto àquele título, mas Gabriel beijou sua mão e em
seguida murmurou uma promessa, roçando os lábios em sua pele. Então ele foi embora e Julia foi
conduzida até o seu lugar de honra na primeira fila.
Ela olhou ao redor e notou a presença do que pareciam ser membros dos glitterati de Florença, a
elite da cidade, socializando com acadêmicos e dignitários locais. Julia correu as mãos pela saia do
vestido, deliciando-se com o farfalhar do tecido sob seus dedos. Considerando a aparência dos
demais convidados e a presença de um bando de fotógrafos, cou feliz por estar bem-vestida. Não
queria constranger Gabriel numa ocasião tão importante.
A palestra seria dada no Salão Botticelli, que era dedicado às obras mais ilustres do artista. O
púlpito havia sido colocado entre O nascimento de Vênus e a Madona da romã, enquanto o quadro
A primavera podia ser visto à direita da plateia. As obras na parede esquerda tinham sido retiradas
para dar lugar a uma tela grande, na qual a apresentação de Gabriel seria projetada.
Ela sabia quanto era incomum que houvesse uma palestra em um lugar tão especial e, em silêncio,
fez uma prece de agradecimento por aquela incrível bênção. Ela havia cursado o último ano de
faculdade em Florença e costumava ir ao Salão Botticelli pelo menos uma vez por semana, às vezes
mais. Achava sua obra ao mesmo tempo reconfortante e inspiradora. Como uma universitária
americana tímida, jamais teria imaginado que, dois anos depois, voltaria àquele salão como
acompanhante de um especialista em Dante mundialmente renomado. Sentia-se como se tivesse
ganhado mil vezes na loteria.
Mais de cem pessoas lotavam o recinto e algumas tiveram que car de pé no fundo do salão. Julia
observou Gabriel ser apresentado a vários convidados que aparentavam ser importantes. Ele era um
homem muito atraente, alto, de uma beleza rústica. Ela admirava especialmente os seus óculos e a
maneira como seu terno escuro e elegante lhe caía com perfeição.
Quando algumas pessoas se puseram entre os dois, bloqueando o campo de visão de Julia, ela se
concentrou na voz de Gabriel. Ele conversava com cordialidade, alternando sem hesitação italiano,
francês e alemão.
(Ele era sexy até falando alemão.)
Ela cou excitada ao se lembrar de como Gabriel era por baixo do terno, seu corpo nu sobre o
dela. Julia se perguntou se ele também teria esse tipo de pensamento quando a olhava. Ainda
perdida em suas re exões, seus olhares se cruzaram e Gabriel piscou para ela. Essa breve
demonstração de bom humor fez a mente de Julia retornar àquela manhã, quando os dois estavam
no terraço, e um tremor de prazer percorreu sua espinha de alto a baixo.
Gabriel permaneceu sentado enquanto o dottore Vitali o apresentava, relatando de forma
minuciosa, ao longo de nada menos do que quinze minutos, as façanhas do professor. Para o
observador casual, Gabriel parecia relaxado, quase entediado. A única coisa que entregava seu
nervosismo era o fato de ele car remexendo, sem perceber, as anotações que zera para a palestra
– e que não passavam de um roteiro para as observações que ele já sabia de cor. Gabriel tinha feito
mudanças de última hora em seu texto. Não poderia falar de musas, amor e beleza sem fazer menção
ao anjo de olhos castanhos que havia se entregado bravamente a ele na noite anterior. Desde que ela
tinha apenas 17 anos vinha sendo sua inspiração. Sua beleza discreta e generosidade haviam tocado
o coração dele. Gabriel guardara sua imagem como um talismã contra os demônios sombrios do
vício. Ela era tudo para Gabriel e Deus era testemunha de que ele estava prestes a declarar isso em
público.
Depois de muitos louvores e aplausos, ele assumiu sua posição atrás do púlpito e se dirigiu à
plateia em italiano fluente:
– Minha palestra esta noite será um tanto incomum. Embora eu não seja historiador da arte,
falarei sobre a musa de Sandro Botticelli, La Bella Simonetta. – Neste instante, os olhos dele
buscaram os de Julia.
Ela sorriu, tentando conter o rubor que ameaçava se espalhar pelas suas faces. Conhecia a história
de Botticelli e Simonetta Vespucci. Simonetta era chamada de A Rainha da Beleza na corte de
Florença, antes de morrer à tenra idade de 22 anos. O fato de Gabriel compará-la a Simonetta era
um elogio e tanto.
– Abordarei esse tópico polêmico como professor de literatura, analisando a obra de Botticelli
como uma representação de vários arquétipos femininos. Historicamente falando, há muitas
controvérsias quanto ao grau de intimidade entre Simonetta e Botticelli e até que ponto ela de fato
inspirou sua obra. Espero conseguir contornar algumas dessas divergências para que vocês possam
se concentrar numa comparação visual direta de algumas imagens. Começarei com três slides nos
quais vocês reconhecerão ilustrações a bico de pena de Dante e Beatriz no Paraíso.
Gabriel não pôde deixar de admirar ele próprio as imagens, pois se viu transportado de volta ao
dia em que recebera Julianne em sua casa pela primeira vez. Foi naquela noite que percebeu quanto
queria lhe dar prazer e como ela ficava bonita quando estava feliz.
Enquanto observava a serenidade da expressão de Beatriz, comparava o semblante dela ao de Julia
– seu lindo per l compenetrado admirando o desenho de Botticelli. Gabriel queria fazê-la olhar
para ele.
– Notem o rosto de Beatriz. – Sua voz cou mais suave quando seus olhos encontraram os de sua
amada. – Um rosto de extraordinária beleza... Comecemos com a musa de Dante e com a gura de
Beatriz. Embora ela dispense apresentações, permitam-me observar que Beatriz representa o amor
cortês, a inspiração poética, a fé, a esperança e a caridade. Ela é o ideal de perfeição feminina: ao
mesmo tempo inteligente e compassiva, repleta do tipo de amor altruísta que só pode vir de Deus.
Ela inspira Dante a ser um homem melhor.
Gabriel se interrompeu por alguns instantes e remexeu na gravata. Ela não precisava ser ajeitada,
mas ainda assim os dedos dele se demoraram sobre a seda azul. Diante daquele gesto, Julia deu uma
piscadela e Gabriel soube que ela havia entendido.
– Agora observem o rosto da deusa Vênus.
Todos os olhos no salão, exceto os de Gabriel, se voltaram para O nascimento de Vênus . Ele
consultou avidamente suas anotações enquanto a plateia admirava uma das mais ilustres obras de
Botticelli.
– Vênus parece ter o rosto de Beatriz. Mais uma vez, não estou interessado em uma análise
histórica das modelos dos quadros. Peço apenas que notem as semelhanças entre as duas guras.
Elas representam duas musas, dois tipos ideais, um teológico e outro secular. Beatriz é a amante da
alma; Vênus é a amante do corpo. La Bella de Botticelli possui ambos os rostos: o do amor
sacrifical, ou ágape, e o do amor sensual, ou eros.
A voz dele ficou mais grave e, ao ouvi-la, Julia sentiu sua pele se aquecer.
– Na representação de Vênus, a ênfase está em sua beleza física. Embora represente o amor sexual,
ela se mantém recatada, cobrindo-se com os cabelos. Percebam a expressão tímida e a mão
posicionada sobre o peito. Sua timidez aumenta o erotismo do retrato, em vez de diminuí-lo. – Ele
tirou os óculos para acrescentar um efeito dramático às suas palavras e xou o olhar em Julia. –
Muitos não conseguem ver quanto o recato e a delicadeza podem intensificar o apelo erótico.
Julia brincou com o zíper da bolsa, resistindo ao impulso de se remexer na cadeira. Gabriel tornou
a pôr os óculos.
– Eros não é sinônimo de luxúria. A luxúria é um dos sete pecados capitais. O amor erótico pode
incluir sexo, mas não se limita a ele. Eros é o fogo voraz da paixão e do afeto que se expressa na
emoção de estar-se apaixonado. E posso garantir que ele supera todos os rivais.
Julia não pôde deixar de notar a maneira desdenhosa como ele pronunciou a palavra rivais,
fazendo um gesto com a mão para dar ênfase. Era como se estivesse descartando todas as suas
amantes anteriores com um só movimento, enquanto mantinha os olhos azuis fixos nela.
– Qualquer um que já tenha se apaixonado sabe a diferença entre eros e luxúria. Não há
comparação. Esta é a sombra vazia e insatisfatória daquele. É claro que se pode contra-argumentar
que nenhuma pessoa, nenhuma mulher, seria capaz de representar tanto o ideal do ágape quanto o
do eros. Perdoem-me, mas acho que esse ceticismo é uma forma de misoginia. Apenas um misógino
defenderia que mulheres são santas ou sedutoras, virgens ou prostitutas. É claro que uma mulher,
ou um homem, pode ser ambos: a musa pode ser a amante tanto do corpo quanto da alma.
Ele fez uma breve pausa.
– Agora vejamos a pintura que está atrás de mim, intitulada Madona da romã.
A plateia voltou o olhar para o outro quadro de Botticelli. Satisfeito, Gabriel notou a maneira
como Julia tocou um de seus brincos de diamantes, como se tivesse compreendido suas revelações e
as aceitasse de bom grado. Como se entendesse que ele estava revelando seu amor por ela por meio
da arte. Seu coração inflou no peito.
– Aqui também vemos o mesmo rosto repetido na gura da Madona. Beatriz, Vênus e Maria: a
trindade das mulheres ideais, todas com o mesmo rosto. Ágape, eros e castidade, uma combinação
inebriante capaz de pôr de joelhos até o mais forte dos homens, se ele tivesse a sorte de encontrar
alguém que manifestasse essas três facetas.
Ouviu-se uma tosse suspeita, como se tentasse disfarçar um comentário sarcástico. Irritado com a
interrupção, Gabriel fez uma careta para um ponto da segunda leira, por sobre o ombro de Julia.
A tosse se repetiu, com um efeito mais dramático, e dois pares de olhos se enfrentaram num duelo
carregado de testosterona entre o professor e um italiano claramente incomodado.
Consciente de que usava um microfone, Gabriel resistiu à tentação de praguejar e, fuzilando seu
desafiante com os olhos, prosseguiu:
– Há quem defenda que foi uma romã, e não uma maçã, que tentou Eva no Jardim do Éden. No
caso do quadro de Botticelli, muitos disseram que a romã simboliza o sangue de Cristo em seu
sofrimento e em sua subsequente vida nova por meio da ressurreição. Na minha interpretação, a
romã representa o fruto edênico, a Madona é uma segunda Eva, e Cristo, um segundo Adão. Com
essa Madona, Botticelli remonta à primeira Eva, o arquétipo da feminilidade, beleza e companhia
feminina. Mais do que isso, afirmo que Eva também é o ideal de amizade feminina, a amiga de Adão,
sendo, portanto, o ideal de philia, o amor que nasce da amizade. A amizade entre Maria e José
também revela esse ideal.
A voz de Gabriel falhou e ele precisou tomar um pouco de água antes de continuar. Algo na
comparação entre Julia e Eva fez com que ele se sentisse vulnerável, nu, levando-o de volta à noite
em que lhe oferecera uma maçã e a mantivera em seus braços, sob as estrelas.
Um burburinho começou a se espalhar pela plateia, que se perguntava por que uma pausa para um
copo d’água havia se tornado uma interrupção tão longa. Gabriel enrubesceu ao erguer os olhos
para fitar novamente sua amada, desesperado pela sua compreensão.
Os lábios de Julia, da cor de um rubi, se abriram em um sorriso encorajador. Gabriel suspirou.
– A musa de Botticelli é uma santa, amante e amiga, não uma representação unidimensional de
uma mulher ou uma fantasia adolescente. Ela é real, complexa e in nitamente fascinante. Uma
mulher a ser adorada. Como vocês sabem, a precisão da língua grega nos permite falar de forma
mais clara sobre os diferentes tipos de amor. Se estiverem interessados, poderão encontrar uma
abordagem moderna dessa discussão no livro Os quatro amores, de C. S. Lewis.
Ele pigarreou e abriu um sorriso triunfante para o salão.
– Por m, observemos a pintura à minha esquerda, A primavera. Era de se esperar que o rosto da
musa de Botticelli estivesse re etido na gura central do quadro. Mas vejam o rosto de Flora, à
direita. Ela guarda uma semelhança com a Madona, Vênus e Beatriz. O mais surpreendente, no
entanto, é que Flora aparece duas vezes na pintura. Se olharmos do centro do quadro para a direita,
podemos vê-la grávida do lho de Zé ro. Zé ro está na extremidade direita, pairando entre as
laranjeiras com uma segunda representação de Flora, como uma ninfa virgem. A expressão dela é
marcada pelo medo. Ela foge dos braços de seu futuro amante, olhando para trás, apavorada.
Quando aparece grávida, porém, seu semblante é sereno. O medo é substituído pelo
contentamento.
Julia ruborizou-se ao se lembrar de como Gabriel tinha sido gentil com ela na noite anterior. Ele a
havia tratado com ternura e carinho e, nos seus braços, ela se sentira venerada. Estremeceu ao
pensar no mito de Flora e Zé ro, desejando que todos os amantes fossem tão carinhosos com suas
parceiras virgens quanto Gabriel havia sido com ela.
– Flora representa a consumação do amor físico e da maternidade. Ela é o ideal do storge, o amor
familiar ou companheiro, o tipo de amor que uma mãe sente pelo lho ou que existe entre amantes
que têm um compromisso não baseado apenas no sexo e no prazer, mas também no
companheirismo conjugal.
Somente Julia notou os nós dos dedos de Gabriel carem brancos quando ele agarrou o púlpito
com as duas mãos. Só ela percebeu o pequeno tremor em sua voz quando ele pronunciou as palavras
grávida e maternidade.
Ele franziu as sobrancelhas e, recompondo-se, remexeu nos papéis por alguns instantes. Julia
conhecia o motivo de sua vulnerabilidade e precisou lutar contra o impulso de ir até ele e abraçá-
lo. Começou a bater com o salto agulha de um de seus sapatos cor de tangerina no chão, ansiosa.
Gabriel notou o movimento repentino dela e engoliu em seco antes de prosseguir:
– Nos primeiros escritos sobre A primavera, a rmava-se que Flora se assemelhava a La Bella
Simonetta, a musa de Botticelli. Se isso for verdade, podemos dizer, com base apenas em uma
avaliação visual, que Simonetta serviu também de inspiração para a Madona, Vênus e Beatriz, pois
todas compartilham do mesmo rosto. Dessa forma, temos os ícones do ágape, do eros, da philia e do
storge representados todos num só rosto, numa só mulher: Simonetta. Em outras palavras,
poderíamos sugerir que Botticelli vê em sua musa todos os quatro tipos de amor e todos os quatro
ideais de feminilidade: santa, amante, amiga e esposa. No m das contas, contudo, devo voltar para
onde comecei, com Beatriz. Não é coincidência que a inspiração por trás de uma das obras literárias
mais famosas da Itália tenha recebido os traços de Simonetta. Diante de tamanha beleza, de
tamanha bondade, que homem não iria querê-la ao seu lado não só por uma estação, mas por toda a
vida?
Ele correu os olhos pelo salão, sério.
– Nas palavras do poeta: Eis que surge sua bem-aventurança. Obrigado.
Quando Gabriel encerrou sua palestra, recebendo aplausos entusiasmados, Julia teve que piscar
algumas vezes para conter as lágrimas, tomada pela emoção.
O dottore Vitali voltou ao palanque, apresentando seus agradecimentos ao professor Emerson por
suas palavras esclarecedoras. Um pequeno grupo de políticos locais lhe ofereceu vários presentes,
incluindo um medalhão que representava a cidade de Florença.
Julia continuou em seu lugar pelo máximo de tempo possível, esperando que Gabriel fosse até ela.
Mas ele estava ocupado demais com muitos dos membros da plateia, entre eles vários historiadores
da arte inconvenientes.
(Era uma audácia, se não puro narcisismo, que um reles professor de literatura analisasse as peças
mais valiosas da coleção da Galleria degli U zi.) Relutante, ela o seguiu enquanto jornalistas o
enchiam de perguntas. Julia cruzou olhares com ele, que lhe abriu um sorriso tenso de desculpas
antes de posar para fotos.
Frustrada, ela vagou por alguns dos salões contíguos, admirando as obras até chegar a uma de suas
favoritas, A anunciação, de Leonardo da Vinci. Estava perto do quadro, perto demais, na verdade,
observando os detalhes da peça de mármore, quando uma voz em italiano soou em seu ouvido: –
Gosta deste quadro?